//ANÁLISE// “Debandada” abre dúvidas sobre futuro de Guedes

    


Fernando Pesciotta

A Bolsa fechou nesta terça-feira, 11 de agosto, com queda de 1,23%, reflexo dos temores provocados pelo esvaziamento da equipe econômica do governo. O ministro Paulo Guedes falou em “debandada” ao anunciar que os secretários Salim Mattar, de Desestatização, e Paulo Uebel, de Desburocratização, pediram demissão. No final da noite, José Ziebarth, diretor do Programa de Desburocratização, também anunciou que está deixando o governo.

Em menos de um mês, são sete integrantes da equipe econômica que deixam seus cargos. Guedes aproveitou a “debandada” para tentar respaldar sua agenda e testar o emprenho do Planalto em sua defesa.

A despeito desse esforço, fica a dúvida sobre a permanência de Guedes, visto como avalista do apoio empresarial ao governo de Jair Bolsonaro. De acordo com a Folha, pessoas próximas do ministro asseguram que ele não pedirá demissão, embora se diga cansado com o acúmulo de frustrações.

Ao anunciar a “debandada”, Guedes não escondeu críticas à morosidade das reformas e à resistência da máquina pública às privatizações. Insistiu que o programa continuará e reforçou a necessidade de destravar investimentos sem ferir o teto de gastos.

Míriam Leitão, em O Globo, porém, avalia que a debandada é resultado do fracasso de Guedes. Segundo ela, o programa econômico do governo já estava desmontado mesmo antes da pandemia.

Impeachment

Sem citar nomes, Guedes disse que há auxiliares que aconselham Bolsonaro a abandonar a regra do teto para assegurar a reeleição. Mas isso, alerta, pode provocar o impeachment do presidente.

Bolsonaro tem sido pressionado a levar à frente o Pró-Brasil, programa de investimento público de R$ 35 bilhões em infraestrutura gestado pela ala militar. Com o sinal amarelado na Economia, o presidente deve desistir dessa ampliação de gastos.

Assessores de Guedes consolidam o diagnóstico de que embora surfe na onda do liberalismo, Bolsonaro na verdade não é um liberal, e se sente mais â vontade com a ala do governo que pensa como ele.

Antifascismo

O Ministério da Justiça encaminhou ao Congresso ontem o relatório sobre a atuação de 579 policiais e professores identificados como antifascistas. Na sexta-feira, o ministro André Mendonça admitiu a existência do documento. Um dia antes, respondera ao STF que a pasta não produz esse tipo de dossiê.

Futuro

O Brasil que sairá da crise econômica agravada pela pandemia terá um longo caminho a percorrer. Não bastará retomar as atividades no nível do que era antes do coronavírus. Segundo o IBGE, incluindo-se aqueles que desistiram de procurar uma ocupação, o País soma 40 milhões de desempregados.

Indicadores como o próprio PIB sustentam que a economia já não vinha bem antes da pandemia. Entre os brasileiros de 22 a 25 anos, com formação universitária, 40% viviam na condição de sobre-educados no primeiro bimestre deste ano. Eram 525,2 mil jovens qualificados que estavam em ocupações que não exigem ensino superior.

As perspectivas são de piora. O salário deles no futuro deverá ser ainda menor e a probabilidade de ficarem desempregados aumenta, avaliam especialistas.

Internacional

Favorito na corrida presidencial norte-americana, o democrata Joe Biden anunciou ontem que Kamala Harris será sua candidata a vice-presidente dos EUA.

A imprensa brasileira e perfis de influenciadores nas redes sociais lembram que Harris culpou Bolsonaro pelas queimadas na Amazônia. Ela chegou a defender publicamente a suspensão de negociações de acordos comerciais dos EUA com o Brasil.

Ontem, Bolsonaro, sem se referir a Harris, disse que a Amazônia queimando em chamas é “uma grande mentira”.

-------------

Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

Comentários