//TURISMO// Rotas ajudam a consolidar a marca do bem-estar

Os jipes da agência Serra 4x4 chegam ao Café Santa Serra: turista busca novidades

Salete Silva

Giuliana é a quinta geração da família Marchi a se dedicar ao café de alta qualidade, que até 2015 tinha sua produção toda destinada à exportação.

A premiação de melhor café do Estado e melhor do Brasil, há quatro anos, despertou o interesse dos apreciadores da bebida pelo café produzido pelos Marchi.

Para atender a nova demanda por café torrado e moído, a família lançou a marca Café Santa Serra e abriu as porteiras para o turismo rural.

Não havia hora mais oportuna para isso. A marca Café Santa Serra surge no momento em que Serra Negra investe no turismo rural com a criação de três rotas turísticas: Queijo e Vinho, Bairro da Serra (cafeicultura) e Alto da Serra (café e aventura). 

“Percebendo que seria necessário agregar valor aos nossos produtos, lançamos no ano passado a marca Café Santa Serra, que está em fase de registro e de lançamento de novas embalagens. A partir de julho deste ano abrimos a propriedade para o turismo de experiência”, relata Giuliana.

O turista tem algumas opções para chegar à propriedade dos Marchi, que integra a rota turística Alto da Serra.

Uma delas é por meio da agência receptivo Serra 4x4, criada também este ano, e que oferece um passeio até lá por um caminho rural percorrido em jipes.

Há opções também para chegar à propriedade com o carro próprio ou excursões anteriormente agendadas.

Para o turista que busca uma experiência rural, o Café Santa Serra oferece um passeio pela propriedade para conhecer as etapas de produção, do grão à xícara.

“O visitante tem oportunidade de conhecer os diferentes tipos de café e de aprender a diferenciar o especial do tradicional, além de fazer degustação”, explica Giuliana.


O "Cafezão": mesa farta
O Café Santa Serra também oferece o “Cafezão” para grupos de no mínimo dez pessoas, à tarde ou na parte da manhã, conforme o interesse dos turistas.

Além de uma mesa farta, com bolos, pães, sucos e queijo, entre outras iguarias, é oferecido um passeio que leva ao cafezal com vista privilegiada.

O Café Santa Serra é uma das dezenas de propriedades rurais de Serra Negra abertas ao turismo rural, algumas das quais há anos, mas que começam agora a ser organizadas em rotas para impulsionar o setor e alavancar o turismo de bem-estar no município. 

“São rotas que já existem, mas vamos formatá-las de forma diferente, investir em mídia com produção de folhetos e o comerciante que estiver dentro da rota e quiser participar vai ter de adequar seu produto e sua propriedade”, diz o secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Serra Negra, César Augusto Borboni, o Nei.

As propriedades têm de oferecer acessibilidade, banheiros limpos e cumprir horário de atendimento, entre outros requisitos, cita o secretário. Já há cerca de 50 estabelecimentos rurais envolvidos no trabalho de organização do setor.

Há de tudo um pouco: produtor de café, geleia, torresmo, cachaça, vinho, café colonial, palmito, cafeteria, além de museu do café e passeios com cachoeiras e trilhas.

Há lugares ainda não totalmente preparados e outros que vão abrir as portas. Os turistas, lembra o secretário, dão muito valor a essas coisas simples ligadas à natureza, que muitas vezes os serranos não percebem porque estão acostumados com essas paisagens.

“Quem vem de fora procura o Alto da Serra, o teleférico, o queijo e o vinho, quer ir aos sítios pegar fruta no pé, conhecer como é feito o vinho, a cachaça. Não é novidade para nós, mas para eles é”, conclui.


Articulação


O movimento de organização das propriedades turísticas foi impulsionado por ações empresariais ocorridas no município no último ano a partir da constatação, por meio de pesquisa, de que o turista vem a Serra Negra em busca de bem-estar.

“Muitos dos passeios e visitações dessas rotas nasceram das conversas e de iniciativas que fomos construindo juntos”, diz a diretora de marketing da Associação dos Hotéis, Restaurantes e Similares de Serra Negra (Ashores), Sirlene Terenciani, proprietária da Pousada Shangri-lá.

Desde o ano passado, empresários serranos vêm se articulando para impulsionar o turismo que até recentemente estava muito restrito ao comércio do centro da cidade.

O turismo rural e o turismo de aventura no Alto da Serra ganharam maior espaço no marketing e propaganda da cidade, em especial na última temporada de inverno.

“O pessoal das propriedades rurais começou a trabalhar e oferecer produtos com um padrão que muitos deles nem sabiam que tinham”, diz Sirlene.

Para profissionalizar e capacitar o setor, a prefeitura e a iniciativa privada firmaram parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

O trabalho, ainda inicial, começou de porta em porta. “Vários representantes de cada bairro foram conversando com o pessoal das propriedades para verificar quem tinha interesse de participar da rota, de receber turista e desenvolver o seu negócio ou quem já está atuando e quer fazer parte da construção dessas rotas”, relata a consultora de negócios do Sebrae Cintia Maretto.

Os técnicos ainda estão fazendo um inventário das rotas. “Existem hospedagem, hotéis/pousadas e alguns atrativos, como café, vinho, pizza e refeição no local, que fazem café da tarde”, cita a consultora.


Rodrigo e Clóvis Carra: movimento aumentou

Família Carra

Há empresários rurais há mais de 20 anos com as portas abertas, como a Família Carra, que também está em sua quinta geração de produtores de vinho e é proprietária do Sítio Bom Retiro, localizado na rota do Queijo e Vinho, onde se localiza a sua adega.

O turista pode conhecer no local sua linha de vinhos produzidos artesanalmente há 120 anos e de cachaça há 100 anos. Há 20 anos, lembra Rodrigo Carra, a família começou a ter uma visão mais turística.

A crise econômica dos últimos anos afetou os negócios. Este ano, avalia Carra, o movimento melhorou, alcançando entre 20% e 25% acima do ano passado. Ele atribui o melhor resultado às iniciativas de divulgação do turismo de Serra Negra e à mudança no perfil do turista para uma faixa de maior poder aquisitivo.

Rodrigo também disse ter percebido que o turista este ano está com menos receio de gastar e as compras em geral foram de maior valor.

Ele acredita que a recuperação econômica do país só virá a partir de 2021 ou 2022. Já o desenvolvimento do turismo no município dependerá da atuação eficaz da Secretaria de Turismo, na avaliação de Clóvis Carra, o patriarca da família. 

Falta ainda, ele aponta, maior participação dos empresários serranos em feiras e eventos de promoção turística. No período de 13 a 17 de novembro será realizada a feira Revelando São Paulo, de divulgação da cultura popular do Estado, e Serra Negra, segundo ele, não vai participar.


Sinalização


A sinalização das rotas turísticas será uma das primeiras medidas importantes para o turismo rural.  A prefeitura já tem projeto aprovado pelo Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos (Dadetur) e aguarda liberação dos recursos.

“Além da sinalização, são necessários portais, folders, site e divulgação conjunta com a prefeitura”, diz o vereador Leandro Gianotti Pinheiro (PV), que tem participado de reuniões com empresários e o Sebrae.

“As rotas turísticas, bem planejadas e investidas, vão gerar empregos, principalmente para as pessoas que residem nas zonas rurais, tendo uma grande facilidade de locomoção e uma preservação da cultura”, conclui o vereador.

Para os empresários, no entanto, nesse primeiro momento, as rotas turísticas são fundamentais para a sobrevivência do próprio negócio que em geral garante a empregabilidade da família.

O turismo tem crescido para acolher o pequeno produtor, explica Rodrigo Carra. Em vez de abandonar a propriedade ou pedir emprego na cidade, o produtor cria emprego para ele e a família. “A ideia de todo mundo que tem um negócio é crescer. Se crescer, acaba contratando”, conclui.

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