//ESPECIAL// Algumas ideias para a Serra Negra pós-pandemia


Carlos Motta

Por hábito e dever de ofício, leio muito - sou um leitor quase obsessivo. E nestes dias de reclusão forçada, me obrigo a procurar notícias que tragam alguma esperança de que a terrível pandemia desta nova doença, o covid-19, termine logo. Mas infelizmente as informações não são boas, não nos permitem dizer que sairemos desta situação nem ao menos num prazo médio, de alguns meses.

A verdade, queiram ou não os negacionistas, os terraplanistas que circundam o Napoleão de hospício encastelado no Palácio do Planalto, é que não há remédio milagroso - pelo menos por enquanto. Nem a possibilidade de que alguma vacina saia dos laboratórios de pesquisa antes do próximo ano - numa perspectiva muito, mas muito otimista.

Assim, vamos ter de continuar a tocar as nossas vidas do jeito que for possível. Quem puder que fique em casa, isolado fisicamente de outros seres humanos. Quem não puder manter essa quarentena, que observe rigidamente todos os cuidados apregoados pelos órgãos sanitários.



Serra Negra está sofrendo nesta pandemia, até o momento, menos que outras localidades. Uma grande parcela da sociedade está respeitando as regras da quarentena. Isso não quer dizer que vai ser sempre assim. Esse novo coronavírus é traiçoeiro e veloz. Não há dúvida que mais dia, menos dia, virá com tudo para nossa região. Há sinais claros disso: cidades próximas já contam várias mortes provocadas por esse inimigo invisível.

Temos de ser realistas. Os efeitos da pandemia sobre a comunidade vão ser enormes - em sofrimento e em vidas. 

Os moradores de Serra Negra, em sua quase totalidade, dependem do turismo para sobreviver. E o turismo é uma das atividades mais prejudicadas pela pandemia. Ninguém está viajando a lazer neste momento. 

No caso local, tanto faz se hotéis, pousadas e comércio em geral, têm ou não permissão para abrir as portas, já que o essencial, o público consumidor, está em falta. 

Portanto, a discussão abre/não abre é inócua e sem sentido. 

Empresários, autoridades, trabalhadores, todos que se preocupam com o bem-estar do município, deveriam, isto sim, se juntar neste momento para uma tarefa bem mais importante, que é planejar a vida em Serra Negra depois que a pandemia for derrotada - e ela será, inevitavelmente.



Isso porque não bastará, assim que for decretado o fim da quarentena, normalizar as atividades comerciais para que tudo se resolva, num passe de mágica. Vai ser preciso um enorme esforço para acelerar a recuperação da economia local. Vão ser necessárias muitas ações, muito trabalho e, principalmente, uma estratégia única, uma diretriz centralizada, para que se recupere os meses perdidos.

Longe de pretender ensinar o Pai Nosso ao vigário, tomei a liberdade de elencar alguns tópicos que, acredito, possam ser levados em consideração nesta hercúlea missão de reerguer Serra Negra. 

Alguns deles são óbvios, outros podem parecer utópicos, mas todos são, a meu ver, perfeitamente factíveis de serem postos em prática - exigem apenas coragem política e determinação.

Vamos a eles:

*A prefeitura deveria criar o mais rapidamente possível um grupo de trabalho para discutir as soluções para a pós-pandemia. Esse comitê reuniria um amplo espectro da sociedade: técnicos, empresários, trabalhadores, artistas, professores etc. E teria prazo curto para concluir os trabalhos. 



* Serra Negra tem de voltar a ser a "Cidade Saúde" para que todo o Brasil a relacione com o bem-estar físico e mental. Nestes tempos de pandemia, vale lembrar, saúde é o que todos buscam.

* Será necessário criar uma campanha publicitária de âmbito nacional para atrair visitantes, destacando a natureza, as águas minerais, o balneário, a segurança, a variedade de compras, a culinária local...

* O comércio passaria a oferecer brindes aos visitantes, como água mineral e outras bebidas locais, lembrancinhas, doces...

* A Praça João Zelante se transformaria numa verdadeira praça de alimentação, com o funcionamento permanente de barracas de comidas e bebidas, nos moldes da festa italiana, por exemplo.



* A Rua Cel. Pedro Penteado viraria um verdadeiro shopping center ao ar livre, com toldos e letreiros das lojas padronizados, banheiros à disposição do público, brinquedos para crianças e quiosques de comidas e bebidas nos fins de semana e feriados, quando a via seria fechada ao trânsito de veículos.

* Os comerciantes locais criariam um grande portal de vendas online, dividido em seções: vestuário, calçados, artesanato, alimentos e bebidas, hospedagem, passeios...

* Hotéis e pousadas se uniriam para promover descontos e oferecer pacotes incluindo passeios pelas rotas turísticas locais, visitas a cidades da região e outras atrações.

* Bares e restaurantes promoveriam festivais de culinária regional, com preços promocionais e pratos exclusivos.

* Haveria música ao vivo em diversos locais do Centro, aproveitando os artistas locais.

* O Centro de Convenções seria oferecido para empresários promoverem shows de artistas conhecidos. Depois de meses sem se apresentar ao vivo, certamente muitos deles terão interesse em fazer shows.

* A mão de obra local seria treinada para atender mais profissionalmente o turista. Ao mesmo tempo, seria mais valorizada.



* Um posto de informações aos turistas seria instalado no Centro da cidade.

* O grave problema da falta de estacionamento para visitantes se resolveria com a criação de um bolsão de estacionamento na entrada da cidade para veículos de passeio e ônibus.

* Os serranos seriam estimulados, por uma campanha publicitária, a comprar no comércio local. 

* Já os comerciantes aproveitariam para fazer promoções.

* O horário do comércio seria alterado para atender, pelo menos nos fins de semana e feriados, os turistas à noite.

* O antigo Grande Hotel Serra Negra, cujo imóvel foi reincorporado à prefeitura, seria transformado num hotel-escola, com cursos profissionalizantes na área da hotelaria e turismo.

Além dessas sugestões é importante observar que na Serra Negra pós-pandemia o Executivo terá de ouvir muito mais a população do que hoje. Da mesma forma, a Câmara Municipal não poderá mais ser apenas o local onde há o encontro semanal de uma dezena de cidadãos que parecem se divertir num despreocupado fim de tarde num desses botequins da vida.

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