//PANDEMIA// Sem crédito, situação de comerciantes é desoladora, diz empresário

Rafael Accorsi, da Associação Comércio Forte: “Movimento está aquém da necessidade para cobrir os custos”

Salete Silva
 
Com faturamento de no máximo 15% da média da temporada de inverno, a melhor época do ano para o turismo de Serra Negra, muitos donos de bares, restaurantes e lojas locais estão sem liquidez e sem conseguir acessar as linhas de créditos divulgadas pelo governo federal aos pequenos e microempresários.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou pessoalmente no mês passado que já estariam disponíveis para as pequenas e microempresas R$ 15,9 bilhões para financiamento.

Os recursos poderiam ser captados em bancos públicos ou privados por meio do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), criado pelo governo para amenizar os efeitos da pandemia na atividade econômica.

Até agora, no entanto, poucos empresários serranos conseguiram a liberação do crédito por meio desse programa ou por outras linhas de financiamento com juros acessíveis e menos exigências de garantias, informa o presidente da Associação Comércio Forte, Rafael Accorsi, proprietário do Café Boteco e da Lanchonete Americana.

“Alguns empresários conseguiram acessar o Pronampe, principalmente os que já eram correntistas. Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Itaú estão comercializando, porém Itaú, por exemplo, já esgotou o limite. Santander e Bradesco devem oferecer a linha em breve”, informou.

O Pronampe, o empresário avalia, é um bom programa, mas o volume de recurso disponível é escasso e não chegou a todos os empresários necessitados de capital de giro. “A situação de boa parte deles é desoladora, não há dinheiro disponível para todo mundo”, diz.

As negociações com os bancos também têm sido difíceis. As instituições financeiras estão cautelosas e as taxas de juros são elevadas. Além disso, as exigências de garantias nem sempre são compatíveis com as disponibilidades dos empresários.

“As garantias normalmente envolvem imóveis, faturamento em cartões e devedores solidários [avalista]”, afirma. Correntistas com garantias e adimplentes, ele analisa, conseguem melhores condições.

Alguns empresários até tentaram formas alternativas de financiamento, segundo ele, como o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob). “A procura por crédito no Sicoob é grande, as taxas são competitivas, porém não se mostraram tão diferentes das oferecidas por outros bancos”, diz.

O Sicoob anunciou esta semana que em 72 horas atingiu o limite de R$ 1,195 bilhão disponível para empresários atendidos pela cooperativa em todo o país por meio do Pronampe.

Os empresários também têm consultado a possibilidade de empréstimos entre pessoas físicas, mas o custo do dinheiro, ele informa, está alto e o financiamento é apenas um paliativo. “O crédito só adia a necessidade de fazer caixa para poder honrar os compromissos posteriormente.”

 Em Serra Negra, Accorsi explica, há duas situações distintas. Para as empresas enquadradas como essenciais pelo Plano SP, como supermercados, lojas de construção, agropecuárias, empórios, oficinas, entre outros setores que tem permanecido abertos durante a pandemia, o impacto financeiro é menor.

Para os empresários dos segmentos considerados não essenciais, ou seja, basicamente o comércio voltado para o turismo, a retração nos negócios chegou em alguns casos a 95% do que as lojas costumam faturar nessa época do ano, relata o empresário.

No início de junho, quando a prefeitura enquadrou Serra Negra na Fase Laranja do Plano SP e permitiu o funcionamento das lojas no horário comercial, o movimento no comércio chegou a atingir 70% do fluxo normal, calcula Accorsi. Depois, com a restrição de quatro horas diárias de funcionamento, o movimento variou de 20% a 30% do normal.

A partir deste sábado, 18 de julho, Serra Negra retorna à Fase Vermelha, etapa mais severa do Plano SP, e a expectativa é que a situação financeira fique ainda pior. “O movimento está aquém da necessidade para cobrir os custos”, observa Accorsi.

Apesar de parte do país e do Estado de São Paulo ainda estarem em isolamento social, Accorsi diz ter notado um ligeiro aumento do fluxo de turistas em virtude de alguns fatores.

Um deles é a temporada de julho, o outro é a confiança das pessoas na retomada da economia e na situação sanitária, com o cumprimento dos protocolos para evitar a contaminação adotados na cidade pelo comércio e as empresas de serviços.

Além disso, ele avalia, a população está ansiosa para voltar a ter uma vida mais próxima da normalidade. As perspectivas, no entanto, são desanimadoras porque a curva de contaminação só deverá começar a ceder e a reabertura do comércio ocorrer de forma mais sustentada em agosto ou setembro, quando, segundo o empresário, a economia da cidade perde fôlego com o fim da temporada de inverno.

“Serra Negra estará em plena baixa temporada, com um país beirando a recessão e com os empresários absorvendo o custo salarial das reduções e suspensões de jornada, além dos financiamentos ou empréstimos vencendo, ou seja, um cenário de caos”, afirma.

Nesse cenário caótico, a luz no fim do túnel vem de pesquisas de mercado, aponta Accorsi, que indicam que o turismo interno e rodoviário serão os primeiros a se recuperar.

“Se realmente as pessoas optarem por se deslocar para destinos próximos, trocando o avião pelo carro, teremos alguma chance”, aposta. As pesquisas revelam também que as pessoas estão mais preocupadas com a natureza, a qualidade de vida e a segurança sanitária.

O empresário defende ações da iniciativa privada e do setor público para conscientizar a comunidade da importância de acolher os turistas de todos os segmentos, como casais, jovens, idosos, esportistas, motociclistas e público LGBT que fazem a economia girar.

“A renda que começa em uma ponta com a visita do turista, termina na outra, chegando no mecânico, no pintor, no médico, na costureira, no apanhador de café, elevando a arrecadação e retornando em forma de benfeitorias públicas, elevando o grau de satisfação da cidade”, conclui.

Comentários

  1. Se está difícil pra quem não paga aluguel, imagine pra quem paga aluguel caro estando fechado, Sabesp cobrando 120,00 de zero consumo e amparado por lei e prefeitura cobrando o imposto mais absurdo, o imposto pra quem trabalha, ou iss, que mesmo sem trabalhar chegou!! São mais 1.500,00 no o carnê. Esse é o nosso incentivo pra continuar.... lamentável!!

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