//OPINIÃO// Teorias da conspiração só atrapalham


Salete Silva

Uma das coisas que me chamaram a atenção quando me mudei de São Paulo para Serra Negra 20 anos atrás foi a velocidade com que as fofocas e as teorias de conspiração se espalham por aqui.

Vão desde casos extraconjugais a brigas de vizinhos e intrigas políticas. Mas assim como surgem, os boatos rapidamente se dissipam e a maioria deles são se comprova. Faltam provas, mas sobram teses e teorias.

Até em cidades pequenas a disseminação dessas teorias pode ser desastrosa. Imagina quando envolvem temas de relevância global e são impulsionadas nas redes sociais por milhares de compartilhamentos.

Em meio a maior pandemia dos últimos 100 anos, que deverá resultar em milhões de mortes mundo afora, e que provavelmente provocará uma crise econômica mundial tão ou mais grave do que a de 1929, a população está formando opinião com base em teorias da conspiração.

E é justamente nos países emergentes e pobres, como o Brasil, que necessitam do apoio e da colaboração das nações desenvolvidas, é que ganham mais força, expondo a ignorância de sua população e dificultando apoios essenciais para acordos internacionais de cooperação.



Uma delas, que se tornou muito emblemática, é a de que o novo coronavírus foi criado em um laboratório ligado ao Partido Comunista da China.

Essa teoria ganhou impulso esta semana com uma publicação do portal Agora Paraná, que teve mais de 8 mil compartilhamentos no Facebook e que utiliza como "base" um vídeo de 2015 da emissora italiana Rai informando que cientistas chineses estavam testando a reação de um vírus em animais.

Não há comprovação científica alguma de que o novo coronavírus tenha sido criado em laboratório. Pelo contrário, um estudo realizado por pesquisadores do Scripps Research Institute e publicado na revista especializada Nature Medicine mostrou que o vírus surgiu de mutações na natureza.

Por que acreditar em teorias de conspiração em vez de dar crédito às análises fundamentadas de cientistas, como o biólogo Atila Iamarino? Didaticamente, o biólogo expõe a dimensão da pandemia e apresenta os resultados que as diferentes opções de solução pelos governos podem resultar.

A realidade pelos olhos da ciência traz, sim, muitas angústias, mas também joga luz nas discussões. Sem ela não será encontrado o melhor caminho para enfrentar a pandemia, evitar o maior número de mortos possível e amenizar o impacto global da crise econômica.

Pode ser que alguns dados internos tenham sido sonegados inicialmente, mas pesquisadores que estiveram na China comprovam as informações divulgadas pelo governo chinês. Além disso, a China enviou ajuda à Europa no combate ao coronavírus e vai fornecer os kits de testes rápidos ao Brasil.

É hora de ouvir a ciência, os pesquisadores, os profissionais que se dedicam a estudar infectologia ao longo de suas vidas, os profissionais da saúde e a mídia responsável. As teorias, fofocas e intrigas que parecem às vezes irrelevantes em cidades pequenas podem fazer grandes estragos em um momento tão delicado quanto este que atravessa a humanidade.

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