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Salete Silva
A volta às aulas presenciais em Serra Negra dos alunos dos ensinos fundamental I e II e do ensino médio da rede estadual contou com uma adesão bem moderada dos estudantes, boa parte deles, em especial os mais velhos, mais por decisão dos pais do que por vontade própria.
As escolas de forma geral adotaram os protocolos de segurança recomendados e contam com o material necessário para proteção e higienização, como máscaras para professores e demais funcionários, além de álcool em gel e da adoção de medidas de distanciamento nas salas de aulas e nos pátios.
A constatação é de professores da Escola Estadual Jovino Silveira, localizada na região central, da Escola Estadual Amélia Massaro, no bairro das Posses, e da Escola Estadual Lourenço Franco de Oliveira, na Estância Suíça. Os professores foram entrevistados pelo Viva! Serra Negra sob a condição de anonimato.
“Tudo o que a escola pode fazer para garantir a segurança dos alunos, dos professores e dos funcionários foi feito”, afirmou um dos entrevistados da Escola Estadual Jovino Silveira, de ensino fundamental II e médio. “Há álcool gel em todos os cantos: nas salas de aula e nas entradas da escola”, acrescentou.
Poucos alunos
Os espaços nas salas de aula do Jovino foram demarcados para que os alunos mantenham distanciamento. Apesar dos cuidados, no entanto, a adesão de alunos nos primeiros dias de aula, revela um outro professor, ainda é pequena.
Algumas salas contavam com apenas dois alunos, no segundo dia de aula. “Algumas salas tinham apenas dois estudantes, outras nenhum”, relatou. No primeiro dia de aula, os professores calculam que no Jovino devem ter comparecido de 80 a 100 alunos.
Além dos equipamentos de segurança para os funcionários, o Jovino fornece máscara para alunos que vêm de casa sem o equipamento de proteção. Para os professores, além das máscaras foram oferecidos protetores faciais.
O horário das aulas no Jovino foi reduzido para cerca de 30 minutos. Por medida de segurança, a escola adotou um espaçamento maior entre a saída do período da manhã, que se encerra às 11 horas, e o início das aulas da tarde, às 12h30.
“O espaçamento foi necessário para a higienização do prédio”, explicou um professor. Cerca de três a quatro funcionários fazem a limpeza entre os dois turnos. As inspetoras têm redobrado a vigilância dos alunos na hora do intervalo (recreio) para que o afastamento social seja respeitado.
Na Escola Lourenço de Oliveira Franco, que oferece ensino fundamental I, as salas de aula estão sendo frequentadas por cerca de 5 alunos cada. A direção limitou a 6 o número de estudantes por sala de aula, informou um dos professores entrevistados.
A escola também oferece máscaras e protetores faciais para professores e funcionários. As crianças permanecem o tempo todo de máscara e trazem uma extra de casa para a troca, além da garrafa de água.
As crianças que usam o banheiro são acompanhadas pelos funcionários. “Portas e janelas permanecem abertas para garantir ventilação e a criança só toca na carteira dela.”
Na hora do lanche, os alunos sentam em mesas demarcadas, para garantir o distanciamento. “Não tem tumulto, os primeiros dias foram bem tranquilos”, observou outro professor.
Na Escola Professora Amélia Massaro, que atende alunos do ensino fundamental II, os protocolos também estão sendo cumpridos. A temperatura é aferida na entrada, quando os estudantes também lavam as mãos e vão para sala de aula, onde as carteiras estão posicionadas a uma distância de um metro e meio.
Sem greve, mas insatisfeitos
Os professores em Serra Negra não aderiram à greve iniciada no Estado na segunda-feira, 8 de janeiro, pela categoria, que exige, entre outras coisas, a inclusão dos professores e dos funcionários das instituições de ensino no grupo prioritário de vacinação.
Embora os docentes serranos não tenham aderido ao movimento, não significa que a maioria esteja satisfeita ou de acordo com a decisão do governo do Estado de retorno às aulas.
Segundo relato dos professores boa parte da categoria em Serra Negra está receosa de voltar às aulas e avalia que este momento de recrudescimento da pandemia não era a melhor hora para retornar.
Professores com comorbidade puderam optar por permanecer no sistema remoto. Para os sem comorbidade não há opção. "Quem voltou é porque faz parte de uma equipe e se um membro da equipe vai sozinho, ele cai. Se todos vão juntos, a equipe fica mais forte", justificou um professor.
Apesar de enfrentar o desafio de voltar às aulas, muitos professores manifestaram descontentamento. “Estamos decepcionados com a decisão das autoridades da área da educação. Não conseguimos ver a lógica. Não só os professores, mas os funcionários de forma geral estão preocupados, porque sabem que entre os alunos há muitos que não se cuidam, não usam máscaras no dia a dia e vamos ter de conviver com eles na confiança”, lamentou um professor.
Alguns professores avaliam que os funcionários responsáveis pela higienização não vão dar conta de garantir a limpeza. “Além disso, a única proteção de fato é a vacina”, afirmou um deles. Professores do Lourenço, que atendem apenas ao ensino fundamental I, avaliam, no entanto, que as condições de segurança são um pouco melhores entre as crianças de menor idade.
Alunos inseguros
As reações dos alunos são diversas. Segundo os professores, a maioria dos adolescentes dos ensinos fundamental II e médio retornou por decisão dos pais. Muitos deles se sentem inseguros e com receio de contaminação, segundo os professores entrevistados. "Muitos manifestaram o desejo de permanecer em casa", revelou.
Já os alunos de ensino fundamental I manifestam, apesar do estresse, maior contentamento com o retorno e reencontro com os amigos e os professores. Entre esses há também maior confiança dos pais em relação ao sistema híbrido de ensino.
Os pais que optaram por manter o filho no sistema remoto, avalia um professor, consideram que o aprendizado está sendo satisfatório no sistema online. Os que decidiram enviar os alunos para a escola demonstraram, por meio do relatório de questionamentos, confiança nos protocolos adotados.
Já para os alunos maiores, alguns professores avaliam que o sistema híbrido, que combina aulas presenciais e remotas, não deverá contribuir para reduzir a defasagem do aprendizado. Faltam recursos tecnológicos para o ensino remoto, alguns não têm sequer internet disponível, enquanto as aulas presenciais não garantem a segurança sanitária. “Devido às circunstâncias, o sistema remoto é a melhor saída”, avalia um professor.
Uma das preocupações manifestadas pelos docentes, no entanto, é com relação à evasão escolar. Muitos alunos estão abandonando a escola. Para tentar evitar o aumento do abandono escolar, os professores têm realizado busca ativa, ou seja, procurar os pais, para identificar os alunos que deixaram de frequentar a escola e trazê-los de volta.
“Estamos muito atentos na busca ativa para que não ocorra evasão, mas é previsto em especial entre os estudantes de ensino médio”, afirmou uma professora. Muitas escolas, no entanto, já vêm registrando evasão escolar desde o ano passado, depois do início da pandemia. A situação, prevê, deve se agravar em 2021.
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