//ANÁLISE// País de maricas e o uso da pólvora

                                                                 


Fernando Pesciotta


Declaração de Jair Bolsonaro sobre a suspensão dos testes da CoronaVac pela Anvisa soou como comemoração e foi recebida como polêmica pela imprensa e redes sociais. A # ImpeachmentDeBolsonaro acumula mais de 36 mil tuítes.

Ao comentar a suspensão dos testes da vacina, Bolsonaro disse que "ganhou mais uma". O Brasil precisa “deixar de ser um país de maricas”, acrescentou.

A aberração motivou reações. “Cadeia é muito pouco para canalhas que fazem politicagem com vacina”, disse Ciro Gomes. “Com 163 mil mortos no Brasil, qual é a vitória? O atraso de uma possível vacina? Bolsonaro continua a ser o maior aliado do coronavírus no País”, afirmou Flávio Dino, governador do Maranhão.

A causa da morte do voluntário foi suicídio ou overdose, conforme boletim de ocorrência. A informação compromete o argumento supostamente técnico da Anvisa e mostra a baixeza de Bolsonaro.

Nas redes sociais surgiram fotos do diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, em manifestação promovida por fundamentalistas bolsonaristas, no auge da pandemia, em março. Sem máscara e em meio a aglomeração, Torres resistia ao isolamento social e outras medidas de combate ao coronavírus.

Diante dos devaneios de Bolsonaro e da politizada Anvisa, mesmo aliados do governo consideram que o presidente errou a mão em seus comentários. Analistas políticos observam que Bolsonaro não tem capacidade para governar nem para aprender com os erros alheios, numa referência à derrota de Donald Trump nos EUA creditada a seu negacionismo em relação à pandemia.

No Congresso, deputados querem que o ministro da Saúde, Torres e o diretor do Butantan expliquem a suspensão dos testes da CoronaVac.

Mas ainda era pouco para Bolsonaro. No final da tarde, fez uma ameaça ao presidente eleitos dos EUA, Joe Biden: “Assistimos há pouco um grande candidato à chefia de Estado dizer que se eu não apagar o fogo da Amazônia levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá. Quando acaba a saliva, tem de ter pólvora”, disse.

Biden deve estar sem dormir.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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