//ANÁLISE// Minha vontade é encher sua boca com uma porrada

           


Fernando Pesciotta


Há pouco tempo, um amigo lançou um desafio no Facebook para listarmos pessoas famosas com as quais já estivemos. Não entrei na brincadeira por considerar que seria injusto expor num grupo de amigos uma situação que não refletia com honestidade minha posição pessoal. A maioria das personalidades com as quais me encontrei foi por dever de ofício, como jornalista.

Entretanto, o desafio me levou a exercitar a memória. Lembrei que estive com dirigentes da China, Argentina, República Tcheca, União Soviética, Uruguai, Moçambique, Portugal, França, Cuba, EUA, Japão e Porto Rico. Sem falar em personagens da economia de todo o planeta.

Estive com ministros das mais diversas pastas, executivos das maiores empresas instaladas no País e com todos os presidentes do Brasil desde Ernesto Geisel – com este, voei lado a lado para cobrir a inauguração da Copene. Posso assegurar que nenhum desses personagens, por mais irritados que possam ter ficado, jamais reagiu com uma resposta do tipo “minha vontade é encher sua boca de porrada”.

Foi o que fez Jair Bolsonaro neste domingo, 23 de agosto, ao ser perguntado sobre os depósitos de Fabrício Queiroz na conta de sua esposa, Michele.

Sempre esteve claro que Bolsonaro é autêntico. Usa uma linguagem descabida, grosseira, e se comporta como miliciano. Sua curtíssima carreira militar prova que ele não é afeito à disciplina e aos limites necessários para o convívio social. Sua presença por quase três décadas no Legislativo solidificou os problemas psicológicos que afetam suas atitudes e o desprezo pela democracia.

Bolsonaro é isso que ele é, um malandro, no pior sentido da palavra, que convive com a milícia do Rio de Janeiro, que subtrai dinheiro público por meio das rachadinhas e usa o escudo do obscurantismo para rechaçar a imposição de limites civilizatórios.

Bolsonaro acha normal expor o fascismo que mora em seu caráter duvidoso. Em vez de prestar conta a quem lhe deu o mandato e o dinheiro que desvia para sua conta particular, Bolsonaro age como segurança de boate do subúrbio carioca.

A imprensa exerce papel relevante nessa sustentação de Bolsonaro. Ao generalizar a corrupção e banalizar os mal feitos do presidente, como compará-lo a Dilma Rousseff, a exemplo da Folha no final de semana, a mídia passa um recado tranquilizador ao ditador-miliciano.

Internacional

Duas semanas depois da eleição presidencial, dezenas de milhares de pessoas protestaram novamente neste domingo em Belarus contra a vitória do presidente Alexander Lukashenko. Nem as ameaças de ampliação da repressão afastaram os manifestantes. De acordo com a mídia local, o protesto reuniu mais de 100 mil pessoas na capital, Minsk. Lukashenko colocou o Exército em alerta.

Para agravar a crise política, policiais militares começam a desertar. A cada dia mais policiais expõem nas redes sociais seu pedido de demissão sob o argumento de que não querem reprimir os manifestantes. Eles também enviam mensagens de vídeo para os colegas questionando por que defendem o governo.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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