//VAREJO// Coronavírus derruba movimento de restaurantes


Fátima Fernandes

É a primeira vez em 18 anos que garçons do restaurante América, um dos mais antigos do shopping Pátio Higienópolis,em São Paulo,  veem os clientes sumirem de uma só vez.

Neste sábado (14/3), a queda no faturamento, de acordo com eles, foi de cerca de 90% em comparação com um dia normal de atendimento.

E, neste mês, o restaurante pode até fechar com prejuízo, se o número de clientes de um dia der para contar nos dedos.

No restaurante ao lado, o Galeto’s, garçons diziam que o faturamento no dia 14/3 não tinha atingido R$ 1.000.

No domingo (15/3), a situação não estava diferente. Muitas mesas vazias nos dois restaurantes e em outros do shopping. O cenário se repetia nas lojas.

Representantes de restaurantes e lojas e de shoppings devem se reunir nesta semana para avaliar o que fazer com a crise do coronavírus.


É melhor fechar ou não as portas e esperar até que notícias mais positivas sobre a propagação do vírus surjam? É o que está em discussão neste momento.

No caso de restaurantes, a situação é pior porque os alimentos têm validade curta. Se os clientes não aparecem, não tem outro jeito senão jogar no lixo.

“As secretarias de saúde informam que o pico da doença deve acontecer em 45 dias. O impacto no varejo vai ser brutal”, afirma Gustavo Carrer, consultor de varejo.

Hotéis, restaurantes, toda a cadeia de empresas ligadas a eventos, teatros, cinemas vão sofrer mais o impacto do covid–19, diz ele. “Esse é o cenário mais provável.”

“Todo o comércio associado e próximo de metrôs e pontos de ônibus também deve ser muito atingido e bem agora que o setor estava começando a tirar o nariz para fora da água.”

Como numa crise sempre tem quem perde e quem ganha, desta vez, de acordo com Carrer, ganham o e-commerce e o serviço de delivery (entrega de produtos em casa).

Os supermercados também sentiram um efeito contrário ao dos restaurantes. No fim de semana (14/3 e 15/3), algumas lojas registraram movimento acima do normal.

Na loja do Pastorinho de Perdizes, as vendas no sábado (14/3) foram acima do normal, o que sugere, na avaliação de funcionárias, que os clientes estão preocupados com o estoque.


Em alguns países, como Austrália e Canadá, lojas ficaram sem papel higiênico por conta de uma corrida em busca do produto.

Álvaro Furtado, presidente do Sincovaga, sindicato que reúne cerca de 40 mil pequenos varejistas no Estado de São Paulo, diz que supermercadistas relataram que subiu mesmo a demanda por produtos de higiene pessoal, como álcool e sabonetes.

“Mas não podemos dizer que houve uma corrida por produtos. Há uma demanda um pouco maior, focada em produtos de higiene e limpeza”, afirma.

“Esse é um comportamento normal de pessoas com medo de que a crise se prolongue. Um gesto racional de comprar o que não estraga. Mas isso vai durar alguns dias. Depois, reflui.”

O que os empresários devem fazer neste momento?

Para Carrer, os lojistas que não tiverem estrutura de e-commerce devem intensificar a venda por telefone, WhatsApp e utilizar as mídias sociais.

“Em dois meses não dá para montar uma plataforma de vendas. Quem só tem loja física pode experimentar novas formas de vendas até por uma questão de sobrevivência.”

Não é uma boa solução, diz ele, demitir funcionários.

“Essa crise deve durar alguns meses. Com o adiamento de compras, é provável que o consumo aumente forte no segundo semestre deste ano.”

O lojista, diz ele, precisa ter calma e pensar em jornadas mais flexíveis de trabalho e em planos de férias para os funcionários.

“Vai ter perdas sim, mas com planejamento dá para recuperar vendas no segundo semestre. Se demite os empregados agora, não terá pessoal qualificado para trabalhar depois.”

Vários eventos do setor já foram adiados para o segundo semestre, como a feira da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), um sinal de que a crise vai passar em dois ou três meses.

A CNC (Confederação Nacional do Comércio) divulgou recomendações para os empresários do setor, solicitando que “as empresas e instituições sejam parceiras na divulgação das informações e na orientação de seus colaboradores acerca de hábitos de prevenção”.

“E manifesta a confiança de que os problemas serão superados, com a necessária mobilização coordenada do governo, empresários e da sociedade para as ações preventivas e reativas que se fizerem necessárias.”

“A economia está se recuperando gradualmente, mas a cautela das famílias poderá impactar o consumo. O otimismo dos consumidores vinha aumentando, porém a confiança possivelmente será reduzida nos próximos meses.”

“Os comerciantes devem acompanhar ainda mais de perto a rotatividade dos estoques e o ritmo das vendas. No cenário de preços mais baixos, mas com possível queda na confiança dos consumidores, deve-se evitar estoques elevados.”

“A renegociação de prazos com fornecedores é recomendável para melhorar os fluxos de caixa. Além de cortes temporários de despesas consideradas supérfluas, o esforço maior para aproximar os vencimentos de despesas com as receitas também auxiliará no caixa das empresas.”

“No dia-dia dos estabelecimentos, lojas e empresas, os funcionários e colaboradores devem ser orientados a observarem com atenção o movimento de pessoas, utilizarem álcool em gel após contato e atendimento aos clientes.”

“Observar o movimento de consumidores nas lojas e estabelecimentos, caso necessário, ajustar a jornada de trabalho dos funcionários. Os custos com a mão de obra também podem ser reduzidos.”

Fátima Fernandes é jornalista especializada em economia, negócios e varejo e editora do site Varejo em Dia.


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