//OPINIÃO// É bom lembrar: sem o homem não há economia


Carlos Motta

O vereador Edson Marquezini (PTB), líder da bancada situacionista na Câmara Municipal, elogiou, na última sessão do Legislativo, segunda-feira, 23 de março, as ações da prefeitura para conter o avanço do covid-19 no município, mas considerou as medidas em relação ao comércio agressivas.

O decreto determina a suspensão do atendimento presencial dos estabelecimentos comerciais, com algumas exceções: farmácias, supermercados e similares, lojas de conveniência, padarias...

Marquezini baseou sua crítica nos argumentos amplamente divulgados por empresários bolsonaristas e pelo próprio presidente da República: os efeitos de uma paralisação da economia, consequência do período de isolamento da população para evitar uma explosão do contágio pelo coronavírus, serão mais prejudiciais ao país do que a pandemia em si.

Segundo tal raciocínio, haverá uma quebradeira geral, enorme aumento do desemprego e comoção social em decorrência das medidas de confinamento da população. “O índice de mortes é muito pouco”, avaliou o vereador, usando informações de que o Brasil deve ter entre 2,5 mil a 3,5 mil mortes provocadas pelo covid-19. “Nada comparado à Itália”, afirmou.

Segundo ele, quem vai pagar a conta mais pesada é o trabalhador. O empregado, na sua opinião, vai ficar sem salário. “O empresário vai salvar o dele (...) Não vai pagar o empregado, vai deixar para a lei trabalhista", disse.


O vereador Ricardo Fioravanti (PDT), de oposição ao prefeito Sidney Ferraresso (DEM), concordou com Marquezini: “Se a pandemia se alastrar por dois ou três meses veremos muito mais gente quebrada do que doente (...) Pequenos e médios comerciantes vão ficar sem condições de arcar com suas responsabilidades”, afirmou.

Há que se respeitar o discurso dos dois - afinal, o Brasil é uma democracia, dizem.

Mas há, antes de mais nada, de se respeitar a lógica.

O comércio da Rua Coronel Pedro Penteado e vias transversais é inteiramente voltado para os turistas - e eles não só não estão mais vindo à cidade, como deixarão de visitá-la por um bom tempo. O restante das atividades comerciais de Serra Negra vive dos negócios com seus moradores, que, em grande parte, têm se isolado do convívio social. 

Dessa forma, por que deixar o comércio aberto, se não há consumidores nas ruas?

Por que expor os funcionários à contaminação?

Não custa nada lembrar que o coronavírus surpreendeu pela velocidade de transmissão e que uma pessoa contaminada pode passá-lo para mais dez, que passarão para tantos outros, numa progressão geométrica.

É certo que os micros, médios e pequenos empresários vão sofrer nesta crise. 

Eles, porém, têm mais recursos para atravessar estes tempos tormentosos que os seus funcionários. E são muito mais fortes do que aqueles que vivem de bicos, sem carteira assinada, e do que aqueles que estão desempregados.

Não há solução fácil para essa equação - salvar vidas ou salvar a economia? -, e se há, ela teria de vir do Estado, que tem por obrigação cuidar do bem-estar da população.

Mas é perfeitamente possível, se os governos municipal, estadual e federal tiverem vontade de achar uma fórmula que preserve a vida e a economia.

A economia é uma invenção do homem, não o contrário.

Sem o homem, não há trabalho. Sem trabalho, não há riqueza, não há nenhuma atividade econômica. 

Hoje, mais que nunca, é preciso ser racional. 

Ser lógico.

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