//OPINIÃO// Amarelo é a cor da cautela, não da normalidade

Salete Silva

Serra Negra mal passou para a Fase Amarela do Plano SP de retomada da economia no Estado e a população ganhou as ruas.

O movimento de carros e o fluxo de pessoas nas calçadas e praças nesta tarde de sexta-feira, 7 de agosto, era o retrato de uma cidade que acredita estar voltando à normalidade.

Qual normalidade? A normalidade de um país em que nesta mesma tarde de sexta-feira aparece na liderança do ranking mundial de novos óbitos por Covid-19 do relatório mais recente da Organização Mundial da Saúde.

Entraram para as estatística só nesta sexta-feira mais 6.815 mortes por Covid-19 em relação aos dados disponíveis um dia antes, totalizando 709.511 mortes no mundo.

O Brasil, que lidera os novos casos, mantém firme uma média de mais de 1.000 mortes por dia.

Ao anunciar o avanço para a Fase Amarela de nove regiões, que representam 86% da população do Estado, o governador João Doria comemorou em especial a redução da ocupação dos leitos de UTI para 59,8%.

Afastado o pesadelo de ficar sem terapia intensiva ou sem um ventilador pulmonar, o cidadão talvez esteja respirando literalmente aliviado, e fazendo como o presidente Jair Bolsonaro, que em sua "live" desta quinta-feira, 6 de agosto,  disse “vamos tocar a vida”, se referindo às 100 mil pessoas no país que já perderam a sua.

E não pensem que estou fora dessa. Ao voltar a correr pelas ruas da cidade depois de quase 150 dias sem exercer minha atividade física favorita, também experimentei a sensação de estar voltando à normalidade.

Apesar do comércio ainda fechado, Serra Negra amanheceu exatamente como antes da pandemia.

A temperatura amena e agradável para atividades físicas ainda é a mesma, assim como as ruas tranquilas emolduradas pela natureza, com pequeno movimento de carros e pessoas que saem cedo para trabalhar, além da segurança típica de uma cidade pequena.

O uso da máscara e o cuidado no contato com as pessoas me lembravam a todo instante, no entanto, que não voltamos à normalidade e, nem de longe, a situação é a mesma de antes da pandemia.

A gente quer voltar ao normal. É um desejo coletivo. Mas amarelo significa atenção e cautela.

Os números de óbitos não param de crescer e podem chegar a 180 mil até novembro, segundo o neurocientista Miguel Nicolelis, da Comissão Científica do Consórcio Nordeste para Combate ao Coronavírus.

Além disso, boa parte dos países apresentou aumento de casos de contaminação e óbitos na retomada da economia, o que obrigou muitos deles a voltar atrás e retomar medidas de isolamento social.

Também não há ainda conclusões absolutas sobre a vacina, incluindo sobre sua eficiência, enquanto alguns casos de reincidência da doença já foram registrados no país, o que coloca em dúvida o nível e prazo de imunidade.

Portanto, não há nada de normal. Proteger a própria vida e a do próximo com o uso de máscara, evitando aglomerações, encontros familiares e saídas desnecessárias são hábitos não só de solidariedade, mas de amor, fundamental nessa travessia para uma normalidade ainda desconhecida. 

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