//OPINIÃO// Auxílio emergencial faz a economia girar


Salete Silva

O efeito do pagamento atrasado da segunda parcela do auxílio emergencial de R$ 600 é visível nas ruas de Serra Negra. As filas nas portas de supermercados voltaram a crescer nos últimos dias depois que o benefício começou a ser liberado.

Essas cenas dão ideia da importância desse benefício não só para milhões de pessoas que ficaram sem renda durante o período de isolamento social, como para as que perderam o emprego em virtude da crise econômica desencadeada pela pandemia do covid-19.

O benefício deverá ser pago apenas mais uma vez, o que será insuficiente diante da gravidade da situação econômica que se avizinha não só nos próximos meses, mas pelo menos até o fim de 2020.

Prevendo a magnitude do impacto da queda de mais de 7% do nível de atividade econômica este ano, o governo federal já anunciou que deverá estender o auxílio emergencial.

Mas por apenas dois meses e, segundo especulações, no valor de R$ 300, metade do que é pago hoje. A mentalidade de austeridade fiscal que já era nociva à renda e ao emprego anteriormente à pandemia, no atual cenário econômico, é totalmente despropositada.

O setor privado é incapaz de sair da atual situação de crise econômica sem a interferência e a liberação de recursos e investimentos do Estado. 

Os dados da última pesquisa do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) revelaram um aumento de 850 mil desempregados no país. 

O resultado pode até dar a impressão de que o número de vagas perdidas não foi tão expressivo diante dos 12 milhões de pessoas que já estavam sem emprego.

A pesquisa, no entanto, revela dados preocupantes, como o de crescimento do desalento, ou seja, de pessoas que procuram emprego, não acham, deixam o mercado de trabalho e entram no estado de desalento.

A última pesquisa do Caged apontou que 5 milhões de pessoas estavam nessa situação, enquanto outras 28,5 milhões  estavam na condição de subutilização. O que dá um total de 34 milhões de brasileiros em situação de miséria.

O auxílio emergencial é premente. As pessoas nessa situação, mesmo se a pandemia arrefecer nos próximos meses, as curvas de contaminação e de óbitos diminuírem e a economia começar a voltar com maior normalidade, o que também é pouco provável no curto prazo, não vão voltar ao mercado de trabalho tão cedo, segundo os economistas.

A taxa de desalento registrada é a maior da série histórica. Não chegou a esse nível nem nas crises de 2015 e 2016. Para os economistas, é necessário que o auxílio emergencial seja estendido pelo menos até dezembro para aplacar as necessidades das pessoas mais pobres.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, argumenta que não há fôlego financeiro para isso, o que vem sendo desmentido sistematicamente por economistas. O lucro financeiro do Banco Central, que em 2020 ultrapassa R$ 500 bilhões, seria mais do que suficiente para atender a essa necessidade.

A equipe econômica quer usar o lucro do Banco Central para reforçar o caixa do Tesouro. Para economistas, a decisão é equivocada neste momento em que a prioridade é garantir a sobrevivência das pessoas e a retomada da economia.

O Brasil tem outros mecanismos de emissão de moeda e de financiamento da dívida.

O discurso de Paulo Guedes é o de que não há dinheiro para nada, em especial para salvar os mais pobres, seja o cidadão de baixa renda ou as pequenas empresas.

Isso ficou claro na afirmação do ministro revelada no vídeo da bizarra reunião ministerial em que Guedes disse que gastar recursos públicos para ajudar as grandes empresas dá lucro enquanto que para salvar as pequenas empresas dá prejuízo.

O Brasil tem a vantagem ainda de não ter endividamento em dólar, o que, segundo economistas, lhe permite manter as reservas cambiais intactas. 

O que o país precisa mesmo, neste momento, é que os recursos públicos sejam usados para movimentar o mercado interno. 

O país precisa de medidas como o auxílio emergencial, que eleva a renda dos mais pobres e dos trabalhadores que, por sua vez, vão consumir e fazer filas nas portas dos nossos supermercados, lotar as nossas lojas e comprar na nossa cidade. 

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