//PANDEMIA// Outro olhar sobre os números


Marcelo de Souza

A prefeitura divulga diariamente nas redes sociais os dados a respeito do covid-19 apontados no município, porém apenas na forma de números.

Seria importante a prefeitura também apresentar os números na forma de gráficos para facilitar a visualização e o entendimento da evolução da doença no município e até permitir uma avaliação mais precisa dos momentos de enrijecimento do distanciamento social ou uma eventual flexibilização. 

Os gráficos a seguir foram elaborados a partir dos dados disponibilizados pela prefeitura nas redes sociais até a data de 25 de junho de 2020.



No primeiro gráfico pode-se observar que no dia 17 de março de 2020 foi registrada a primeira notificação e a seguir o crescimento das notificações ao longo do tempo. Não é difícil perceber que há uma mudança na curva a partir do fim de abril.

Entre a primeira notificação apontada em 17 de março e o dia 25 de abril foram registradas 15 notificações, ou seja, 15 notificações em 39 dias, o que resulta em uma notificação a cada três dias aproximadamente.

Já a partir de 26 de abril, parece ter havido um aumento da velocidade das notificações. Até a data de 25 de junho foram registradas mais 108 notificações num período de cerca de dois meses, ou seja, quase duas notificações por dia, o que corresponde a um aumento na velocidade de notificações de quase cinco vezes entre esses dois períodos.



O segundo gráfico mostra a evolução dos casos confirmados no município. Parecem se repetir dois momentos: um primeiro com velocidade de casos confirmados baixa e, outro, sensivelmente mais elevada.

Por exemplo, entre o 23 de abril, quando confirmado o primeiro caso, e o dia 21 de maio, foram contados 5 casos, ou seja, uma velocidade média de um caso confirmado a cada aproximadamente seis dias.

Já a partir de 22 de maio e até o dia 25 de junho foram registrados mais 20 casos num período de cerca de 35 dias, resultando uma velocidade de um caso confirmado a cada quase dois dias. Portanto, um crescimento de cerca de três vezes.

Parece também haver um “delay” entre notificações e confirmações. De qualquer forma é provável que exista uma correlação matemática entre notificações, casos suspeitos, casos confirmados e óbitos.  

Os gráficos também mostram os momentos dos vários decretos municipais. 

Percebe-se que num primeiro momento, quando os casos confirmados ainda eram baixos, foram decretados distanciamento social mais rigoroso, situação de emergência e situação de calamidade pública, talvez prevendo uma situação mais complicada num futuro próximo, o que seria razoável.

Pode causar estranheza que no momento em que os apontamentos mostravam um aumento da velocidade de notificações e de contaminação no município, foi permitido um certo relaxamento por meio de decretos, entre eles o que permitiu a realização de cultos religiosos com algumas restrições e a flexibilização proposta no Decreto Municipal 5.052 de 22 de maio de 2020. 

Também deve-se considerar que, segundo diversas vezes repetido nas mídias, o vírus chega mais tardiamente no Interior, vindo dos grandes centros. Dizem que nos grandes centros o vírus chega de avião e no Interior chega de ônibus, de carro e, por aqui, talvez de motocicletas, também.

Será que não há assintomáticos caminhando pelas ruas,  principalmente quando a cidade recebe turistas? Será que assintomáticos não estão passando pelas “barreiras sanitárias”, isso quando elas estão em operação? 

Neste momento o Interior chegou a um ritmo de crescimento no número de casos e mortes por covid-19 superior ao registrado na região metropolitana da capital. (Fonte:  https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/05/20/covid-19-interior-de-sao-paulo-tem-ritmo-de-infeccao-maior-do-que-capital.htm).

Adicionalmente, Campinas atinge a maior taxa de ocupação de UTIs para covid-19 (Fonte: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2020/06/19/campinas-atinge-maior-taxa-de-ocupacao-de-utis-para-covid-19.ghtml)

Claro que devem ser considerados os atrasos das notificações, eventuais subnotificações e até mesmo os baixos valores em termos absolutos. Mas os números apresentados não mostram um aumento da velocidade dos casos confirmados? Estamos em que região da curva? Já atingimos o pico? Vitória momentânea ou será que a batalha não começou há pouco tempo por aqui no Interior? E Serra Negra não faz parte do Interior? 

Vale sempre um outro olhar sobre os números e a provocação do pensamento crítico distanciado de questões políticas.

E principalmente, neste momento de pandemia, também valesse a pena repensar o conceito de saúde, o modelo ideal para o crescimento da cidade. Ter um olhar mais amplo de saúde, considerando também a cidade, o meio ambiente, as pessoas e a qualidade de vida. 

Saúde a todos!

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