//SAÚDE// Empresário quer criar grupo para derrubar restrições ao comércio


Um empresário serrano, que se identifica como do ramo de malhas, propôs aos lojistas do município seguir a orientação do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), de reabrir o comércio e descumprir a determinação do prefeito Sidney Ferraresso (DEM) e do governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), de suspender o atendimento presencial dos estabelecimentos comerciais.

A proposta foi feita por meio de áudio que circula nos grupos de whatsApp, em especial os de empresários locais. Nele, o comerciante diz que gostaria de seguir a ordem do governo federal e resguardar as pessoas com mais de 65 anos e as com imunidade baixa e convocar o retorno dos demais ao trabalho.

“Vamos resguardá-los, deixá-los em casa e nós que temos saúde e condição de enfrentar essa gripe, que não deixa de ser uma gripe, trabalhar”, diz o empresário. Ele, no entanto, diz que teme sofrer sanções, como a cassação de seu alvará, se abrir sua loja sozinho.

O Artigo 8º do Decreto nº 5.029, da Prefeitura de Serra Negra, que estabeleceu as regras de funcionamento do comércio local, prevê cassação do alvará de funcionamento, "com a imediata interdição", dos estabelecimentos que descumprirem a norma.




“Estou convidando, se vocês quiserem, a fazer uma reunião, que pode ser feita, não tem problema, de ir, vários comerciantes e empresários, até a prefeitura e informar o prefeito que a gente vai seguir a regra do governo federal”, afirma no áudio.

O empresário argumenta que sozinho não teria força e que as autoridades argumentariam que ele não tem representatividade para falar em nome dos demais, uma vez que é proprietário de apenas "duas ou três lojas".

“Se os comerciantes estiverem querendo abrir, e eu acho que tem de abrir, e quiser juntar, eu sou o primeiro a levantar essa bandeira”, afirmou.  Ele propõe a organização de um grupo para ir até a prefeitura explicar ao prefeito que os comerciantes vão seguir a regra do governo federal e intimá-lo a assinar um decreto para a reabertura do comércio.

“Vamos abrir, pelo amor de Deus, mais 20 dias não vamos aguentar”, afirmou o empresário. Ele relata que seu ramo, de vestuário, segmento ao qual pertencem 80%, segundo ele, dos empresários da região do Circuito das Malhas, já vem de um período de vendas ruim no verão e que este ano está ainda pior.

Todo o capital das lojas de malha, ele explica, está investido em mercadoria de inverno que já foi adquirida pelos lojistas e que está estocada. “A maioria compra mercadoria de inverno, estoca, pega a sua liquidez e compra produto para início de abril, Semana Santa, marco do início bom de vendas, como sempre foi.”

Seguindo essa tendência, ele explica, a maioria dos empresários, como ele, está repleta de mercadoria na prateleira e sem dinheiro. Sua situação, relata, é ainda mais grave porque apostou no crescimento da economia e no governo do presidente Bolsonaro.



“Eu sou uma pessoa que além disso tudo investi do meu bolso, reformei uma loja, vocês não tem nada a ver com isso, estou só explicando, acreditando no ano, acreditando no governo, no crescimento, investi numa loja de esquina, que é uma loja de sapato e aluguei uma outra que estava construindo e agora está tudo parado. Meu dinheiro está tudo lá”, relatou.

Ele diz que sua preocupação é a mesma de todos os que trabalham e que ele está numa "idade zero de óbito”. Afirma também que pretende manter a decisão de descumprir o decreto municipal. “A não ser que o Bolsonaro volte atrás amanhã, mas se ele continuar dizendo que temos de trabalhar, na mesma linha do Trump, estou aqui para o que der e vier, mas sozinho vou apanhar muito, vou sofrer sanções como a cassação de alvará”, afirma. Termina afirmando que levantará essa bandeira se até uns 15 comerciantes concordarem e se juntarem a ele.
    
Enquete lançada pelo Viva! Serra Negra, ainda no ar, com a pergunta "Você acha que o comércio deve continuar fechado", aponta, até o momento, 80% de respostas afirmativas - indicação que ampla maioria dos serranos concorda com a tese de que mais importante que tudo é preservar vidas neste momento difícil da vida do país.

Ao contrário dos governos municipal e estadual, o governo federal ainda não editou nenhum decreto determinando a abertura indiscriminada do comércio. O presidente Bolsonaro tem apenas expressado a sua opinião sobre o assunto, concordando com o que pensa o presidente americano, Donaldo Trump, e empresários que o apoiam. 

O áudio do empresário serrano segue os mesmos argumentos usados por alguns vereadores locais, como o líder do prefeito, Edson Marquezini (PTB), que, na última sessão da Câmara Municipal, segunda-feira, 23 de março, considerou as medidas em relação ao comércio muito “agressivas”. “O índice de mortes é muito pouco”, avaliou o vereador.

Também Ricardo Fioravanti (PDT), da oposição, se disse preocupado com a expectativa de que o fechamento do comércio se mantenha por maior tempo. "Se se alastrar por dois ou três meses veremos muito mais gente quebrada do que doente”, afirmou. 

A assessoria de imprensa da Prefeitura de Serra Negra informou que o chefe do Executivo, Sidney Ferraresso (DEM), prefere não se pronunciar ainda sobre a iniciativa do empresário. Mas diz que a posição da prefeitura é de que continuam valendo os decretos municipais e, ainda que fossem revogados - o que não tem previsão no momento - permaneceriam valendo os decretos estadual e federal - o segundo, estabelecendo os serviços essenciais que devem funcionar, continua em vigor apesar da fala do presidente.

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