//ECONOMIA// Serranos reclamam dos preços altos. Mas de quem é a culpa?


Salete Silva


Consumidores serranos usam as redes sociais para criticar os aumentos de preços registrados nos supermercados da cidade. 

“Deixo aqui minha indignação com o absurdo de preços praticados nos supermercados de Serra Negra”, diz um cidadão em uma das páginas de vendas online mais visitadas pelos munícipes nas redes.

Os aumentos dos preços do arroz e óleo de soja lideram as críticas. “Nessas épocas, as prefeituras tinham o dever de dar uma cesta básica a todas as famílias, é o mínimo”, dizia um outro comentário.

Houve até quem solicitou providências do Poder Legislativo municipal ao vereador Leandro Pinheiro, dono de supermercado na cidade. “Meu amigo, vereador de Serra Negra, qual a posição do Legislativo da cidade frente a esses abusos. Poderiam acionar o Procon?”, questionou um serrano.

É tarefa difícil explicar para o consumidor aumentos  muito acima da inflação em especial de preços de produtos essenciais na sua mesa. "Geralmente eles gostam de encontrar no comerciante um culpado”, lamenta a empresária Caroline Saragiotto Marson, a Carol, sócia do Colorado Supermercados.

Quando questionada sobre o assunto, Carol usa as informações fornecidas pela Associação Paulista de Supermercados (APAS). Ela explicou que são vários fatores que influenciam os aumentos de preços.

“Um deles é a alta do dólar em relação ao real, o que estimula a exportação desses produtos”, afirmou. O outro fator, ela aponta, é o período de safra dos alimentos e a demanda interna impulsionada pela pandemia da covid-19, que trouxe o aumento do consumo de produtos básicos.

“Nós estamos deixando para fazer os reajustes somente quando temos que renovar os estoques”, informou. Fiscais do Procon estiveram nos supermercados serranos atendendo a denúncias de consumidores. Mas não constataram abusos.

O jornalista Fernando Pisciotta, colunista do Viva! Serra Negra, salienta em sua coluna desta quinta-feira, 10 de setembro, que para a camada menos favorecida, os alimentos têm peso grande. “Se tem dinheiro, o assalariado de baixa renda corre para comprar arroz, feijão, carne, óleo.”

“Economistas mencionam várias razões para os reajustes de preços, como entressafra, câmbio e até aumento da renda dos mais pobres. E aqui entra a perversidade: o cidadão de baixa renda é punido por aumentar seu consumo”, escreve o jornalista.

Para alguns especialistas, no entanto, a opção do agronegócio pela monocultura é o que tem provocado também a alta no preço dos produtos da cesta básica. Pesquisa do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), publicada em 4 de setembro, revela que os preços dos produtos da cesta básica subiram mais do que a inflação tanto no atacado como no varejo.

Os alimentos básicos ficaram no atacado 15,02% mais caros em 12 meses, terminados em agosto. No varejo, a alta foi de 8,5% no período. Em entrevista ao Jornal Brasil Atual, o técnico do Dieese Fausto Augusto Júnior, disse que o impacto do setor na recente inflação de alimentos mostra a importância da agricultura familiar.

Ele explica que a agricultura familiar, que coloca a comida no prato dos brasileiros, é bastante prejudicada e pouco apoiada. A proposta de orçamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em 2021, enviada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao Congresso Nacional, praticamente reduz a zero a verba para a reforma agrária.

Para o especialista, sem promover a desconcentração da terra, como defende o Dieese, o Brasil será um país de monocultura, que privilegia apenas a produção de alguns grãos, o que vai continuar penalizando os mais pobres.

Bolsonaro parece querer insistir, no entanto, em soluções bizarras que se mostraram ineficientes nos anos 80, quando o ex-presidente José Sarney mandou laçar boi no pasto para segurar os preços nos supermercados. O Ministério da Justiça vai notificar supermercados e produtores para que expliquem o aumento do preço de alimentos da cesta básica.

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