//ANÁLISE// O significado da ameaça de morte à médica

                                                                                                                                


Fernando Pesciotta


Como previsto, Jair Bolsonaro se convenceu de que a nova conjuntura política exigia a troca do ministro da Saúde. A indicação do médico Marcelo Queiroga, porém, não vai mudar nada.

A condição para o cargo é adotar um discurso crítico ao isolamento social e defender tratamento com medicamentos sem eficácia comprovada. Queiroga assumiu esse compromisso, conforme explicitou em entrevista à CNN. Não vai mudar nada.

A história relatada pela médica Ludmila Hajjar confirma essa narrativa. Bolsonaro não vai deixar mudar nada.

Conceituada e reconhecida pela atuação na linha de frente de combate à pandemia, Ludhmila disse que sofreu ataques, o hotel em que estava hospedada em Brasília teve três tentativas de invasão e recebeu ameaça de morte.

Isso porque foi indicada por lideranças políticas e tinha o apoio de ministros do STF, vários deles seus pacientes. Defensora da ciência, contrária a tratamentos macumbeiros, como aqueles defendidos pelo bolsonarismo, ela percebeu que nesse governo o cenário é “sombrio”.

A conversa relatada por ela é reveladora. Bolsonaro queria saber sua opinião sobre armas e aborto. E a questionou sobre isolamento na pandemia. “Se fizer lockdown no Nordeste, você me fode e eu perco a eleição”, disse, para espanto da médica, mas sem nos surpreender.

Sobre a ameaça de morte, Bolsonaro respondeu que isso “faz parte”. Assim, o presidente indica a seus seguidores que estão liberados para atacar qualquer um que se colocar contrário a suas ideias. Vale até matar.

Segundo o Estadão, os ataques e a ameaça de morte à médica foram articulados por grupos “ideológicos” do governo que estão sob orientação da família Bolsonaro.

É isso: sempre a família. O capitão cloroquina optou pela indicação de um nome da confiança de seu filho Flávio Bolsonaro. Isso tem um significado importante. É mais um sinal de que quem queira ter influência no governo deve procurar a família Bolsonaro.

Diante das últimas denúncias de corrupção, dá para entender o recado. Mas diante das quase 280 mil mortes, soa macabro.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com                                                                      

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