//ECONOMIA// Crise já provocou 200 demissões na cidade


Salete Silva

Quase 50 empresas do comércio e rede hoteleira de Serra Negra fecharam suas portas e cerca de 200 trabalhadores serranos perderam seus empregos desde 20 de março, quando começou a vigorar o decreto municipal de combate ao covid-19.  

As lojas e hotéis da cidade já perderam praticamente 70% do faturamento previsto para 2020. Todos os setores da economia do município foram duramente atingidos pela crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus.

Entre as lojas fechadas há pousadas, hotéis, estabelecimentos comerciais com 40 anos de atividades, outras com mais de um ponto comercial na cidade, além de franquias, como a lanchonete da rede norte-americana Subway, de fast food.  

Os dados são da Associação Comercial, Indústria e Agrícola (Acia) de Serra Negra. O levantamento ainda é preliminar, porque a Junta Comercial está fechada em virtude do isolamento social, e só deverá retomar as atividades a partir de 30 de maio, esclarece o presidente da entidade, José Luís Machado.

“A tendência é de aumento desses números a partir do próximo mês”, prevê. Os setores do comércio mais atingidos, Machado avalia, são os de vestuário e artesanatos.

As demissões vêm ocorrendo também em empresas que ainda não fecharam, mas estão impossibilitadas de arcar com os custos da folha de pagamento.



O aumento do desemprego tem ocorrido com grande intensidade, segundo Machado, em especial entre hotéis e pousadas.

Há registro de demissões também entre as pequenas fábricas de artesanato de madeira, couro e vestuários.

“Embora continuem funcionando, as fábricas não estão conseguindo evitar as demissões em virtude das incertezas em relação aos próximos meses”, afirma.

A suspensão do contrato de trabalho por até 60 dias tem sido a medida mais comum adotada pelas empresas. Mesmo assim, segundo Machado, muitas delas têm dificuldades de adotá-las.

A Medida Provisória que autoriza a suspensão do contrato de trabalho, além da redução de salário e jornada, exige que o empregador mantenha os benefícios, como plano de saúde, e garanta a estabilidade do empregado por até 120 dias.

“Muitos não têm condições para isso, o que deverá resultar em demissões em breve”, prevê o empresário.

A linha de crédito para as micro e pequenas empresas, anunciada na segunda-feira, 20 de abril, pela Caixa Econômica Federal (CEF), também não é um alento para os empresários serranos.

As taxas de juros oferecidas pela CEF, de 1,59% ao mês para MEI, de 1,39% para as microempresas, e de 1,19% para as pequenas empresas são superiores às cobradas pelo Sistema de Cooperativas de Crédito (Sicoob), parceiro da Acia na oferta de crédito para os comerciantes da cidade.


Sicoob tem juros
menores que a Caixa
O Sicoob oferece financiamentos com taxas de 0,79% e 0,89%. “Essas taxas da CEF estão totalmente fora do mercado”, afirma. Além disso, as empresas não têm como oferecer garantias de pagamento.

“Para poder se sustentar durante o período de quarentena, a solução dos empresários foi se desfazer de seus bens particulares”, afirma Machado.  

Nem todos os empresários, ele avalia, poderão usufruir dessas linhas de crédito, porque não têm como oferecer a garantia exigida pelos bancos.

Aluguéis

As negociações dos alugueis de imóveis comerciais com os locadores têm contribuído para dar um fôlego aos empresários. A maioria está conseguindo chegar a um acordo, seja reduzindo ou prorrogando e parcelando os prazos de pagamento.

Há alguns acordos que preveem até a redução dos valores dos aluguéis por um período de três meses. “Quem ainda mantêm seu estabelecimento, apesar das portas fechadas, está tentando o melhor acordo no pagamento dos aluguéis para manter o negócio mesmo sem funcionar”, afirma.

O comércio eletrônico tem sido a única fonte de renda para parte dos comerciantes, que estão tentando realizar vendas por meio do WhatsApp, enviando catálogos de coleções e firmando pequenas vendas de atacado para clientes de outras partes do país e também os locais.

“O sistema e-commerce vem surgindo aos poucos, mas também é um método de venda que apenas ameniza nossos prejuízos enquanto aguardamos a reabertura das lojas”, afirma.



Ainda assim será praticamente impossível recuperar os 70% do faturamento já perdidos este ano. A pandemia e a medida de isolamento social estão ocorrendo no melhor período para os negócios turísticos e comerciais da cidade.

Os empresários serranos contavam com os três melhores feridos do ano, que seriam nos meses de abril, maio e as férias de julho, que também foram canceladas.

“Não perdemos apenas dois ou três meses, perdemos os melhores e mais significativos meses do ano”, lamenta Machado.

A expectativa dos empresários agora é poder obter um desconto de no mínimo 50% nos principais impostos municipais, IPTU e ISS.  

“Além disso, esperamos que a prefeitura consiga um fundo emergencial de fácil acesso para a recuperação das empresas”, afirma.

Administrar os custos para reduzir os preços e se tornar mais competitivo, tanto no comércio como na rede hoteleira, ele aponta, é o maior desafio dos empresários serranos.

“Tudo terá de ser mais barato, como estadia em hotéis, malhas, couro, artesanatos”, afirma. Os empresários, ele diz, precisam da ajuda do setor público para recuperar seus negócios.

“Os empresários são pessoas esclarecidas que estão passando por uma grande dificuldade e tristeza, precisam de um auxílio, um incentivo, uma mão amiga, serem tratados com dignidade e não serem 'multados' grotescamente”, desabafou.

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