//EDUCAÇÃO// Mães tentam suprir ausência dos professores



Salete Silva

Muitas mães se viram obrigadas nesta pandemia a ser também professoras de seus filhos, que estão tendo aulas pelo sistema de ensino à distância (EAD).

As dificuldades enfrentadas por elas vão desde a falta de acesso à internet, passando pelo empenho de manter a atenção das crianças durante as aulas online, até a incompreensão dos conteúdos das disciplinas, com as quais a maioria não tem contato desde que terminou o ensino básico.

“Não é fácil, porque nós, mães e pais de alunos, não entendemos todas as matérias que estão sendo ensinadas. Alguns não veem essas disciplinas há mais de 20 anos”, diz Elaine Baldini, mãe de Letícia, aluna do 5º ano na escola estadual Professora Amélia Massaro. Desde que começaram as aulas por EAD, até provas Elaine já ajudou Letícia a fazer.

Como utiliza a internet no trabalho, Elaine tem acesso à rede e às ferramentas tecnológicas necessárias. “A professora criou uma sala de aula pelo celular e as aulas estão sendo via internet”, afirma.

Elaine e Letícia: "É um ambiente
novo, as crianças não estão acostumadas"

Mas essa não é a realidade de todas as crianças, incluindo muitas que estudam na mesma escola de Letícia. “Tenho amigas mães, vizinhos, que têm filhos na mesma escola da minha filha e que estão sem aulas porque não têm internet em casa”, relata.  

As aulas de Letícia são transmitidas pelo canal da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), disponível aos alunos da rede pública de ensino. Apesar de tentar impor uma disciplina, Elaine relata que a filha tem dificuldade porque as condições de ensino em casa são uma novidade para ela.

“Para as crianças esse ambiente é novo e elas não estão acostumadas como estavam com a sala de aula”, explica. Para que a menina cumpra todas as atividades, Elaine permanece a seu lado o tempo todo.

“Mas ela não gosta, tem dificuldade de entender a explicação da professora online e diz que preferia estar na sala de aula”, acrescenta.

Elaine diz que dificilmente sua filha terá evolução acadêmica por meio do EAD. “Esse sistema é complicado, porque a criança não consegue manter a atenção e as explicações são muito rápidas”, afirma.

A participação dos pais, avalia Elaine, é fundamental para que as crianças aprendam pelo menos alguma coisa. Para ela, o governo deveria ter uma solução rápida para que crianças pudessem voltar logo às salas de aulas e os prejuízos no ano letivo dos alunos fossem amenizados.


Marina e Aghata: "Não sei se
ela vai chegar no fim do ano lendo"

Se é difícil para quem tem internet em casa, para quem não tem o trabalho das mães é dobrado. Marina Lopes, mãe de Aghata, do 2º ano da Escola Estadual Lourenço Franco de Oliveira, sem acesso à internet, pega diariamente os conteúdos com a professora via WhatsApp.

“Pago uma linha de R$ 35 por mês para o WhatsApp ilimitado, que dá para falar, mas não para assistir aulas”, explica.

Marina disse que se esforça para ensinar o melhor possível e que a professora tem sido muito dedicada e essencial neste momento para o aprendizado da filha, que já fez até prova durante a quarentena e tirou boa nota.

Mas Aghata está alfabetizando, ela lembra, e a mãe não sabe se a filha vai chegar ao fim do ano lendo.

“Não sei se este ano é para aprovar as crianças para outra série, porque passar por passar é complicado. Elas têm mesmo é que aprender”, conclui.

Patrícia e Benjamin: "Tenho
de pegar muito no pé dele"

Alfabetizar Benjamin, aluno do 1º ano da escola municipal Maestro Fioravante Lugli é o desafio também de Patrícia Viviane Sambo. O menino, ela explica, é muito falante e se dispersa durante a aula, que começa às 7h30. “Tenho de pegar muito no pé dele para que se mantenha atento o maior tempo possível”, explica.

As tarefas da escola e as apostilas têm ajudado muito no trabalho de Patrícia com o filho. Uma das dificuldades, ela explica, é que as aulas online são ministradas por uma professora desconhecida. “Se fosse a professora dele, acho que seria melhor”, salienta.

Além de Benjamin estranhar, a professora das aulas online não conhece os alunos e as dificuldades específicas de cada um deles. Patrícia diz estar preocupada também porque ele está alfabetizando, vai fazer sete anos e ainda não consegue ler. “Benjamin não reclama das aulas, mas acho que não está assimilando muito”, lamenta.

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