//POLÍTICA// A noite em que a esquerda ocupou a Câmara


A Câmara Municipal de Serra Negra foi ocupada democraticamente pela esquerda na  noite de sexta-feira, 24 de janeiro.

O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) de Serra Negra realizou no plenário do Legislativo municipal um encontro regional da legenda e de apresentação de seu diretório local.

Participaram do evento o deputado estadual Carlos Giannazi, a vereadora de Campinas Mariana Conti, Biula Muller, do diretório do PSOL de Campinas, José Carlos Miranda, da direção estadual, e Silvia Ferraro, do diretório nacional.

A casa lotou com integrantes não só do partido no município, mas também com representantes de diretórios do PSOL de diversas cidades da região, como Bragança Paulista, Socorro, Pedreira, Jaguariúna e Amparo.

Na abertura do encontro, a presidenta do PSOL serrano, Érica Pilom Campos, destacou que um dos objetivos da legenda é ocupar uma cadeira na Câmara Municipal para mudar a história política de Serra Negra por meio da diversificação do perfil dos legisladores eleitos em mais de um século de existência.

“A maioria dos eleitos nesses anos são homens, brancos, ricos, da família tradicional brasileira que não nos representam”, afirmou a presidenta apontando para a galeria de fotos dos vereadores que ocuparam a presidência da Câmara Municipal de Serra Negra desde 1890, quando foi eleito como primeiro presidente da casa, o coronel Pedro Penteado.

Apenas uma mulher, Helenita Marchi, destacou também a presidenta do PSOL, integra a galeria de fotos da Câmara Municipal.

“Iniciamos essa luta por falta de representatividade”, enfatizou Érica. “Esse grupo de privilegiados que vem comandando a cidade de geração em geração governa para os privilegiados, achando que política se faz por herança hereditária”, afirmou.

Entre as bandeiras prioritárias do PSOL, ela destacou a melhoria da qualidade dos serviços públicos municipais e das condições de trabalho e valorização dos professores, além da oposição à política do governo federal em especial em relação aos retrocessos sociais e aos programas direcionados aos negros, índios e população LGBT  (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros).

A oposição ao governo federal de Jair Bolsonaro (sem partido) foi destacada por todos os integrantes da mesa de convidados como prioridade do partido.

O deputado estadual Carlos Giannazi disse que a esquerda precisa radicalizar, porque o outro lado já radicalizou e ocupa 30% do eleitorado. Para o deputado é preciso radicalizar “com um discurso crítico e libertador”.

“O momento é difícil, de desmonte do Estado, de ataque aos movimentos sociais, trabalhistas, previdenciários, à democracia, à soberania nacional, que é um método de destruição”, acrescentou o deputado.

Giannazi também comentou a galeria de fotos de vereadores da Câmara Municipal de Serra Negra: “Não vejo negros, tem apenas uma mulher que foi presidenta em algum momento da Câmara de Serra Negra. É preciso que o PSOL ocupe espaços”, salientou.

A ativista e feminista Silvia Ferraro, do diretório nacional, criticou o Aliança para o Brasil, partido ainda em construção pela ala dissidente do PSL que apoia Jair Bolsonaro. O partido, segundo ela, é um dos elementos que revelam o perfil do governo federal.

“O símbolo do Aliança pelo Brasil é o número 38, uma alusão a balas de revólver”, afirmou. “Esse grupo hoje no poder é de milicianos, os mesmos que mataram nossa companheira Marielle [Franco, vereadora do PSOL no Rio de Janeiro, assassinada em 14 de março de 2018] e até agora não sabemos quem a matou”, afirmou a ativista.


Barragens


A preservação ambiental e a construção de barragens de água nos municípios vizinhos Pedreira e Itapira também foram temas abordados pelos convidados.

As duas barragens são empreendimentos de grandes empreiteiras similares, segundo a vereadora de Campinas Mariana Conti. Além de os processos de construção nos dois casos, na sua opinião, apresentarem indícios de irregularidades, as duas obras não são adequadas para resolver o problema de abastecimento de água.

Em Campinas, 30% do território é área de preservação ambiental. “Em nome da construção dessas barragens, a Câmara Municipal de Campinas aprovou uma lei que autoriza suprimir matas, necessárias para produzir água, que só ocorre com proteção de matas”, relatou a vereadora.  

Embora a justificativa para a construção da barragem de Pedreira, de 50 metros de altura a dois quilômetros do centro da cidade, seja a de prover água para a população, o seu projeto, segundo a vereadora, não prevê a construção de adutora para fazer a distribuição de água na rede e realizar o abastecimento.

“Pelos nossos estudos, a construção da adutora custaria mais do que o total gasto na construção da barragem e seria outro processo de licenciamento”, afirmou. “Essas obras são uma ameaça para a água e há muitos interesses econômicos no principal recurso da região do Circuito das Águas.”

O Circuito das Águas, a vereadora destacou, provê água para a Grande São Paulo, cuja bacia hidrográfica está poluída. “O governo de São Paulo, com as grandes corporações, têm tomado a água do Circuito das Águas”.

A vereadora lembrou ainda que a água é responsável por movimentar o setor turístico da região. “Se o turismo depende da água, é importante defender a água”, concluiu. Autora de um projeto que prevê a segurança da população antes da construção das barragens, a vereadora,espera colocá-lo em votação ainda em fevereiro.

Os discursos dos convidados foram encerrados por José Carlos Miranda, da direção estadual, com uma mensagem: “A nossa luta é que tem a dor da Marielle, do Rafael Braga, de Zumbi dos Palmares, de Chico Mendes e de todos que combateram até hoje para que tenhamos uma vida digna e que a palavra felicidade não seja só nos dias de festas, mas no cotidianos da linda raça humana que existe nesse planeta e nessa cidade.”


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