//TURISMO// Tunísia recebe mais visitantes que o Brasil


"Pelo seu gigantismo territorial, variedade de climas e regiões, maior floresta tropical do planeta, é algo impressionante como o Brasil NÃO é um destino turístico em escala global." Este é o início do artigo intitulado "Por que o Brasil Não Atrai Turistas?", de André Motta Araújo, publicado originalmente no jornal eletrônico GGN. O texto aponta as principais causas de o turismo nacional ser tão pouco prestigiado pelos estrangeiros e mostra algumas soluções para transformar o país num gigante da área - criando milhões de empregos e trazendo bilhões de dólares para movimentar a economia.

Num momento em que Serra Negra começa a ver o trabalho de um novo Conselho Municipal de Turismo e dá os primeiros passos para recolocar a cidade entre os principais destinos do Brasil, o artigo de André Araújo é não só informativo, mas inspirador. Afinal, muito do que se aplica do turista estrangeiro vale para o turista nativo.

A seguir, a sua íntegra:

Pelo seu gigantismo territorial, variedade de climas e regiões, maior floresta tropical do planeta, é algo impressionante como o Brasil NÃO é um destino turístico em escala global. Patinando numa estatística medíocre de 6 milhões de visitantes por ano, a esmagadora maioria da própria América do Sul, basta comparar com o México, segundo maior País latino-americano, que atrai 40 milhões de turistas por ano. Só a dupla de cidades costeiras conhecida como Los Cabos, na Baixa California mexicana tem tantos turistas como o Brasil. O pequeno Portugal recebe 22 milhões de turistas por ano e o turismo já responde por 20% do PIB português. Na América do Sul, o Brasil ganhou US$ 5,9 bilhões com turismo estrangeiro (2017), quase igual à Colômbia que ganhou US$5,4 bilhões, mas muito menos que a República Dominicana, que teve receita de US$7,5 bilhões com turismo estrangeiro, um pequeno país-ilha.

O gigante Brasil, com 6,6 milhões de turistas (2018), recebeu menos visitantes que os pequenos Marrocos (11 milhões) e Tunísia (7 milhões) ou a Coreia do Sul (15 milhões). Pelo tamanho do Brasil esse fracasso é uma vergonha, o turismo é GRANDE EMPREGADOR DE MÃO DE OBRA e divulgador do País, ajuda a promover exportações, cria influência cultural e geopolítica, é uma indústria sem fumaça que traz muito mais benefícios do que a maioria das exportações.



Por que a atratividade do Brasil em matéria turística não cresce, é um desastre inteiramente desproporcional ao tamanho do País e sua riqueza cultural?

O Brasil é o maior País católico do mundo, é o maior País multiétnico e multirracial entre os grandes Países, tem enorme riqueza de ambientes, cultura popular, arquitetura, natureza, povo geralmente simpático e receptivo, por que o turismo não progride no Brasil? Vamos às causas.

PÉSSIMA ADMINISTRAÇÃO DA ÁREA NOS GOVERNOS

O Ministério do Turismo, desde sua criação, e as Secretarias de Turismo nos Estados e nas Capitais foram ocupadas, com RARÍSSIMAS exceções, por pessoas sem a menor experiência e conhecimento da área, amadores improvisados, indicações políticas de péssima qualidade, RAROS OCUPANTES DESSAS PASTAS FALAM UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA, não sabem nada do tema e nem querem saber.

As estruturas burocráticas do Ministério e das Secretarias tem de tudo, menos profissionais do setor, não há metas, não há projetos, não há planos para incrementos quantitativos de atração de estrangeiros.

2.NÃO HÁ ESTRUTURA DE TURISMO RECEPTIVO

Faltam guias TREINADOS, fluentes em idiomas nos polos receptivos, existem balcões e quiosques improvisados, não existe bom material de roteiros, indicações, informações. O Ministério do Turismo deveria ter ESCOLAS DE GUIAS, esses deveriam estar disponíveis nos polos turísticos, uniformizados e bem treinados, desde a chegada do turista no País. Tudo o que existe hoje no País é PRIVADO, montado à custa de empresas e agências, a parte oficial é quase nula, falta marca, cara, emblema, entusiasmo por parte do Estado brasileiro nessa matéria que é econômica mas também é cultural e política.

3.FALTA PROPAGANDA DO BRASIL NO EXTERIOR

O México gasta fortunas em promoção de turismo no exterior, está presente em todos os eventos e feiras turísticas com grandes estandes, seu magnífico estande na Disneyworld da Florida é ótima propaganda. Por meu contato foi apresentada ao Ministério e à Embratur a agência americana que faz propaganda do México nos EUA, eles queriam apresentar de graça um projeto piloto para divulgação do Brasil, NENHUM INTERESSE do Ministério ou da Embratur, houve reunião, mas disseram que não havia verba para propaganda, isso faz uns 10 anos. Depois a mesma agência procurou a Confederação Nacional do Comércio e Turismo, não passaram da telefonista., interesse zero, é uma mentalidade generalizada de desinteresse na área.

4.EQUIPAMENTOS TURÍSTICOS NÃO PREPARADOS

Nos parques, museus, botânicos, faltam BANHEIROS CIVILIZADOS, cafés minimamente atraentes, lojas de material-tema, filmes, livros, camisetas, sacolas, fotos, posters, como lembrança que o turista gosta de levar. Nos museus da Europa e EUA essas lojas são grandes fontes de renda, são lojas amplas e não quiosques, geralmente ao lado de grandes cafés-restaurantes, isso é raríssimo no Brasil. Também falta material interno em várias línguas nos museus, jardins botânicos, com algumas exceções como as Cataratas do Iguaçu, único local brasileiro razoavelmente preparado para grande turismo estrangeiro.

No Instituto Butantan, em São Paulo, maior centro mundial de pesquisa sobre cobras, que poderia ser uma excelente atração turística, há uma carrocinha super pé suja de café, banheiros ultra precários, lojinha micro, tudo muito relaxado, ambiente de pouco caso, PODIAM COBRAR ENTRADA CARA mas preferem ser de graça e descuidado, assim é a maioria dos parques e atrações, tudo com aspecto de abandono, com algumas exceções.



Também faltam equipamentos-padrão que existem em todos países com mar, por exemplo, barcos de turismo nas cidades litorâneas, com passeios, restaurantes. Rio, Salvador, Recife deveriam ter esse tipo de barcos que existem nas grandes cidades litorâneas dos EUA e Europa. Nossos grandes rios têm raros barcos de turismo, os que existem são precários, sem nível internacional. Ver o Rio de Janeiro a partir do mar é uma experiência que todo turista gostaria. O Rio já teve, depois de um acidente há 30 anos não teve mais. Não há um barco de turismo, por exemplo, do Rio a Búzios, ou do Rio a Angra, equipamentos óbvios em grandes países marítimos. Nossos imensos lagos-reservatórios não têm barcos de passeio, ao contrário dos lagos europeus, trens turísticos há pouquíssimos e todos têm enorme procura, deveria haver mais.

Também faltam certos cuidados básicos de manutenção e segurança em atrações como o Cristo Redentor no Rio, onde a escada rolante ficou meses quebrada, pessoas de idade não conseguem subir as escadas, o grosso dos turistas são pessoas de idade, é preciso pensar neles nos equipamentos.

A segurança no Brasil não é tão ruim, o México também é inseguro, assim como Roma, até certo ponto insegurança hoje há em muitos países que, nem por isso, deixam de receber muito turismo. Mas no Brasil sempre se pode melhorar nos polos turísticos, guardas atenciosos e que falem mais uma língua causam ótima impressão em turistas, vale a pena investir nessa área, traz retornos certos e no Brasil há moços de sobra para essa função.

No caso de hotéis, o Brasil está razoavelmente bem, há bons hotéis por todo o País. É uma lastima que o antigo e excepcional Hotel Tropical de Manaus tenha falido e esteja fechado, no coração da Amazônia, um hotel enorme, bem localizado e equipado. A EMBRATUR fez alguma coisa para salvar esse equipamento? É assunto de Governo, não tem lógica deixar um hotel nessa localização fechado e se deteriorando.

5.AMAZÔNIA E PANTANAL

Deveriam ser os dois grandes polos turísticos do País, a sua preservação e atratividade valem muito mais que madeira extraída e pastagem de boi, esse deveria ser o foco de concentração de um plano turístico, muito mais que resorts de praia, que existem por todo o mundo, a concorrência é grande, o Caribe tem muita praia, assim como a África do Norte, Grécia, Turquia e ilhas do Pacífico, mas ninguém tem Pantanal e Amazônia, recurso único.

O descaso do Brasil com o turismo receptivo estrangeiro, um setor que poderia gerar facilmente um milhão de empregos novos, vem de longe. O turismo nunca foi uma prioridade nos projetos de crescimento do País e continua sendo um setor negligenciado, enquanto isso os brasileiros de classe média e média alta continuam viajando para fora cada vez mais, os gastos registrados de brasileiros no exterior são QUATRO vezes maiores do que o gasto de turistas estrangeiros no Brasil e o gasto de brasileiros fora não param de crescer, enquanto o de estrangeiros no Brasil está estagnado e deve cair. O grosso dos estrangeiros que vem ao Brasil são de argentinos e chilenos, os dois Países estão com problemas econômicos e, neste verão, que é a temporada turística do Brasil, o ingresso deve cair e não estamos atraindo europeus e americanos. A agressão ao meio ambiente está queimando a imagem do Brasil no Primeiro Mundo, é a anti propaganda do Brasil, já que não fazemos a propaganda turística a favor do País.

O gasto com um Ministério do Turismo é inútil, não serve para quase nada e não produz resultados, é um Ministério que pode ser extinto, assim como as Secretarias de Turismo, meros cabides de emprego em Estados e cidades. Esse setor nunca foi levado a sério no Brasil, é uma questão de mentalidade.

Dos cinco grandes países do mundo, o Brasil é o que recebe menos turistas, apenas 6,6 milhões em 2018, contra 79 milhões nos EUA, 62 milhões na China, 24 milhões na Russia e 17 milhões na Índia. É algo impressionante e os números falam por si só.




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