//SAÚDE// Comércio de Serra Negra fecha a partir desta sexta-feira


Teresa Cristina Fernandes, secretária de Saúde:
 "Importante é evitar o contato entre as pessoas, isso é que vai 
determinar quantas vidas poderemos salvar”

Salete Silva

Com o objetivo de evitar a circulação de pessoas na cidade, a Prefeitura de Serra Negra vai criar um novo decreto que estabelece o fechamento por 15 dias do comércio serrano, a partir desta sexta-feira, 20 de março, e da rede hoteleira e os bancos, a partir de segunda-feira, 23 de março.

Lanchonetes e restaurantes também fecham e só podem funcionar em sistema de delivery (entrega). Os supermercados continuarão funcionando normalmente, assim como as farmácias, que poderão ter seus horários estendidos para melhor atender à população.

Para evitar excesso de circulação de pessoas, os supermercados podem baixar portarias limitando o número de consumidores em seus estabelecimentos.

A decisão foi tomada em reunião no gabinete do prefeito Sidney Ferraresso (DEM) da qual participaram autoridades e representantes de entidades empresariais do município.

Além do secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico, César Augusto Oliveira Borboni (Nei) e a secretária municipal de Saúde, Teresa Cristina César Fernandes, participaram técnicos da saúde e da vigilância sanitária, entre outras autoridades.

Os empresários estavam representados pelo diretor da Associação de Hotéis, Restaurantes e Similares de Serra Negra (Ashores), André Antônio Marinos, pelo presidente da Associação Comércio Forte, Rafael Accorsi, e pelo presidente da Associação Comercial Industrial e Agrícola de Serra Negra (Acia), José Luiz Gomes Machado.

Turistas preocupam

Além da população idosa que representa boa parte dos cerca de 28 mil habitantes de Serra Negra, a principal preocupação da secretária de Saúde e de técnicos da área é a chegada de turistas proprietários de imóveis de veraneio na cidade nesse período de quarentena.



Serra Negra tem sido a opção de refúgio de muitos dos que estão tentando fugir dos riscos de contaminação de cidades maiores, em especial as do litoral e da capital paulista. Técnicos da saúde e da vigilância sanitária temem o aumento do risco de contaminação com o crescimento da população flutuante do município.

A secretária de Saúde informou que a prefeitura está adquirindo novos respiradores e que o Hospital Santa Rosa de Lima inicialmente deverá contar com quatro desses equipamentos, mas lembrou que a instituição não dispõe de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

LEIA AQUI ÍNTEGRA DO DECRETO Nº 5.029

“Vai ter caso aqui em que o paciente vai ter de ser transferido, porque não temos UTI”, afirma. A secretária explicou que quanto maior a prevenção menos problemas futuros. “Importante é evitar o contato entre as pessoas, isso é que vai determinar quantas vidas poderemos salvar”, salientou.

A secretária relatou que há um grande contingente de pessoas de veraneio que vêm para suas casas em Serra Negra fugindo das cidades grandes. “Não podemos evitar que entrem no município”, salientou. Mas essas pessoas, ela lembrou, podem estar infectadas e a circulação delas pelas ruas da cidade pode elevar o risco de contágio.

O fechamento do comércio e dos bares e restaurantes da cidade tem como objetivo evitar a circulação de pessoas, que tem crescido principalmente nos supermercados.

“Não temos como controlar a entrada das pessoas, mas se conseguirmos evitar o contato por um tempo, evitar a circulação, vamos conseguir reduzir o pico da pandemia no município”, concordou o empresário Rafael Accorsi, para o qual o momento agora é de cuidar da saúde da população.

Impacto na economia

O secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico, César Augusto Oliveira Borboni, o Nei, lamentou o impacto das medidas na atividade econômica e nos empreendimentos comerciais, que já vêm registrando retração nas últimas semanas, com a queda nas vendas do comércio e em especial no cancelamento das reservas na rede hoteleira.

“Todo mundo está num momento difícil, o faturamento das empresas está caindo, a prefeitura está perdendo receita, as consequências disso vamos ver durante o ano, que seria muito bom”, afirmou salientando, no entanto, que se sente otimista e com expectativa de que essa situação se resolva de maneira mais rápida.



O cenário apresentado pelos empresários participantes da reunião, no entanto, é preocupante. As reservas da rede hoteleira têm caído de forma vertiginosa nas últimas semanas.

Os empresários têm de devolver os depósitos antecipados pelos turistas, mas já não dispõem mais desses recursos, que foram utilizados para cobrir seus custos.

“Depois de cumprir as obrigações com meus funcionários, minha prioridade é devolver o dinheiro dos hóspedes”, salienta André Antônio Marinos, do Hotel Fazenda Akropolis.

Os empresários lembraram que as empresas já vêm em dificuldade há algum tempo e a expectativa era que 2020 seria um ano positivo financeiramente para Serra Negra, que nos dois últimos anos tem investido em marketing e na organização do setor turístico.

Boa parte dos comerciantes, segundo os empresários, terá muita dificuldade de manter os negócios durante e em especial depois da pandemia, que não tem prazo para ser controlada.

Os empresários solicitaram flexibilização do pagamento de tributos como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e o Imposto Sobre Serviço (ISS).

O adiamento por três meses do pagamento da parte da União do Simples Nacional, com o objetivo de beneficiar as pequenas empresas, anunciado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, foi criticado pelos empresários.

A medida não deve aliviar a situação financeira das empresas, argumentaram, uma vez que durante a quarentena não haverá faturamento e o pagamento do imposto deverá ser efetuado no segundo semestre deste ano.

“Joga para outubro, mas não tem faturamento, como as empresas vão pagar?”, questionou Accorsi. Por essas e outras dificuldades os empresários preveem um aumento da inadimplência dos estabelecimentos comerciais da cidade.



Além de já ter gasto as antecipações feitas pelos hóspedes no ato da reserva, os hotéis têm de cumprir suas obrigações com os funcionários e com fornecedores que, segundo Marinos, não aceitam cancelamento de encomendas. "Grandes fornecedores, como JBS, não cancelam a carne que você não vai usar porque não tem hóspede", lembrou Marinos.

 “As contas chegam de forma cruel e não tem conversa, como vou deixar meu trabalhador sem receber?”, questionou o empresário. O secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico disse que é possível estudar com os titulares das pastas econômicas a possibilidade de adiar o pagamento do IPTU.

Cuidado com fake news

Essas e outras medidas serão discutidas e decididas ao longo dos próximos dias pelo grupo de empresários e autoridades, de acordo com a evolução da pandemia no país, no Estado e em especial no município. O diretor da Ashores destacou a importância de a população serrana não se informar por meio de fake news nem compartilhar informações sem checar sua procedência.

“O que atrapalha muito são as fake news, conversa fiada, temos de parar de repassar coisas que a gente recebe”, afirmou. A empresa de produtos de higiene e limpeza Ypê, de Amparo, ao contrário do que circulou nas redes, ao longo desta semana, está funcionando e não vai parar, ele informou. 

“Conversei com o dono da empresa e ele me disse: 'Agora que o Brasil precisa ser lavado e precisamos de sabão, vamos fechar?'"

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