//AGRICULTURA// Selo de procedência pode impulsionar turismo regional

Márcia Bichara: ensinamentos de produção do café foram passados de geração para geração

Salete Silva

O selo de Indicação Geográfica (IG), que identifica a região e as características de um produto, possibilitou novas perspectivas de mercado e melhorou os resultados financeiros de produtores de duas regiões distintas.

 A cafeicultura da Alta Mogiana, região do interior de São Paulo, passou a disputar um mercado de café especial que cresce cerca de 20% ao ano.

Os produtores do Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha (RS), tiveram uma valorização de até 500% de suas terras e viram o número de turistas na região saltar de 45 mil por ano em 2001 para 443 mil em 2019.

Inspirado em exemplos como o do Vale dos Vinhedos e do café da região da Alta Mogiana, o Circuito das Águas Paulista aposta no selo de Indicação Geográfica como uma das estratégias para promover o desenvolvimento socioeconômicos e impulsionar o turismo nos municípios da região.

Os processos para obter a IG da cafeicultura e da cachaça produzidos nos municípios da região já estão em andamento no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

Esse foi o tema do segundo painel do 1º Fórum Online: Lideranças e Integração para Desenvolvimento do Circuito das Águas Paulista, realizado pelo Sebrae em parcerias com empresários da região, apresentado nesta terça-feira, 14 de julho.

Reconhecida pelo Organização Mundial do Comércio (OMC), a Indicação Geográfica permite prevenir fraudes, proteger o patrimônio intelectual, promover o desenvolvimento territorial e rural, além de facilitar o acesso aos mercados globais, aponta Francisco Mitidieri, auditor fiscal agropecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

O produto se torna um atrativo a mais para o turista que busca paisagens relacionadas com os produtos que consome, explica o auditor. Com isso, o fluxo de turismo aumenta, impulsionando o movimento de cafés, restaurantes e bares.

“Uma coisa puxa a outra e acaba tendo uma situação de desenvolvimento territorial de ganha-ganha”, explicou o auditor.

A cafeicultura do Circuito das Águas Paulista tem registros de produção desde 1840, quando foi documentado o plantio dos primeiros pés de café. “Sempre com pequenos produtores e com tropeiros, escravidão, a região passou para os barões dos cafés de Campinas”, relatou a historiadora e proprietária do Cafezal em Flor Turismo e Cafés Especiais, Márcia Bichara.

As informações estão sendo catalogadas pela Associação de Produtores de Cafés Especiais do Circuito das Águas Paulista (Acecap), da qual Márcia é integrante. Os descendentes de italianos em especial, ela destacou, ainda mantêm propriedades de café, passando os ensinamentos de produção de geração para geração.

Outro atributo que habilita o Circuito das Águas Paulista à Indicação Geográfica, em sua avaliação, são as pesquisas e variedades de café do mundo inteiro aclimatadas na região pelo Instituto Agronômico de Campinas, órgão de pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, com sede no município de Monte Alegre do Sul.

As premiações que conferem a especialidade e qualidade do café na região, a historiadora destaca, complementam o acervo histórico a respeito da cafeicultura do Circuito das Águas Paulista.

A cachaça produzida na região também tem nas premiações um dos seus pontos fortes, destacou Jorge Benedetti, proprietário da Fazenda Benedetti. “Vamos fomentar a economia, a cultura e a história da nossa região”, salientou.

Assim como o café, as técnicas de produção de cachaça local são um patrimônio transmitido de geração para geração.  “A fermentação natural, a influência no sabor e no processo, além do uso da água mineral da região, vêm dos nossos antepassados”, afirmou. “O clima também é favorável que caracteriza um produto genuíno”, acrescentou.

A experiência dos produtores de vinho do Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha (RS) e de café da Alta Mogiana, região do interior de São Paulo, foram os exemplos de sucesso de obtenção de Indicação Geográficas apresentados no painel.

“O vinho se tornou um produto tão importante para a nossa região que estimulou muitas pessoas daqui e de fora a investir em outras áreas”, relatou Jaime Milan, consultor técnico da Aprovale.

Além das 24 vinícolas, produtoras de 17% dos vinhos finos e 12% dos espumantes nacionais, o setor agregou cerca de 40 empreendimentos ligados ao trade turismo, pousadas e hotéis, restaurantes agências de turismo, agroindústrias, arte e artesanato, entre outros. O setor passou a empregar 1,2 mil pessoas. O fluxo de visitantes subiu de 45 mil em 2001 para 443 mil em 2019.

Em São Paulo, na região da Alta Mogiana, cerca de 2.500 propriedades também detêm o selo de procedência. “O produtor tem muito orgulho de pertencer à Alta Mogiana, alguns deles já estão na quarta geração produzindo café de alta qualidade”, afirmou.

O selo permite proteger a marca, beneficiando, segundo ele, não só os produtores, mas toda a cadeia produtiva e todos os envolvidos em relação ao mercado.

O setor planeja agora acrescentar ao grupo produtores de mais oito municípios mineiros encostados na Alta Mogiana que têm as mesmas características de produção e obter do INPI o selo de origem. 

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