//ANÁLISE// Contra a saúde e o ganha pão

                                                          


Fernando Pesciotta


Nos últimos dias ficaram explicitados os sinais mais claros do mundo de que a má gestão da pandemia de coronavírus é o caminho mais curto para o desastre econômico.

Dados da ONU indicaram que o Brasil, visto como péssimo exemplo na gestão da crise de saúde pública, foi quase que banido do mundo dos investidores. Foi o país mais afetado pela redução de investimentos.

Os sinais, porém, não foram captados pelo Planalto. Na transmissão semanal que costuma fazer em rede social, um jeito de falar o que bem entende sem ser questionado, Jair Bolsonaro voltou a criticar a obrigatoriedade da vacina contra a Covid-19. Afirmou que não vai patrocinar o imunizante produzido pela chinesa Sinovac.

Bolsonaro anuncia decisões pessoais, de olho na eleição de 2022. Confunde o papel de presidente com o de capitão que fugiu do exército. Não é ele que tem de “patrocinar” a vacina, mas o Estado brasileiro. Ou seja, a sociedade. É o dinheiro da sociedade usado para o benefício da sociedade.

Na transmissão, deixou clara sua decisão político-eleitoral ao se dirigir diretamente ao governador João Doria. "Ninguém vai tomar tua vacina na marra, não, tá ok? Procura outra. E eu, que sou governo, não vai comprar sua vacina também não (sic). Procura outro pra pagar sua vacina", disse.

Bolsonaro também anunciou que vai voltar atrás de ter voltado atrás.

Após cancelar o decreto entendido como de privatização do SUS, ele disse que vai reeditar a medida.

Sem fugir da estratégia de usar meias verdades e fake News para justificar seus atos, Bolsonaro citou uma proposta da ex-presidenta Dilma Rousseff para defender o decreto.

Na verdade, a sugestão de Dilma era a criação de parcerias público-privadas para melhorar o "atendimento especializado". A sugestão foi feita durante a campanha eleitoral de 2010.

Para forçar a mão, como sempre, Bolsonaro disse que Dilma à época era presidente, quando na verdade quem estava na Presidência era Lula.

Agora, Bolsonaro diz que vai reeditar o decreto na semana que vem, insistindo em repassar o atendimento público ao setor privado. Como de costume, embaralha as informações, de forma a dar argumento político a seus seguidores, mas sem se aprofundar no conteúdo técnico, área inóspita no bolsonarismo.


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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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