//OPINIÃO// Os vários culpados pelo desastre da pandemia



Carlos Motta

O Brasil deverá entrar no ano novo suportando o terrível peso de 200 mil mortos pela pandemia do covid-19, um desastre inimaginável por qualquer pessoa minimamente esclarecida.

A pequena Serra Negra poderá iniciar 2021 com o registro de 600 pessoas infectadas pelo novo coronavírus desde o início da pandemia - número que não exprime a angústia, a dor e o sofrimento das vítimas, de seus amigos e familiares, e de todos os que estão na linha de frente na luta contra a doença.

Os dados científicos disponíveis mostram que tudo isso poderia ter sido evitado no Brasil se o país tivesse um governo central de verdade, não esse arremedo bancado por criminosos de todos os naipes, especuladores, escravagistas e oligarcas sedentos do poder econômico e político.

Se a gente parar para pensar um pouco, porém, vai perceber que o psicopata que se instalou no Planalto não é único responsável por essa hecatombe. 

A culpa deve ser dividida entre governadores que seguem a filosofia do faz de conta que eu me importo com o povo - o Brasil tem vários exemplos desses homens públicos -, com um Judiciário que se preocupa, em grande parte, com as benesses do cargo, com uma imprensa dócil que confunde notícia com press release, e com prefeitos e vereadores incompetentes - para não dizer irresponsáveis.

O caso de Serra Negra ilustra bem o que se passou e se passa em todo o Brasil. 

O prefeito que deixa o cargo cedeu às pressões de comerciantes que desejam o "liberou geral", quase nada fez para impedir a proliferação do vírus, permitindo que as regras e protocolos fossem violentados dia e noite, e praticamente ignorou a necessidade de informar a população dos perigos provocados pela doença.

Ah, ele instalou um "gripário" num posto de saúde, podem alegar seus defensores - mas em quê essa unidade serviu para prevenir as contaminações?

Quantos testes foram feitos na população para detectar a presença do vírus?

Quantas pessoas que tiveram contato com os doentes foram isoladas?

Quantos estabelecimentos comerciais foram multados por descumprir os decretos?

Quantas pessoas foram punidas por andar nas ruas sem as máscaras de proteção?

Quantas barreiras foram impostas para disciplinar a invasão de ônibus lotados de turistas e de bandos de motociclistas?

E os nossos vereadores, o que fizeram a respeito, além de pedir, pedir e pedir, a abertura das lojas, para "salvar" a economia?

Esse prefeito que pouco fez para combater o covid-19 em sua cidade está indo embora.

Vem aí um novo prefeito, do mesmo grupo político do antigo.

Só nos resta a esperança de que ele se mostre mais preocupado com a saúde da população do que seu antecessor.

E que a população perceba que Serra Negra, como todo o Brasil, passa por um momento delicadíssimo, que exige seriedade e responsabilidade.

Pois a máscara no queixo é o retrato perfeito da ignorância e burrice de um povo.

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