//OPINIÃO// A única mudança será a do nome do prefeito



Carlos Motta

Algumas coisas foram destaque nesta campanha eleitoral que culmina na eleição deste domingo.

A primeira: raras vezes se vê um prefeito abdicar da reeleição.

Prefeitos são candidatos naturais e não concorrem ao cargo pela segunda vez por motivos óbvios: saúde frágil, desgosto pela experiência no cargo público, certeza de que não será reeleito...

No caso de Sidney Ferraresso, ao que se saiba, sua saúde está boa. Restam, portanto, as outras alternativas. 

Outra coisa estranha nesta campanha foi que o próprio candidato do grupo político do prefeito Ferraresso fazer, de certa forma, oposição a ele. 

Elmir Chedid não foi, absolutamente, um defensor da atual administração.

Com isso, ele se igualou ao discurso dos outros três candidatos, que bateram sem parar na tecla da necessidade de mudança.

E foi aí que se notou outra peculiaridade desta campanha eleitoral. 

Todos os concorrentes apregoaram seu desejo de mudança, mas sem explicitar realmente que tipo de mudança seria essa.

Pois há mudanças e mudanças.

Há aquelas que simplesmente deslocam o móvel de um lugar para outro da sala.

E há as que trocam o móvel velho por um novo.

No caso de Serra Negra, nenhum candidato realmente manifestou um desejo de mudar a cidade, ou a maneira como ela é administrada, de modo profundo, em benefício real para toda a população.

As mudanças sugeridas foram todas superficiais, sem consequências naquilo que de fato poderia levar o município a um outro nível de desenvolvimento.

Ou seja, repensar Serra Negra em todos os aspectos: a sua planificação urbanística, a necessidade de preservação do meio ambiente, a readequação das necessidades orçamentárias, as formas de participação popular na administração, a sua dependência extrema do turismo e a possibilidade de aumentar sua receita em outros setores econômicos - e por aí vai. 

Verdade seja dita: nenhum candidato colocou o povo, a gente humilde, os desassistidos, no centro de sua campanha.

E quando o povo está deslocado para a periferia dos interesses do governante, isso é o sintoma mais cristalino de que não se vive uma democracia.

Todos os candidatos foram conversar com lojistas, donos de hotéis, empresários, profissionais liberais, para saber o que eles tinham a propor para a cidade.

Nenhum, ao que se saiba, procurou saber como pensa, vive, sobrevive, o trabalhador das lojas, dos bares, dos hotéis e pousadas, das centenas de microempresas.

No máximo entregaram a essas pessoas seus folhetos de promessas, ouviram pedidos de emprego e de benfeitorias para seus bairros.

Tudo exatamente como é feito há décadas por esses políticos que levaram o Brasil a esta tremenda crise social e econômica que perdura há alguns anos.

Os quatro candidatos, afora os clichês da campanha eleitoral, são isso: ultrapassados e sem criatividade.

A escolha do eleitor, paradoxalmente, é a mais fácil possível: tanto faz votar num ou noutro, pois são todos, na essência, iguais.

Os que se dizem oposição ao grupo político que domina a cidade há mais de uma década têm apenas um sonho: tomar o seu lugar para continuar a mesma política excludente para a maioria e inclusiva para uma minoria, de hoje.

E a situação, ora... Quer continuar situação.

A única mudança que Serra Negra viverá, infelizmente, nos próximos quatro anos, será do nome do prefeito.

Comentários

  1. "Os que se dizem oposição ao grupo político que domina a cidade há mais de uma década têm apenas um sonho: tomar o seu lugar para continuar a mesma política excludente para a maioria e inclusiva para uma minoria, de hoje.
    E a situação, ora... Quer continuar situação."
    Análise, infelizmente para os serranos, perfeita.

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  2. "Os que se dizem oposição ao grupo político que domina a cidade há mais de uma década têm apenas um sonho: tomar o seu lugar para continuar a mesma política excludente para a maioria e inclusiva para uma minoria, de hoje.
    E a situação, ora... Quer continuar situação."
    Análise, infelizmente para os serranos, perfeita.

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