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Fernando Pesciotta
Deve ser uma estratégia do governo banalizar a estupidez para que a população aceite com naturalidade as maiores bizarrices.
Nos últimos dias, vimos dois exemplos eloquentes dessa tática. O primeiro é o vermífugo.
Jair Bolsonaro e o ministro da “Ciência e Tecnologia”, Marcos Pontes, declararam que o vermífugo nitazoxanida, conhecido como "Annita", teria ajudado a reduzir a carga viral em pacientes na fase inicial de covid-19.
Eles não mostraram dados do suposto estudo científico. Em vez disso, incluíram na apresentação um gráfico de banco de dados disponível na internet.
O assunto, com a #BolsornaroCharlatao, virou meme e passou a liderar as interações e comentários nas redes sociais. Até perfis de direita, como o Vem Pra Rua, engrossam as críticas a Jair Messias.
Marcos Pontes ficou famoso por ser o único brasileiro que participou do programa espacial. Patrocinado pelo governo na gestão Lula, ele integrou um dos voos tripulados da Nasa. Pelo jeito, nunca mais voltou do espaço.
Mais cedo, Bolsonaro já tinha dito que “ninguém pode obrigar em hipótese alguma as pessoas a tomar vacina contra covid-19”. Segundo ele, o Ministério da Saúde “não obrigará ninguém a tomar vacina”.
Enterro internacional
O segundo exemplo é a diplomacia. A atuação do ministro Ernesto Araújo, respaldada por Bolsonaro, é a comprovação de quão fácil é destruir um legado a duras penas construído ao longo de muitos anos.
A política externa brasileira sempre foi reconhecida globalmente por sua capacidade de articulação e reconciliação. Não à toa, todos os anos o Brasil é o responsável pela abertura da Assembleia-Geral da ONU.
O governo Bolsonaro está jogando esse legado no lixo. Sua política externa é orientada pelo fundamentalismo olavista. Ou seja, pela total falta de visão de mundo, pelo desconhecimento e pelo estúpido alinhamento ao trumpismo.
No ano passado, esse fundamentalismo levou o Brasil a participar do golpe na Bolívia. Foi um tiro no pé, pois o candidato do Movimento ao Socialismo (MAS) acaba de vencer a eleição presidencial.
Na Argentina, pela primeira vez na história, a eleição teve envolvimento direto e explícito do presidente brasileiro em favor de um candidato, que acabou derrotado.
Nos EUA, o alinhamento cego com Trump vai deixar o Brasil de calças na mão após a cada vez mais próxima vitória do democrata Joe Biden.
Ao se referir à China, Araújo, Bolsonaro e demais integrantes do governo (?) usam exclusivamente adjetivos pejorativos.
A inteligência dessa gente fará o Brasil se afastar de seus principais parceiros comerciais e se isolar no mundo. Seremos uma Adamstown, a minúscula ilha isolada no Pacífico.
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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com
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