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Carlos Motta
Anos atrás, perguntaram ao volante campeão mundial por que o Flamengo, time em que havia jogado na companhia de uma legião de craques, contrariando todas as expectativas, tinha naufragado rotundamente.
Sem meias palavras, Vampeta esclareceu o mistério:
- Eles fingiam que me pagavam e eu fingia que jogava.
Pois é, o mesmo ocorre atualmente em Serra Negra com esse decreto que liberou geral o funcionamento das atividades comerciais e de serviços, mas ao mesmo tempo impõe uma série imensa de regras sanitárias e de higiene aos estabelecimentos.
Os comerciantes fingem que cumprem as regras e a prefeitura finge que os fiscaliza.
Vamos concordar que cumprir o decreto ao pé da letra é impossível, tantos são os condicionantes, os senões e as imposições nele constantes.
E vamos concordar que a prefeitura não tem condições de averiguar se tudo aquilo que está escrito no decreto vem sendo de fato observado.
Antes mesmo do "liberou geral" de agora, a fiscalização era frouxa.
É impossível entrar na cabeça das pessoas que tiveram a brilhante ideia de editar os decretos que fazem Serra Negra voltar à normalidade em meio a uma pandemia de uma doença mortal.
Não dá para saber exatamente o que as levou a fazer isso, apenas conjecturar.
Uma das possibilidades é que as pressões dos empresários locais tenham sido irresistíveis.
Houve, sim, fortes pressões - no Brasil todo isso se verificou, como parte de um movimento coordenado obviamente pelas entidades de classe, essas que apoiaram entusiasticamente a candidatura do demente que hoje "governa" o país.
Mas mesmo que isso tenha ocorrido, o papel do chefe do Executivo numa situação dessas, se ele realmente está interessado no bem-estar da sua comunidade, é verificar se há condições para decretar o "libera geral".
Um só dado demonstra que a decisão foi no mínimo temerária: de uma semana atrás até hoje, terça-feira, 2 de junho, o número de casos do covid-19 aumentou incríveis 180% na cidade.
180%!
E não é preciso ser sanitarista, ou infectologista, ou mesmo estatístico - basta usar a boa e velha lógica - para prever que os infectados serão, daqui para a frente, muito mais numerosos, já que foi dado salvo conduto para o vírus circular à vontade pela nosso bela Serra Negra.
Então ficamos assim, voltando ao nosso simpático Vampeta: estamos vivendo na cidade um trágico "faz de conta", um jogo de cena que pode enganar somente os tolos.
Como no restante do Brasil, em Serra Negra a pandemia virou algo normal. O sofrimento, a dor e a morte, não têm mais nenhuma importância.
Vamos fingir que estamos consternados com a desgraça.
Vamos fingir que a vida importa mais que as lojinhas abertas.
Afinal, o show tem de continuar.
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