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Fátima Fernandes
Se existe um setor que não pode se queixar da pandemia do novo coronavírus, e os seus efeitos, é o de supermercados.
No Estado de São Paulo, o faturamento do setor atingiu cerca de R$ 108 bilhões em 2020, o que representou um crescimento real de 2,32% sobre 2019.
O resultado é o segundo melhor da serie histórica desde 2014, de acordo com a Apas (Associação Paulista de Supermercados).
O saldo líquido entre empregados e desempregados no setor ficou positivo em 18,7 mil, número 46,5% maior do que o de 2019, e melhor também desde 2014.
Somente em dezembro, foram criadas 4,5 mil vagas. As contratações aconteceram em todos os canais de vendas. O setor emprega hoje 566 mil pessoas.
Até os mercadinhos que, durante décadas, foram perdendo espaço com a invasão de médias e grandes redes em bairros, se saíram bem.
Em 2020, aqueles, claro, do grupo que conseguiu manter algum fôlego financeiro, contrataram 3.362 pessoas, número recorde para um ano.
Em dezembro do ano passado eles abriram 687 vagas, mais do que os atacados e atacarejos (457) e os hortifrútis (327).
Os números foram divulgados pela Apas, com base em dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho.
O Sincovaga, sindicato que reúne o pequeno varejo paulista de gêneros alimentícios, já possui dados mais negativos sobre o setor.
Pelo menos 35% das cerca de 60 mil empresas inscritas no sindicato, deixaram de pagar a contribuição sindical ou associativa durante a pandemia.
“Um sinal de que deixaram de existir ou simplesmente não têm mais condições financeiras de pagar. A pandemia trouxe troca de mão de obra mais cara por mais barata”, diz Álvaro Furtado, presidente do sindicato.
A necessidade de ficar em casa, somada às restrições de funcionamento de lojas, shoppings e restaurantes, explica boa parte da expansão do setor de supermercados.
Em maio e junho do ano passado, o faturamento dos supermercados paulistas chegou a subir quase 8% em relação a igual período de 2019.
Quem durante essa pandemia não correu para o mercado da esquina para fazer compras e até mesmo para espairecer?
“Os supermercados foram essenciais para os consumidores em 2020”, diz Thiago Berka, economista da Apas, que representa 13 mil estabelecimentos e 27 mil lojas no Estado.
O auxílio emergencial do governo também ajudou a impulsionar o setor, mas, no caso do Estado de São Paulo, diz ele, contribuiu menos do que em Estados do Norte e do Nordeste.
Com 28 supermercados e três atacados, a rede Lopes, com sede em Guarulhos, registrou crescimento real de 11% no faturamento em 2020 e de 15% a 20% no segundo semestre.
Para atrair a clientela das proximidades, acostumada com os preços dos atacarejos, a rede fez campanhas promocionais justamente de produtos com as maiores altas de preços.
“Vamos dar continuidade a esse trabalho para manter os clientes que conquistamos. Em Guarulhos, ganhamos meio ponto de market share”, afirma José Osvaldo Leivas, diretor-presidente da rede.
Para dar conta dos clientes da vizinhança e da expansão de compras pela internet, muitas lojas correram para oferecer a opção de compra.
O e-commerce, de acordo com a Apas, cresceu e representa hoje entre 2,5% e 3% do faturamento do setor, com a expectativa de dobrar de participação em cinco a seis anos.
A rede Lopes, por exemplo, trabalha hoje com as plataformas ifood e Supermercado Now, e está desenvolvendo o e-commerce para o primeiro semestre deste ano.
A rede Veran, com 13 lojas na Grande São Paulo, também tem planos para acelerar a venda on-line, que hoje representa aproximadamente 1% do faturamento.
Até 2023, a empresa quer que a venda on-line atinja 5% do faturamento total, de acordo com Sandro Benelli, CEO da rede.
Perspectivas
2021 começa com mais cautela nas projeções de vendas e contratações. A Apas prevê, para este ano, crescimento real de 1,5% no faturamento do setor.
“O auxílio emergencial não é fator preponderante para o desempenho das empresas em São Paulo, mas, sim, emprego e renda”, diz Berka.
Com o orçamento mais apertado, os consumidores deverão diminuir as cestas de compras e concentrar os gastos em produtos básicos, justamente os que têm menor margem de lucro.
Se a economia não voltar a crescer, o desafio para os supermercados será trabalhar bem o delivery e o e-commerce, buscando alternativas de vendas.
Um programa de vacinação bem-sucedido, diz o economista, pode beneficiar as lojas que atendem mais as pessoas de terceira idade, já cansadas de ficar dentro de casa.
Apesar de os supermercados estarem mais cautelosos em relação à performance neste ano, algumas redes mantêm planos de crescer.
A rede Lopes acaba de inaugurar uma nova loja, a 28ª, no bairro do Tatuapé, com planos de abrir mais quatro unidades até o fim do ano.
A empresa possui também três lojas com a marca Raiz no modelo de atacado, em São Paulo, Guarulhos e Sorocaba.
Produtos com marca própria, Lopes e Raiz, também devem ganhar espaço nas lojas. Hoje são cerca de 400, que sempre custam menos do que a marca líder de mercado.
Apesar de o consumo estar em ritmo fraco, o embate entre os supermercados e as indústrias em relação a preços continua existindo neste início de ano.
Desde o fim do ano passado, de acordo com Leivas, houve falta de embalagem para cerveja, por exemplo, provocando alta de preços do produto.
Hoje, de acordo com ele, ainda há pressão para aumentos de preços de commodities, como milho, soja e açúcar, além de carnes.
“A pressão sobre os custos é constante, com e sem pandemia, mas isso se acirra quando existe carência de produtos”, afirma o diretor-presidente da rede Lopes.
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Fátima Fernandes é jornalista especializada em economia, negócios e varejo e editora do site Varejo em Dia
Reportagem publicada originalmente no Diário do Comércio
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