//OPINIÃO// Serra Negra flerta com a morte


Carlos Motta

A afirmação de Carolina Saragiotto Marson, sócia da rede de supermercados Colorado (leia aqui), de que muitos clientes reclamam da orientação para que apenas um integrante da família ingresse na loja, com a finalidade óbvia de se reduzir o risco de contaminação pelo novo coronavírus, é exemplo cristalino da ignorância de grande parcela dos brasileiros.

Mas isso não reflete só a ignorância dessas pessoas que acreditam mais em conversas de WhatsApp ou na palavra do "pastor" daquela biboca que se intitula igreja, do que em fontes científicas ou especializadas, à disposição de qualquer um em milhares de sites informativos na internet.

A ignorância se mistura com o egoísmo, a ganância, a completa falta de empatia e solidariedade com o próximo - um caldo intragável para qualquer ser humano sadio, que vem sendo preparado e servido com extremo zelo há décadas numa sociedade que exalta o individualismo, a competição desenfreada, o salve-se quem puder, e a famosa Lei de Gerson, aquela que diz que o importante é levar vantagem em tudo.

Claro que anos e anos bebendo dessa gororoba, sofrendo um bombardeio incessante da mais chula desinformação, essa parcela da população só poderia se tornar o que vemos hoje, algo que se assemelha a um bando de lemingues correndo para se atirar ao mar num suicídio coletivo.



No caso específico de Serra Negra, há que se observar outro tipo de comportamento, o daqueles que se julgam os donos da cidade, alguns comerciantes e hoteleiros, que pressionam o Executivo a afrouxar as regras do isolamento social, medida mais que necessária para impedir uma calamidade sanitária na cidade.

Esses tipos agem exclusivamente movidos a interesses pessoais mesquinhos e é incrível que o Executivo tenha cedido às suas pressões, liberando o funcionamento, pelo sistema de delivery, de todo o comércio, uma medida que vai aumentar a circulação de pessoas na cidade e, consequentemente, a do vírus.

É fato notório que Serra Negra tem sua economia baseada no turismo, no setor de serviços. Mas a cidade não depende desses comerciantes que hoje colocam a sua mesquinharia acima do bem-estar da comunidade. Na verdade são eles que dependem de Serra Negra, dos turistas que a visitam e se tornam consumidores dos produtos aqui vendidos.

Se eles fecharem os seus negócios não há nenhuma dúvida de que outros representantes - talvez mais bem preparados - dessa classe que chama a si própria de "empreendedores", virão ocupar o seu lugar.

A verdade é que todos, sem distinção, vão ter prejuízos decorrentes desta terrível pandemia. 

E é fato que ninguém pode afirmar que estará livre de ser contaminado pelo coronavírus.

Da janela de meu apartamento vejo um trecho da estrada Serra Negra-Amparo, bem na entrada da cidade. 

O movimento dos veículos é incessante, como num dia normal.

Serra Negra brinca com fogo.

Serra Negra flerta com a morte.

Comentários

  1. Tem cidades da região como Pedreiras que o ministério público está intervindo e fazendo cumprir a lei estadual , FECHAR.

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