//OPINIÃO// Aprender, não; empreender, sim


Carlos Motta

O nível de emprego, continua, 11 meses depois que Jair Bolsonaro (sem partido) assumiu a Presidência da República, sem reagir, indicando que a atividade econômica ainda está longe da tão propalada recuperação. 

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a PNAD, do IBGE, a taxa de desemprego do trimestre encerrado em outubro é de 11,6%, ou cerca de 12,4 milhões de pessoas sem nenhum tipo de ocupação. Além disso, o número de brasileiros trabalhando na informalidade, como vendedores ambulantes, bateu recorde, atingindo 24,4 milhões de pessoas. 

A alta é de 3,9% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Outro recorde foi registrado pela pesquisa do IBGE: o número de empregados sem carteira de trabalho assinada no setor privado chegou a 11,9 milhões de pessoas – 2,4% acima do índice do mesmo período de 2018.

Já a taxa de subutilização da força de trabalho está em 23,8% – o equivalente a 27,1 milhões de pessoas. Essa taxa soma os desempregados, quem gostaria de ter trabalhado mais horas e quem poderia trabalhar, mas desistiu de procurar emprego. 

Nesse andar da carruagem, o Brasil galopa para se transformar no país dos camelôs, dos biscateiros, dos "faz-tudo", dos vendedores ambulantes, dos prestadores de qualquer tipo de serviço, dos pequenos comerciantes... 

Felizmente, os ideólogos do neoliberalismo não veem nenhum problema nisso e até louvam esse tipo de ocupação, à qual chamam de empreendedorismo - como é bom empreender!



Aqui mesmo na pequena Serra Negra, os educadores se encarregam de formar os futuros empreendedores. 

Desde  agosto, graças ao projeto Jovens Empreendedores Primeiros Passos, do Sebrae, alunos de 1º e 2º ano da rede municipal de ensino aprendem, na teoria e na prática, a ser empreendedores. 

Segundo informa a assessoria de imprensa da prefeitura, os alunos da escola do Bairro das Posses, "produziram perfumes, chás e sabonetes, depois, fizeram a venda desses produtos e, no fim, cada aluno teve o lucro de R$ 35". Com o lucro, compraram brinquedos. 

O press release da prefeitura informa ainda que a diretora da escola disse que considera o projeto "extremamente interessante", uma vez que estimulou os alunos "a olharem a vida como uma visão diferenciada, empreendedora, despertando o interesse pelas propostas comerciais, além de impor "noções de corporativismo, cooperação, responsabilidade e educação financeira”. 

O prefeito Sidney Ferraresso (DEM) visitou a escola. Achou o projeto "muito interessante e eficiente". Segundo disse, "as crianças rapidamente aprenderam o conteúdo, inclusive, quando fomos embora, ao invés de eles falarem ‘tchau’, nos disseram ‘volte sempre’, ou seja, já estão praticando o empreendedorismo”.

As autoridades serranas estão entusiasmadas com o sucesso dos empreendedores mirins. Asseguram que o projeto vai continuar no ano que vem. 

Serra Negra, portanto, está na vanguarda, não só desse projeto escolar, mas no amplo e ambicioso projeto do governo Bolsonaro que visa transformar o Brasil numa enorme república empreendedora - dezenas e dezenas de milhões de pessoas se esgoelando nas ruas para vender - não se sabe a quem - as mais incríveis bugigangas made in China.

Vamos, pois, trocar o aprender pelo empreender.

Empreender é top.




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