//EDUCAÇÃO// Aula em casa faz aluno sofrer com a distância de amigos e professor



Salete Silva

A saudade dos amigos, das conversas em sala de aula, do contato com os colegas e profissionais da escola, além da dificuldade de tirar  dúvidas com os professores, são as principais queixas dos alunos das diversas faixas etárias que estão em casa e aprendendo por meio do ensino à distância (EAD).

O sistema de educação presencial, eles concordam, é uma maneira muito mais prazerosa de aprendizagem.

"A falta de contato direto torna o estudo muito individualizado, porque você fica no seu mundo, fechadinho, sem conseguir ver como as pessoas estão”, diz Maria Gabriela Ferreria Lopes, que mora em Serra Negra e faz cursinho na escola Villa Lobos, em Amparo.

 A aula presencial, ela ressalta, estimula a interação, já o EAD reforça a individualidade das relações e pode estimular a competição que já é uma realidade entre os estudantes que, como ela, estão se preparando para disputar uma vaga na universidade.

Gabriela: aula presencial
ressalta a interação

O dia a dia também é cansativo e as tecnologias provocam cansaço físico e estresse. “A gente fica de frente para um notebook ou celular, porque muitos não têm computador em casa, fica exposto a uma luz artificial muito tempo, o que provoca dor de cabeça”, relata Gabriela.

Além disso, a tecnologia falha e apresenta problemas técnicos, causando estresse nos estudantes. “Por conta do sistema de internet muito carregado, as lives travam, é preciso abrir novo endereço ou elas caem, travam, você desliga tudo e acaba perdendo matéria”, explica Gabriela.

As aulas à distância, a estudante avalia, são um bom recurso, mas não substituem a aula presencial. “Na sala de aula, o professor sabe que você está com dúvida só de olhar para o seu rosto. Além disso, muitos alunos têm vergonha de participar da aula e ficam sem sanar suas dúvidas", diz.

O apoio pedagógico recebido dos professores em alguns casos, por meio das plataformas, é um dos pontos positivos do ensino à distância.

O caderno digital, uma ferramenta existente, mas pouco utilizada antes da pandemia, passou a ser um dos principais recursos usados pela estudante.

“As matérias e os exercícios são todos feitos pelo caderno digital. Uso também plataforma para lives e os grupos no Facebook e WhatsApp, além do dinamismo dos professores”, afirma.

Mas ela reconhece: esse aparato é privilégio de poucos estudantes. “Isso é uma realidade para poucos e até entre as escolas particulares que estão oferecendo ensino à distância, nem todas têm a mesma infraestrutura e oferecem todo o cronograma de aulas.”  

Se é um privilégio entre as instituições de ensino privadas, ela destaca, o que dirá entre as escolas públicas? Algumas chegaram a suspender completamente as aulas e outras oferecem um sistema precário de EAD com poucos recursos.

Para Gabriela, essa desigualdade vai prejudicar em especial os alunos que estão se preparando para o Exame do Ensino Médio (Enem). “Terá maior chance de conseguir uma vaga no Enem quem mantiver o ritmo de estudos”, conclui.

Bruno: em casa não é a
mesma coisa que na escola

A rotina de estudos dos alunos mais novos também foi muito alterada e as tarefas e aulas realizadas por meio de lives tomam boa parte do dia das crianças e adolescentes, como Bruno Pilom Campos, do 5º ano do Libere Vivere.

“O dia está muito rápido, tenho muitas tarefas, lives, tenho de cuidar dos meus animais, ajudar minha mãe, brincar e assistir minhas séries”, afirma.

A professora, ele relata, está fazendo o possível para que os alunos entendam a matéria. “Mas não é a mesma coisa que aprender em sala de aula”, afirma.

Além de sentir muita falta dos amigos e das atividades na escola, Bruno diz que tem dificuldade em manusear as ferramentas tecnológicas, porque não tem nem nunca teve um celular próprio e seu contato com a internet é muito esporádico.

Enrico: faltam os professores
para tirar as dúvidas

Ficar longe dos amigos também é o lado mais difícil do isolamento social para o estudante Enrico Spinhardi, do 8º ano da Escola Estadual Amélia Massaro. A maior dificuldade é a falta de interação com os professores para tirar as dúvidas.

Sem retorno às aulas previsto, os estudantes sabem que a volta não vai ser fácil e que muitas mudanças devem ocorrer nas escolas depois da pandemia. 

Mas esperam por esse dia com muita ansiedade. “A volta será um momento de muita alegria porque odeio ficar sem contato com gente”, diz Gabriela.

O retorno, ela reconhece, será ainda mais importante para quem não conseguiu se adaptar ou não teve um sistema de ensino à distância satisfatório. “Com o retorno poderão amenizar o prejuízo porque já estão sendo muito prejudicados”, afirma.

Voltar ainda não é seguro os alunos reconhecem. “Quero que volte logo, mas só quando o coronavírus for embora”, diz Bruno. “Será uma felicidade, quero muito brincar no pátio, abraçar meus amigos e voltar a fazer minhas atividades, como karatê e teatro”, afirma.

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