//ANÁLISE// Bolsonaro é citado em denúncia de rachadinha

     


Fernando Pesciotta

No dia em que surgiu nova acusação de desvios no esquema conhecido como rachadinha no gabinete do então deputado Jair Bolsonaro, e mais dois integrantes do Ministério da Economia deixaram seus cargos, o presidente reagiu em duas frentes: deu a liderança do governo na Câmara ao Centrão e defendeu a agenda econômica do ministro Paulo Guedes.

Bomba nas redes sociais a revelação de O Globo de que a família Bolsonaro gastou mais de R$ 1,5 milhão em dinheiro em 24 anos. O jornal somou os pagamentos na compra de imóveis e outras despesas já revelados pela imprensa.

Já a Folha revela que a personal trainer Nathália Queiroz continuou repassando a maior parte de seu salário ao pai, Fabrício Queiroz, mesmo quando era empregada no gabinete do então deputado Jair Bolsonaro. Dados da quebra de sigilo bancário de Nathália autorizada pela Justiça mostram que ela transferiu R$ 150.539,41 para a conta do pai entre janeiro de 2017 e setembro de 2018. Ou seja, 77% do que ela recebeu em salário da Câmara.

Flávio Bolsonaro, por sua vez, pagou R$ 638 mil em dinheiro vivo na compra de um apartamento no Rio de Janeiro. Naturalmente, ele diz não se lembrar disso. Tem dinheiro, mas não tem memória, coitado.

O Planalto não responde às acusações de desvio de dinheiro público que teria sido feito por Bolsonaro e seus filhos. Talvez porque não tenha mesmo uma explicação.

Privatização

Bolsonaro disse que a venda de estatais vai continuar e sua gestão vai respeitar o teto de gastos. “Respeitamos o teto de gastos, queremos a responsabilidade fiscal”, disse.

A pressão política, porém, é grande. A equipe econômica teme que os planos eleitorais do presidente travem o plano liberal de Guedes. Além dos aliados de legendas do Centrão, no Planalto há quem defenda uma investida mais efetiva de Bolsonaro de olho nas urnas em 2022. A ala chamada “desenvolvimentista” chama Guedes de “primário” e “idiota”.

Exemplo de pressão é a possibilidade de extensão do auxílio emergencial não até o final do ano, como cogitado no início da semana, mas até março. Ele seria de valor inferior aos atuais R$ 600.

Por enquanto, a previsão de Orçamento para 2021 que precisa chegar ao Congresso até o dia 31 não prevê aumento do Bolsa Família.

Centrão

Bolsonaro decidiu trocar o Major Vitor Hugo, do PSL, por Ricardo Barros, do PP e, portanto, do Centrão, na liderança do governo na Câmara. Como lembra a Folha, Barros foi ministro de Michel Temer, e integra a mesma legenda de Arthur Lira, líder informal do governo na Casa.

Fim da CLT

O projeto do governo para afrouxar regras de contratação de trabalhadores prevê que até metade dos empregados de empresas privadas sejam pagos por hora trabalhada, em vez de salário mensal. A modalidade de contratação deve ser a base da proposta da carteira verde e amarela. Segundo o governo, essa é uma forma de incentivar a criação de empregos. A reportagem é do UOL.

O projeto a ser enviado ao Congresso prevê implantação gradual, partindo de 10% do quadro da empresa no primeiro ano, passando a 20% no segundo ano e 30% no terceiro. As empresas de saneamento, porém, já podem começar com 50%.

-------------

Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

Comentários