//ANÁLISE// Governo vai insistir na volta da CPMF

                                 


Fernando Pesciotta


O ministro Paulo Guedes disse ontem que o País tem de desonerar a folha de pagamento das empresas, mas para isso precisa buscar "tributos alternativos". É a senha para a nova CPMF, autorizada por Jair Bolsonaro, que repetidas vezes havia dito que não permitiria o aumento de impostos.

Guedes nunca escondeu seu desejo de criar impostos, nem sua paixão pela criticada CPMF. Para alcançar seu objetivo, ontem ele inaugurou um discurso mais político, ou populista, para atrair o apoio do chefe. E parece ter conseguido.

“Descobrimos 38 milhões de brasileiros que eram invisíveis, temos que ajudar essa turma a ser reincorporada no mercado de trabalho, então temos que desonerar a folha, por isso que a gente precisa de tributos alternativos para desonerar a folha e ajudar a criar empregos”, disse.

Apegado ao cargo, o ministro abandona também o projeto de privatização. Agora, fala em indicar nomes do Centrão para as estatais.

Enquanto o governo Bolsonaro pensa em elevar a carga tributária e arrumar boquinha para corruptos, o trabalhador sofre uma das piores crises da história.

O desemprego aumentou 27,6% em quatro meses. Em agosto, a população desocupada era de 12,9 milhões, ante 10,1 milhões em maio. Os dados são do IBGE.

Levantamento da Folha em sites de oferta de empregos mostra retração do número de vagas abertas num momento de crescimento da procura por emprego. A alternativa tem sido a informalidade, com precarização do emprego.

A inflação também atormenta a vida do trabalhador. O IPCA-15, considerado uma prévia da inflação oficial, avançou para 0,45% em setembro, ante 0,23% em agosto. Trata-se do índice mais elevado para o mês em oito anos, pressionado pelo preço dos alimentos.

Fuga de capital

O discurso negacionista de Bolsonaro e sua (ausência de) política econômica não apenas afunda o mercado de trabalho. Afugenta o capital.

Dados divulgados ontem pelo Banco Central indicam queda de 85% dos investimentos estrangeiros no Brasil em agosto, em relação ao mesmo mês de 2019.

Além da fuga de capital recorde, o País recebe menos dinheiro neste ano, num volume menor a cada mês. Na comparação com julho, a entrada de agosto significa recuo de 48%.

Num movimento contrário, e ratificando os receios com o País, os brasileiros elevaram a remessa ao exterior. Foram mandados a outros países US$ 1 bilhão em agosto, o dobro do registrado em julho.

Rachadinha

A cada dia aparece mais uma demonstração de amor da família Bolsonaro pelo dinheiro vivo.

Apontado pelo Ministério Público do Rio como funcionário “fantasma” do antigo gabinete de Flávio Bolsonaro, o coronel da reserva Guilherme dos Santos Hudson pagou R$ 71 mil, em valor atualizado, em dinheiro vivo por um terreno em Resende, em 2008.

Os vendedores foram o então deputado Jair Bolsonaro e Ana Cristina Siqueira Valle, sua ex-mulher.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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