//ANÁLISE// Tragédia anunciada

                                                                                                                                 


Fernando Pesciotta


Um dia após reconhecer que não aceitou as exigências do governo para a venda de imunizantes, a Pfizer teve sua vacina aprovada pela Anvisa com registro definitivo.

É a primeira autorização dessa natureza no Brasil e em toda a América Latina. Ou seja, a agência vinculada ao governo concede licença total à vacina que praticamente não pode ser aplicada. Aquela já em circulação, a “chinesa”, ainda não tem o mesmo aval.

Ainda ontem, o STF formou maioria para manter a liminar do ministro Ricardo Lewandowski, que permite a Estados e municípios importar vacinas mesmo que sem registro na Anvisa.

O Brasil teve nesta terça-feira (23) a terceira maior média móvel de mortes por covid-19 em toda a pandemia e a segunda maior deste ano.

Na média de sete dias, foram 1.095 óbitos. O País completa 34 dias consecutivos com média móvel de mortes acima de mil. O Brasil caminha rapidamente para as 250 mil mortes.

O governo de São Paulo planeja adotar lockdown das 22h às 5h em todo o Estado. As novas medidas devem ser anunciadas hoje.

A imunidade de rebanho, que poderia trazer para algo mais próximo do normal o relacionamento social, não será alcançada neste ano.

Esse conjunto de informações serve para mostrar o caos na saúde pública no País, que sofre com a falta de uma política de combate à pandemia centralizada e que tem um militar no Ministério da Saúde. É cada um por si, remediando situações que se transformam numa catástrofe sem precedentes.

Como já foi dito diversas vezes, a maior liderança do País, o capitão cloroquina, só faz pregar mau exemplo. Provocou a politização no pior sentido nas discussões técnicas.

A ponto de um grupo de médicos insanos fazer publicar em vários jornais brasileiros um anúncio em defesa do chamado "tratamento precoce", com uso de medicamentos como cloroquina, ivermectina, zinco e vitamina D. Todos já descartados pela comunidade científica e médica para o tratamento da doença por não demonstrarem capacidade de barrar o vírus, prevenir a doença ou tratá-la.

Como define o cientista Miguel Nicolelis, o Brasil se transformou no maior laboratório a céu aberto do coronavírus no mundo.

É nesse contexto que o governo e seus trogloditas querem acabar com o investimento mínimo em saúde e educação, o que só ocorreu na ditadura militar. Pelo menos nisso há uma reação da mídia e de parte da sociedade, e os partidos de esquerda se organizam para barrar no Congresso. É o mínimo, sem trocadilho. 

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com                                                                      

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