//ANÁLISE// Biden e o isolamento do Brasil

                                                               


Fernando Pesciotta


A eleição de Joe Biden nos EUA motiva um amplo debate sobre seus efeitos no Brasil e no mundo. Para analistas, o resultado consolida a onda que vem derrubando governos populistas mundo afora.

Por isso, aliados de Jair Bolsonaro sugerem que ele desacelere o discurso radical. Mantê-lo e apostar no auxílio emergencial ou outro programa social pode significar derrota em 2022, avaliam os assessores.

Numa tentativa de unificar o país, Biden disse que vai governar para todos os norte-americanos. Um discurso que Bolsonaro nunca fez, graças à sua pequeneza.

Biden antecipa que dará prioridade aos direitos humanos, meio ambiente, à recuperação da economia e, principalmente, ao combate à pandemia num esforço conjunto global. São pautas que até agora estão fora da agenda brasileira. O País, portanto, terá de se reenquadrar.

Só agora o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu às áreas do Itamaraty uma avaliação do impacto da chegada de Biden à Casa Branca. Diplomatas lamentam a demora.

Não é só Araújo que está atrasado. As principais lideranças globais mandaram saudações a Biden, o que inclui até aliados de Trump. Mas Bolsonaro ainda não se manifestou.

Com o resultado já sabido, Bolsonaro fez uma live no Facebook e posts no Twitter sem tocar no assunto.

A orientação do Planalto é para o governo só se manifestar quando o resultado for oficializado, o que pode ocorrer em dezembro.

O temor é de que o Brasil se isole ainda mais. Na questão climática, por exemplo, o País vai virar “saco de pancada”, avaliam especialistas.

A maior incógnita nesse tabuleiro é a relação dos EUA com a China, o que pode redefinir o comportamento do Brasil na conjuntura global e na decisão sobre o 5G.

Até que Bolsonaro entenda o que está em jogo, pode ser muito tarde.

Desaprovação

Pesquisa Datafolha ajuda a explicar a queda de Celso Russomano nas intenções de voto desde que se vinculou à imagem de Bolsonaro. Sua aprovação em São Paulo caiu de 29%, em setembro, para 25%. E avançou de 46% para 48% os que consideram seu governo ruim ou péssimo.

Pesquisa do Ibope indica que a popularidade de Bolsonaro caiu em sete capitais.

Deu ruim

Mensagens de texto enviadas por Luiza Sousa Paes, ex-assessora de Flávio Bolsonaro, para seu pai revelam que ele ficou assustada assim que as denúncias de peculato vieram à tona.

“Caraca! Tu viu alguma parte do 'Jornal Hoje'? Bateu direto naquele negócio do Queiroz. Direto isso, a foto dele estampada no 'Jornal Hoje.' Agora deu ruim", escreveu Luiza.

Em outra mensagem, ela perguntou ao pai o que fazer com os recibos de depósitos feitos a Queiroz. A ex-assessora também conversou com o advogado de Queiroz e o então advogado de Flávio Bolsonaro.

As revelações foram feitas pelo Fantástico.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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