//COMÉRCIO// Franquias devem ter retração de até 40% nas vendas


Fátima Fernandes 

Depois de quase 80 dias fechado, o comércio volta a abrir as portas num momento em que os casos e as mortes decorrentes do novo coronavírus não param de crescer.

Aglomerações foram vistas nesta semana nas ruas 25 de Março, no centro da capital paulista, e na José Paulino, no bairro paulistano do Bom Retiro.

A volta dos clientes nestes primeiros dias de abertura do comércio, porém, não entusiasma os lojistas. Eles acreditam que as lojas devem encher mais nestes primeiros dias.

Há fortes razões. A pandemia parece longe de terminar no país (e no mundo) e, por isso, as pessoas têm receio de sair de casa.

O desemprego e as dívidas das famílias aumentaram, e as perspectivas são de que Brasil pode enfrentar, neste ano, a maior recessão de sua história.

A queda do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro pode chegar à casa de dois dígitos em 2020.

O sumiço dos clientes e a obrigatoriedade de se adequar a padrões de higiene e isolamento social não são as únicas preocupações dos lojistas neste momento.

Os donos de lojas franqueadas começam agora a discutir com as franquias como ficam as compras e as entregas de produtos que foram interrompidas em março.

Quem trabalha com franquias de roupas, por exemplo, recebeu parte da coleção em março. Mais de dois meses sem venda, a discussão entre franquia e franqueado é a seguinte:

Os produtos que não foram entregues podem ser cancelados? Como fica o pagamento das mercadorias que já estão nas lojas e não foram vendidas?

No caso de franquias de roupas há outra questão. A coleção de Outono e Inverno ainda não foi comercializada, mas já está na hora de encomendar as peças de Primavera e Verão.

As franquias terão de fazer o pedido agora para a franqueadora, podem postergar, até quando?

“As conversas são duras, mas decentes. Todos estão procurando uma saída, até porque as franquias são um canal forte de escoamento, comunicação e marketing de uma marca”, diz Gustavo Chicarino, empresário franqueado de várias marcas na Baixada Santista.

Todas essas questões estão também em discussão entre os lojistas que trabalham com multimarcas e as confecções que fornecem os produtos.

O fato é que, neste momento, quem perdeu ou não o emprego está mais preocupado em economizar.

“Não dá nem para fazer previsão de como vão ficar as vendas neste mês”, afirma Nelson Tranquez, presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) do Bom Retiro.

Uma conta rápida feita por ele revela que pelo menos 14 lojas da Rua José Paulino que estavam funcionando antes da pandemia fecharam as portas de vez.

Situação pode se agravar, diz ele, dependendo do ritmo do consumo.

Manter um negócio sem faturar durante quase três meses não é para qualquer lojista.

“O estoque está todo nas lojas. E a orientação é que não se faça promoções para evitar aglomerações. Difícil”, diz Tranquez.

Na Baixada Santista, os shoppings abrem nesta segunda-feira.

“Mesmo que tenha uma corrida de clientes, há limite para a entrada”, diz Chicarino.

Ele diz que a expectativa dos representantes de franquias, com quem têm conversado muito nos últimos dias, é que, neste ano, as vendas devam ser entre 20% e 40% menores do que as do ano passado.

Como franqueado, ele acredita que este número deva ficar mais perto de 40% do que de 20%.

Para ele, o relacionamento remoto com a clientela deve persistir e compensar, em parte, a perda de vendas nas lojas físicas.

O uso do Instagram e do WhatsApp continua firme, assim como a venda por telefone.

Algumas franqueadoras criaram lojas virtuais e são as franquias que vendem os produtos de acordo com o CEP do cliente.

Uma das lojas de Chicarino deve continuar também com o sistema de levar uma mala de roupas até a casa da cliente para a escolha as peças.

“Estamos preparados para fazer a higienização das roupas que saem e voltam”, diz.

Com 55 funcionários, Chicarino diz que ele e o sócio sempre cuidaram muito bem do capital das lojas e, por isso, conseguiram suportar um período grande sem receita.

Assim que as lojas fecharam, eles colocaram todos os funcionários em férias.

Passado o período de 30 dias, um terço do pessoal voltou com redução de 50% a 70% da jornada e dos salários. A outra parte está com contrato suspenso.

“O objetivo maior das empresas do varejo agora não é ter lucro, é sobreviver, empatar o jogo.”

A ideia de Chicarino é trazer todos os funcionários de volta e até contratar mais para a abertura de mais uma loja.

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Fátima Fernandes é jornalista especializada em economia, negócios e varejo e editora do site Varejo em Dia.

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