//CRÔNICA// Salmonelas e sequelas


Carlos Motta

Um dos episódios mais relembrados pelo pessoal que trabalhou no Estadão das antigas é o da "maionese assassina", como ficou conhecido. 

A dita cuja provocou efeitos dolorosos nos pobres coitados que se deleitaram com sua aparência enganadora.

Poucas horas depois do almoço no concorrido restaurante do jornal, eles começaram a sentir os efeitos do alimento estragado e foram levados para o hospital mais próximo, do jeito que dava - até mesmo um ônibus foi fretado pela direção do vetusto matutino para socorrer as vítimas da prosaica, mas traiçoeira receita.

Felizmente, não houve vítimas fatais.

Noves fora os vômitos, a diarreia e outras sequelas provenientes da intoxicação alimentar, os sobreviventes acabaram encarando a catástrofe com o bom humor dos resignados, enquanto aqueles que escaparam das salmonelas passaram a evitar o mais que podiam os petiscos oferecidos no almoço da firma.

Nem é preciso dizer que o incidente foi comentado por muito tempo - e o restaurante do jornal passou a ser amaldiçoado.

Esse caso tragicômico me veio à lembrança ao saber que, na passagem de ano, os hóspedes de um grande hotel serrano foram acometidos de mal similar ao dos jornalistas do Estadão das antigas.

Segundo contam, tiveram de ser medicados no hospital local. Fisicamente já devem ter se recuperado, mas não duvido que psicologicamente ainda estejam abalados ao ponto de rejeitar repetir tão breve a experiência deste réveillon. 

Principalmente em nossa cidade.

Isso porque, ao contrário do caso do abominável restaurante do Estadão, as vítimas desta desafortunada passagem de ano não devem ter o fair play que caracteriza o jornalista - ou o seu cinismo, como queiram - e certamente estão falando cobras e lagartos daqueles que os hospedaram e os alimentaram - e foram muito bem pagos para isso.

Incidentes como esse denotam, no mínimo, incompetência. E podem, como as bactérias causadoras das intoxicações alimentares, rapidamente se proliferar, minando a saúde de toda uma rede hoteleira que, mais do que nunca, precisa se mostrar não só hospitaleira, mas profissional.

Antes de terminar, cabe informar que o hotel responsável pelo réveillon indigesto foi multado pela Vigilância Sanitária. Uma punição merecida, convenhamos, mas comparável a um comprimido de aspirina usado para combater uma gripe.



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