//CIDADE// Uma voz a favor dos cães abandonados

Jarbas e Dalva cuidam de 92 cães que foram abandonados

Salete Silva

Assim como um cão de raça no colo do motorista ou no seu próprio carrinho de passeio se tornaram cenas frequentes nas ruas da cidade, as ações para acolher, melhorar a qualidade de vida e oferecer bem-estar aos cães, em especial aos vira-latas, abandonados, doentes e rejeitados, ganham cada vez mais a adesão da população de Serra Negra.

Foram poucos os turistas ou moradores serranos que, no último domingo, 11 de janeiro, passaram pelos três filhotes da ONG Josanka Anjos de Patas, expostos para adoção na Praça João Zelante, sem dar uma paradinha.

Um queria acariciar, outro brincar com os bichinhos ou ainda pegar informações sobre os pets com o presidente da entidade, Jarbas Guarani Paonessa, professor universitário aposentado.

Os avanços na proteção e cuidado com os animais são resultado do trabalho de conscientização realizado, nos últimos anos, por diversas entidades de acolhimento de animais do município.

Uma delas é a ONG Josanka Anjos de Patas, criada e mantida há oito anos por Paonessa e sua esposa Dalva Paonessa.

O casal trocou a capital paulista, onde já mantinha 20 cães, por Serra Negra em 2010.  “Nosso objetivo é dar dignidade aos cachorrinhos”, diz Paonessa.

Apesar das conquistas, ainda há muito trabalho a ser realizado em especial no que diz respeito aos maus tratos, crime previsto no Artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais.

É a mesma lei que criminaliza “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados”.

Maus tratos a animais podem dar até quatro anos de prisão, ele informa. “Para denunciar, basta ir à delegacia e fazer um Boletim de Ocorrência”, orienta.

Por desconhecimento muitas denúncias e queixas, informa Paonessa, deixam de ser realizadas.

Para melhor esclarecer a população sobre o assunto, a ONG trará a Serra Negra no próximo mês a ativista Luisa Mell e o deputado estadual Bruno Ganem (Podemos), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Venda de Animais da Assembleia Legislativa de São Paulo.

“Ainda não marcamos uma data nem o local, mas as palestras do deputado e da Luisa Mell devem ocorrer em fevereiro num hotel da cidade”, afirma.

Com a iniciativa, Paonessa pretende estimular a integração das ações das ONGs e entidades de protetores de animais do município.

A integração e o diálogo entre os ativistas são essenciais, ele avalia, para que a sociedade continue evoluindo nas iniciativas de proteção animal.

“Há cinco anos era completamente diferente. Muitos ainda prendiam seus cachorros com corda.”




Conscientizar é uma tarefa árdua, ele reconhece, e nem sempre é possível agradar. “Nesses anos de ativismo já ganhei fama de malcriado, antipático e até grosseiro, mas há informações essenciais que precisam ser ditas mesmo que desagradem”, explica.

Se os pais querem levar um cachorro para uma criança pequena, por exemplo, Paonessa diz que recomenda a compra de um cachorro de pelúcia.

Se querem adotar um cachorro grande e moram num apartamento, ele sugere que mudem de residência.

“Você não pode entregar um cachorro para uma criança e dois dias depois, o pai vem devolver”, afirma.

O ativista também confessa que às vezes enfrenta conflitos com protetores e outros ativistas.

Há muitos pedidos de acolhimento de animais, mas os casos são analisados separadamente. “Não recolhemos cachorros saudáveis ou que não tenho certeza de que tem dono”, afirma

Os cachorros doentes ou em situação de risco são recolhidos na hora. Segundo ele, algumas ações, na sua avaliação, não são integrais e os animais acabam desassistidos.

“Não adianta castrar, vacinar e devolver para a rua. É preciso finalizar o atendimento”, completa.

Outro problema comum é o preconceito. Cachorros de raça são doados rapidamente, os vira-latas levam mais tempo para encontrar um dono.

Os mais rejeitados são os cachorros pretos. Há, sim, racismo até na doação de animais.

“Há muito preconceito contra cachorro preto. Gostam quando é filhotinho, cresceu, um abraço. Ninguém mais quer”, afirma.

A demora no funcionamento do Castramóvel adquirido pela prefeitura é outro problema na cidade.

“Serra Negra e Monte Alegre do Sul são os dois únicos municípios que receberam verba do deputado federal Ricardo Izar (Progressistas) e não colocaram ainda o Castramóvel para funcionar.”

Localizada no Km 154 da Rodovia Serra Negra – Lindoia, na primeira entrada depois do acesso ao Frigo Charque, a ONG Josanka Anjos de Patas, mantém atualmente 92 cães, dos quais 60% não são para doação porque estão doentes, em tratamento ou são idosos.

Há entre eles muitos de raça, como labradores, pitbull e border collie, que foram abandonados. O professor e sua esposa, também professora, começam a cuidar diariamente dos cães às 6 horas da manhã e só param às 14 horas.

“Minha mulher cuida e verifica pessoalmente cada animal”, relata. Hoje, a ONG conta com um centro curativo e um centro de banho e tosa construídos com ajuda financeira do Frigo Charque.

 “Estamos muito bem estruturados, nossas baias medem 3 m x 5 metros, onde mantemos, no máximo, cinco cachorros. Os custos mensais variam de R$ 4,5 mil a R$ 5 mil, arcados com as aposentadorias de Paonessa e de Dalva.

As parcerias com empresas e pessoas físicas são feitas a partir de doações em rações, medicamentos e materiais de forma geral.  

A ONG começou com 60 voluntários, dois meses depois tinha 30. Terminou o primeiro ano de vida com apenas cinco voluntários. “Oito anos depois, somos nós dois”, informa.

O trabalho já foi reconhecido pela Assembleia Legislativa de São Paulo que concedeu menções honrosas à ONG Josanka e a seu projeto Anjinho de Patas, que faz doação de filhotes.

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