//ANÁLISE// Eleição deixa governo mais dependente do Centrão

                                                                    


Fernando Pesciotta


O Brasil que sai da eleição municipal deste domingo é um duro recado a Jair Bolsonaro, o maior derrotado pelas urnas. O pleito varreu a chamada nova política que havia ajudado a elegê-lo em 2018. Os vitoriosos são DEM e PSOL, este pelo avanço em capitais.

O eleitorado preferiu candidatos de antigas legendas. MDB, PP, PSD e DEM lideram em número de prefeitos eleitos em todo o País, ampliando a dependência que Bolsonaro tem do Centrão. Um apoio que vai ficar cada vez mais caro.

Os candidatos apoiados por Bolsonaro tomaram grandes tombos nas urnas. Os maiores exemplos são um derretido Celso Russomano, a derrota em primeiro turno de Bruno Engler em Belo Horizonte e o fiasco de Delegada Patrícia em Recife.

Carlos Bolsonaro, candidato à reeleição para vereador no Rio de Janeiro, perdeu 34% do eleitorado, com 35 mil votos a menos do que em 2016.

Wal do Açaí, funcionária “fantasma” de seu gabinete na Câmara dos Deputados, contou com o apoio da família, incluindo o presidente, mas teve apenas 266 votos e não se elegeu vereadora em Angra dos Reis.

A eleição municipal deste domingo mostra um pífio desempenho dos partidos que surgiram na onda da chamada nova política. Joice Hasselmann, uma das líderes da tropa de choque bolsonaristas em 2018, foi surrada em São Paulo. O Novo não elegeu prefeito em nenhuma cidade relevante.

O único motivo de comemoração de Bolsonaro é o avanço da milícia na política. Graças a ameaças, ações violentas e à compra de votos, esse grupo criminoso conseguiu eleger vereadores e prefeitos no Rio e na Baixada Fluminense.

O crime organizado avança no interior do País. Cidades pequenas e médias passam a ser governadas por traficantes e contrabandistas. No Vale do Rio Doce, um prefeito foi pego recentemente dirigindo o carro oficial repleto de cigarros contrabandeados do Paraguai.

As apostas do governo agora deverão se concentrar na economia. Tirar o Brasil do atoleiro econômico, reduzindo o desemprego e distribuindo renda, passa a ser a única chance para Bolsonaro buscar a reeleição em 2022 – se nada de extraordinário acontecer até lá, como nova tentativa de golpe.

O governo terá de trabalhar duro. Afinal, segundo dados do IBGE, o Brasil é o nono país mais desigual do planeta.
 
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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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