//ANÁLISE// Novos riscos para a chapa Bolsonaro-Mourão


Fernando Pesciotta

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) retoma hoje, 9 de junho, o julgamento de oito ações de supostas irregularidades da chapa de Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão que teriam sido cometidas durante a eleição de 2018. Uma ainda improvável cassação da chapa neste ano obrigaria o Congresso a convocar novas eleições presidenciais para complemento do mandato até 2022.

O problema para Bolsonaro é que os julgamentos são retomados no momento de maior fragilidade do seu governo, que completa 18 meses no final de junho. O crescimento das manifestações, o cerco à atuação de robôs e fake news nas redes sociais e a reação a ações desastrosas, como a tentativa de esconder o número de vítimas do coronavírus, constituem o pior momento da gestão bolsonarista.

O próprio presidente dá sinais de que tem sentido o baque. Ontem, ele disse que os manifestantes estão colocando “as mangas de fora”. Ele próprio – ou seu filho Carlos, como se especula – recorreu ao Twitter para se queixar do uso de um boneco de Bolsonaro pendurado de cabeça para baixo pelos manifestantes no domingo, em São Paulo. “Essa é a turma que respeita a democracia e as instituições”, escreveu.


A figura é uma alusão ao ditador italiano Benito Mussolini, criador do fascismo e morto no dia 28 de abril de 1945. Seu corpo foi exposto do mesmo jeito na Piazzale Loreto, em Milão.

O post de Bolsonaro acumula pouco mais de 91 mil curtidas, mas as respostas com críticas a ele somam mais 62 mil interações. Usuários das redes lembram provocações feitas pelo candidato e pelo presidente Bolsonaro, alusões a mortes de adversários e outras aberrações. No auge de sua popularidade, esse total de interações críticas seria impensável.

Novas manifestações estão programadas para o próximo final de semana, mesmo com os riscos trazidos pelo coronavírus.

Conforme revela a Folha, Bolsonaro sente a pressão das ruas e por isso vai tentar a estratégia de isolar os movimentos políticos de centro. Para tanto, intensificará novamente a polarização com o PT.

Não se trata de avaliar se os caminhos escolhidos por Bolsonaro são certos ou errados. Também não se pretende dizer que ele esteja abandonado por seus seguidores, essencialmente catequizados de igrejas protestantes, nem que com isso o TSE vai aproveitar para tirá-lo do poder – o que até pode acontecer.

O fato é que o presidente está no seu pior momento político, mais fragilizado do que nunca esteve em 18 meses de mandato. Porém, para analistas, a culpa é só dele, pelos muitos erros que tem cometido, pela estratégia de viver de conflitos e de até agora não ter entregado nada. Segundo alguns, Bolsonaro já passou para a história como o pior presidente do Brasil.

Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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