//ANÁLISE// Orçamento pode ampliar fritura de Guedes

                


Fernando Pesciotta


A economia deverá estar no centro das atenções nesta semana, irrigada pelo óleo com o qual o Planalto frita o ministro Paulo Guedes. Jair Bolsonaro tem de enviar hoje a proposta de Orçamento de 2021 ao Congresso, com novidades que prometem irritar a equipe econômica. São esperados, ainda, indicadores importantes a serem divulgados nos próximos dias.

Da proposta orçamentária constará um significativo aumento de recursos para as Forças Armadas. Segundo a BBC News, são R$ 110,7 bilhões para as despesas primárias do Ministério da Defesa, alta de 4,7% em relação a este ano.

A equipe econômica, com seu discurso de controle fiscal e respeito ao teto de gastos, se posicionou contra o aumento para a área militar. Esse embate, porém, é mais profundo. Por trás dele está a disputa por espaço e liderança no discurso econômico. Os militares estão mais inclinados a apoiar a ala que se autodenomina desenvolvimentista que se instalou no andar da Presidência da República no Palácio do Planalto.

Tendo o ministro do Desenvolvimento como político não-militar como pilar das propostas, essa ala não estaria muito interessada em preservar o teto de gastos e se preocupa em buscar votos para 2022. É sob esta orientação que Bolsonaro segue indicação do ministro Rogério Marinho para inaugurar diversas obras nas próximas semanas, a maioria contratada e executada nos governos Lula e Dilma Rousseff, dentro do PAC.

Indicadores

Na terça-feira, 1º de setembro, o IBGE anuncia o PIB do segundo trimestre, fechando um semestre que deve ter uma das maiores quedas da história. No mesmo dia, Bolsonaro deve bater o martelo sobre o novo valor do auxílio emergencial, numa estratégia para fazer contraponto ao PIB negativo.

Na quarta será a vez da produção industrial de julho, o que pode ser um indicativo do tamanho e da velocidade da retomada.

A queda de demanda provocada pela pandemia tem trazido junto aumento de custos de até 35% para a indústria. Há temores de alta da inflação. O setor siderúrgico é um dos principais alvos das queixas. Fabricantes de máquinas e equipamentos relatam falta de aço no mercado.

Questionamento

São crescentes as críticas ao modo como o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, foi afastado do cargo. Juristas e lideranças políticas questionam o fato de a decisão ter sido tomada por um só ministro do STJ, sem consulta ao colegiado e sem que o acusado tenha sido ouvido.

Independentemente da culpabilidade, do surgimento de supostas provas e da percepção que cada um tenha do governador, o caso é visto como risco à democracia e ao processo jurídico. É o lavajatismo que fez escola no Brasil.

Segundo analistas políticos e lideranças partidárias, o afastamento de Witzel beneficia diretamente a família Bolsonaro na política do Rio de Janeiro. Juristas avaliam que a vaga no STF a ser preenchida em novembro está fazendo juízes e ministros agirem ostensivamente para agradar Bolsonaro.

Censura

Por decisão do juiz Leonardo Grandmasson Ferreira Chaves, da 32ª Vara Cível do Rio de Janeiro, o jornalista Luís Nassif teve de tirar do seu site uma série de reportagens sobre o BTG Pactual. Os textos abordam a suspeitíssima compra de carteira de crédito do Banco do Brasil. O assunto está entre os mais comentados do Twitter nesta segunda-feira, 31 de agosto. Os posts lembram que o BTG foi criado, entre outros, por Paulo Guedes.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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