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Fernando Pesciotta
O Brasil não para de retroceder, na sua busca incessante por ser uma referência global pela mediocridade e o atraso.
O País está ao lado das mais sinistras ditaduras da atualidade, como Arábia Saudita, Sudão, Egito, Emirados Árabes Unidos, Congo e Belarus na assinatura de declaração contra o aborto e em defesa da família “tradicional”.
A iniciativa foi promovida pelos EUA, claro. Visa “preservar a vida” e a soberania.
O Brasil também aparece ao lado da Hungria, Indonésia e Uganda, outros países sob regime de extrema-direita, como copatrocinador da declaração, assinada por apenas 31 nações, a maioria africanas e do Oriente Médio.
Da Europa, somente as extremistas Belarus, Polônia e Hungria endossam o texto.
Pura hipocrisia. Ao mesmo tempo em que assina uma declaração medieval, supostamente em favor da vida, o governo de Jair Bolsonaro favorece a morte por Covid-19 e se nega a apoiar a ciência em busca da vacina que preserva a vida da população.
Tomo emprestado trecho da coluna de Helio Schwartsman na Folha: “Bolsonaro é o presidente, foi eleito democraticamente. Mas não tem condição moral nem intelectual para exercer o cargo, do que dá prova a leviandade com que trata a questão da vacina”.
O tema é espinhoso, mas fica a dúvida sobre o que é mais danoso à sociedade: o aborto ou a epidemia?
Nunca entendi muito bem essa sanha conservadora de querer meter o bedelho na vida alheia. Não sei exatamente o que uma decisão individual tem a ver com a sociedade. O que um ato de uma mulher interfere na minha, na sua, na nossa vida?
Não se trata de ser contra ou a favor do aborto. Essa deveria ser uma questão de foro íntimo, e não tratada como um valor social. Deixamos que conceitos religiosos interfira na legislação de um Estado que deveria ser laico.
Ao contrário, a apologia da morte é crime. É o caso de Bolsonaro na epidemia do coronavírus. “Fazer o que? Vão morrer mesmo” e “não sou coveiro” são apenas algumas das frases que sintetizam a performance de Bolsonaro em favor da morte de brasileiros.
Enquanto se alia fanatismo religioso, o governo Bolsonaro nada faz para impedir que uma mulher seja estuprada a cada oito minutos no Brasil. Nada faz para tirar o País da vergonhosa lista dos líderes de feminicídios.
É inominável radicalizar contra o aborto sendo a favor da morte na pandemia, dizer que vai metralhar o adversário, estar ao lado de quem assassina a vereadora, defender a tortura e ameaçar estuprar quem o critica. O pior é que isso não choca mais.
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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com
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