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Fernando Pesciotta
Neste ano, até maio, 442 pessoas foram mortas por policiais militares no Estado de São Paulo, recorde histórico numa estatística iniciada em 2001. Significa um aumento de 70% em relação a igual período do ano passado. Dentro dos próprios batalhões da PM na Capital, o número de mortos cresceu 34%.
Em praticamente todos os Estados há registros de escalada da violência policial. Pelo menos nove crianças foram mortas por policiais neste ano. Em boa medida, sob aplauso das classes médias.
Num debate com Paulo Cesar Ramos e Jacqueline Sinhoretto, especialistas em segurança, promovido pela rádio CBN nesta quarta-feira, 15 de julho, eles concordaram que a falta de profissionalismo da polícia é uma das causas dessa escalada. Mas é a gestão dos governos o foco das críticas. Assim como o próprio presidente Jair Bolsonaro, governadores foram eleitos na onda moralista e, principalmente, de combate à criminalidade.
Em entrevista ao Roda Viva há alguns dias, o candidato do PT à Presidência da República em 2018, Fernando Haddad, reconheceu que os governos progressistas não souberam dar uma resposta à demanda da sociedade por maior segurança. Deixou um espaço a ser ocupado por propostas conservadoras e violentas, que não poupa vida de pobres e negros nas comunidades e nas ruas.
As redes sociais têm revelado ações violentas de policiais contra cidadãos. Dois exemplos recentes são da mulher negra que teve o pescoço pisado por um soldado da PM e do entregador de pizza negro atacado por dois soldados. Os dois casos foram em São Paulo. Além do excesso de força e abuso de autoridade, os especialistas chamam atenção para o viés racista da corporação.
O caso do entregador ensejou reação do Tribunal de Justiça Militar, herança da ditadura, revela a Folha nesta quinta-feira, 16 de julho. Só que em vez de impor limites aos policiais, o tribunal decidiu permitir que os soldados apreendam quaisquer objetos da cena das ocorrências, numa clara tentativa de evitar que as imagens venham a público.
O pacote anticrime do então ministro da Justiça Sérgio Moro também abriu brechas para livrar maus policiais. O texto de Moro explicita que investigações contra policiais que não tenham constituído advogado não devem prosseguir. Desde então, nenhum PM constituiu advogado nesse tipo de processo. Vigora a impunidade.
Nenhum governador tem de fato o controle das suas forças policiais. Rebeliões dentro dos quartéis e ações violentas nas ruas ratificam a independência e descontrole dessas forças desde a ditadura militar. Acrescente-se a dose de fanatismo das PMs em defender teses abomináveis de Bolsonaro. Não é à toa que a violência policial cresceu descontroladamente durante a pandemia, período em que o presidente insistiu no discurso contra os governadores, teoricamente comandantes das polícias.
Num pais onde o presidente defende publicamente o uso de armas e as polícias carregam vícios da ditadura, continuaremos a ver todos os dias na imprensa e nas redes sociais lamentáveis cenas de violência policial e a morte de inocentes.
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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com
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