//ANÁLISE// O DNA sempre aparece


Fernando Pesciotta

A nova versão do governo de Jair Bolsonaro é uma assumida tentativa de tentar permanecer no poder. Temeroso com os inquéritos contra ele e seus filhos, Bolsonaro esboça uma versão paz e amor. Porém, não dá para esconder o DNA. Duas notícias desta quinta-feira, 2 de julho, são reveladoras da verdadeira essência bolsonarista.

Vista como mais uma derrota do governo, o Senado aprovou o projeto que visa brecar a propagação de fake news. Adorador desse artifício, Bolsonaro não poupou críticas à iniciativa do Parlamento. O projeto ainda depende de votação na Câmara, e a orientação do Planalto é para votar contra o projeto.

“Se for aprovado, cabe a nós a possibilidade do veto. Acho que não vai vingar esse projeto”, reagiu o presidente. Para justificar a derrota sem parecer inexistência de prestígio no Senado, Bolsonaro alega que alguns parlamentares erraram o botão de votação.

Como a proposta prevê cobrança de multa aos infratores, o governo alega que a nova lei, se aprovada, vai afugentar os investidores. Por isso defende a perpetuação de mentiras e fake news. Na lógica bizarra do bolsonarismo, não é o desmatamento, a falta de respeito pela vida ou a incompetência governamental que inibe os investimentos, mas o medo de ser multado por propagar fake news.

A segunda notícia explica a primeira. Bolsonaro divulgou nas redes sociais uma propaganda na qual conversa por telefone com pessoas que não existem. Uma das fotos que ilustra a campanha até já foi usada em outra propaganda do governo.

Conforme relata a Folha, no “diálogo”, a suposta Dona Maria Eulina, que seria de Penaforte (CE), pergunta ao presidente como está a transposição do Rio São Francisco. A foto que seria de Eulina, na verdade, é de uma mulher de Sertãozinho (SP), disponível num site especializado em ofertar imagens para campanhas publicitárias.

Novamente pego em flagrante, o governo logo retirou a peça do ar. Alegou que o vídeo era um “piloto inacabado”. Mais inacabado ainda é próprio governo. Ou melhor, é acabado mesmo.  

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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