//ANÁLISE// Viver de atritos

                                                                                                                                          


Fernando Pesciotta



O mercado financeiro tem ignorado a crise político-militar criada por Bolsonaro. A alegação de economistas e presidentes de bancos que operam na Bolsa é de que os últimos movimentos o fortalecem, atraem ainda mais o Centrão e, com isso, facilita o caminho das reformas.

Sendo assim, aquela carta divulgada há uma semana foi uma hipocrisia. O empresariado e, principalmente, o mercado financeiro não parecem de fato muito preocupados com o genocídio.

A crise dos últimos dias não é a primeira nem será a última criada pelo presidente genocida. Desde que tomou posse, ele prova dia após dia que não sabe fazer outra coisa que não seja viver na beligerância.

É criando alaridos que Bolsonaro pensa em desviar a atenção de uma enorme incompetência pessoal e coletiva do governo (?).

Também é com a criação de atritos e crises que Bolsonaro consegue unir sua milícia digital. Se não houver conflitos, não há razão para esses fanáticos manifestarem apoio ao bolsonarismo.

Qualquer banqueiro sabe ou deveria saber que não há a menor possibilidade de termos uma estabilidade política que impulsione as reformas que eles tanto desejam, com o objetivo de ganharem mais dinheiro.

A loucura de Bolsonaro não poupa nem a economia. A equipe de Paulo Guedes já sofreu ao menos 15 defenestrações e corre o risco de ter uma debandada geral se o Orçamento aprovado pelo Congresso for sancionado pelo presidente genocida.

A peça que entraria em vigor é um completo desarranjo. Guedes praticamente implorou para Bolsonaro vetar grande parte do Orçamento. Tem gente falando até em fazer tudo de novo, mesmo que já estejam com o primeiro trimestre fechado e o País continue sem um Orçamento sancionado.

Nos meios políticos, porém, a pressão é grande para que Bolsonaro sancione o texto como está. Afinal, é a quantidade de emendas parlamentares que levou o Orçamento a se transformar numa peça de ficção. O Centrão não quer mexer nisso. E se der problema lá na frente, a responsabilidade é do Executivo.

Com uma confusão desse tamanho, quem pode estar sendo sincero em dizer que o País ficou mais próximo das reformas?

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com                                                                      

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