//ANÁLISE// Parte da população aceita crimes, indica pesquisa


Fernando Pesciotta

A julgar pelos dados da última pesquisa Datafolha, relevante parcela da sociedade brasileira não dá a mínima para a corrupção e irregularidades graves supostamente cometidas por seus governantes desde que estes sejam do seu espectro político. Conforme o levantamento, os números não significam exatamente um conforto para Jair Bolsonaro, mas sua aprovação permanece estável mesmo após a prisão de Fabrício Queiroz.

A pesquisa, feita por telefone, indica que a avaliação de Bolsonaro é ótima ou boa para 32% dos brasileiros, mesma parcela do levantamento anterior, no final de maio. Ou seja, a explicitação do seu suposto envolvimento com a milícia e as rachadinhas não alterou a avaliação feita pela população.

A pesquisa revela, ainda, que 64% dos entrevistados sabiam da prisão de Queiroz e de sua ligação com a família Bolsonaro, embora destes, 11% não tivessem detalhes dessa relação. A maioria também diz acreditar que Bolsonaro sabia onde Queiroz estava escondido.

A melhor avaliação de Bolsonaro se dá entre homens, de alta renda, da região Sul. E a pior se dá entre mulheres, de menor renda do Sudeste e Nordeste, onde chega a ter 55% de reprovação.

Novo ministro

O desconforto de Bolsonaro com os números negativos estão no total da desaprovação, ainda elevada, e na tendência observada nos últimos meses. Talvez isso ajude a explicar sua pressão para que o Ministério da Economia efetive o pagamento do auxílio emergencial por mais três meses. É nessa parcela da população que Bolsonaro conseguiu elevar sua aprovação.

A situação política agravada também pode ter influenciado na escolha do novo ministro da Educação. Em vez de outro olavista ou representante da ala “ideológica” do governo, o escolhido foi Carlos Alberto Decotelli, ex-presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Militar da reserva da Marinha e economista com um currículo respeitável, ele havia deixado o cargo para abrir a vaga a um indicado do Centrão.

A indicação de Decotelli, primeiro ministro negro do atual governo, divide opiniões. Ele traz consigo denúncias de irregularidades que teriam sido cometidas na sua gestão no FNDE. Usuários das redes sociais citam casos suspeitos de compras milionárias de computadores para escolas.

Por seu distanciamento das alas “ideológicas” que marcaram a gestão da Educação com Bolsonaro, Decotelli deverá enfatizar uma visão mais técnica para a pasta. Ele promete “trabalho e gestão integrada”. Nesse sentido, poderá ser uma esperança de maior diálogo, acreditam especialistas ouvidos pela imprensa.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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