//CULTURA// Feira de antiguidades será a nova atração de Serra Negra

Francisco Bertan, o Chicão: "A arte transforma o ser humano"

Carlos  Motta

No ano que vem Serra Negra terá uma nova atração nos domingos para moradores e turistas: uma feira de antiguidades, no Recinto de Exposições Casco de Ouro, na Avenida Juca Preto. A informação foi dada pelo diretor da Divisão de Cultura do município, Francisco Bertan, o Chicão. Segundo ele, os estudos para a realização da feira, ainda sem data definida para começar, estão avançados. "Estamos preparando o regulamento, que vai incluir o que pode ou não ser vendido", diz. Carros, motos, peças de veículos, por exemplo, estão de fora. 

Essa feira de antiguidades não será a única novidade que Chicão pretende apresentar para os serranos no próximo ano. Ele também estuda o lançamento de um projeto inovador, de reforço escolar em praças públicas: "Já conversei com alguns professores, acho que poderíamos ajudar, dessa forma, muitos alunos que não têm dinheiro para pagar professores particulares para as aulas", afirma. 

Se esse projeto ainda está em fase inicial e depende do engajamento de voluntários, resgatar a tradição da cidade na produção teatral parece, para Chicão, mais fácil, já que ele tem tem mantido contato com entusiastas das artes cênicas, como Breno Beghini, professor do Colégio Libere Vivere. "Não temos só vontade, mas espaço físico para darmos o primeiro passo para voltarmos a fazer teatro em Serra Negra", diz, se referindo à nova casa da Divisão de Cultura, o Palácio Primavera, na Praça Sesquicentenário.

Antes, a divisão estava abrigada numa sala do Mercado Cultural, onde está instalada a Secretaria de Educação e Cultura de Serra Negra. Hoje, tem um prédio todo à disposição. E um imóvel grande, com uma ampla sala na parte superior, onde estão o museu, a pinacoteca e a biblioteca municipais, além da recepção e sala de reuniões, e um espaço igualmente amplo, na parte inferior, que já está sendo utilizado para inúmeras atividades, como as oficinas culturais e as sessões do Kanemo Cineclube.

As peças do museu não estão todas no Palácio Primavera. Parte delas está guardada e deverá ser exposta futuramente. "A minha ideia é ir trocando as peças em exposição", explica Chicão. O espaço da pinacoteca está sendo usado para exposições. Painéis com releituras de obras de artistas serranos ajudam a embelezar o local.

Biblioteca tem 6 mil volumes
A biblioteca conta com cerca de 6 mil volumes, entre obras de ficção e não ficção. O diferencial é o espaço dedicado aos deficientes visuais. Há livros em braile, audiolivros, equipamentos para ampliar as letras dos livros e até mesmo uma impressora em braile. Tudo novo.

As oficinas são outro tema que entusiasma Chicão. Hoje, os serranos contam com aulas de dança de salão, hip hop, capoeira, balé clássico, zumba e viola caipira. No total, cerca de 400 pessoas participam das oficinas no Palácio Primavera. 

O resultado tem agradado o diretor de Cultura, que destaca as aulas do violeiro Lucas Campaci, que já resultaram até na criação de um grupo de violas, o Boa Esperança, que já vem se apresentando na região. Mas Chicão quer mais: "Pretendo ampliar o público das oficinas, levá-las para os bairros, descentralizá-las."

Descentralização. Essa é a palavra que tem orientado Chicão no seu trabalho de agitador cultural. Quando fala sobre como foi este ano, sobre seus acertos e erros, ele imediatamente diz que sua prioridade tem sido descentralizar as ações culturais na cidade. "Elas só existiam no Centro e estamos procurando levá-las para os bairros, mesmo os mais distantes."



Uma dessas ações foi a biblioteca itinerante, um ônibus adaptado, que visitava semanalmente os bairros. O programa teve de ser interrompido quando o bibliotecário da prefeitura pediu demissão, meses atrás. Mas é quase certo que o ônibus-biblioteca volte a andar pela cidade no ano que vem, dessa vez estacionando ao lado de praças - e não mais nos sábados, mas no meio da semana.

De todas as atividades promovidas pela Divisão de Cultura neste ano, uma delas, porém, se destacou de maneira tão forte que, em poucos meses se integrou à rotina de boa parte dos serranos. Trata-se da Feira Noturna Cultural, que todas quintas-feiras, transforma a Praça Sesquicentenário numa festa de cores, sabores e sons. 

"Temos hoje 115 participantes na feira e mais umas 100 pessoas que estão querendo participar. Então estamos gerando renda para todas essas pessoas, estamos ajudando a economia da cidade", diz Chicão, que conta que a sua ideia, ao criar a feira era dar uma "injeção de cultura" para quem a visitasse. "Tivemos nela artes plásticas, música, literatura, dança... A população gostou e fez da feira um ponto de encontro. Além disso a gente sabe que alguns feirantes sobrevivem graças a ela", afirma.

O sucesso da feira foi tanto que o seu modelo, segundo Chicão, virou referência para as outras cidades do Circuito das Águas Paulista: "Ela hoje está sólida, a prefeitura praticamente não tem gastos, os artistas que nela se apresentam são pagos pelos próprios feirantes, que criaram um fundo para isso."

Na biblioteca, impressora em braile
Esse sucesso, porém, não se repetiu quando a feira foi levada para os bairros. A expansão seguia a lógica de descentralizar as atividades culturais, mas Chicão reconhece que o resultado não foi "100% positivo" por causa de um fator: de acordo com ele, cada bairro de Serra Negra tem a sua peculiaridade. "O São Luiz, por exemplo, é mais festeiro, no Alto das Palmeiras o público estava mais interessado em comprar hortifrútis, e só no Nova Serra Negra deu tudo certo", diz.

O programa acabou sendo interrompido quando a prefeitura puxou o freio de mão nos seus gastos. "Por questões orçamentárias, eu não tinha mais condições de levar a feira aos bairros, mas pretendo voltar com ela no próximo ano, num novo formato", afirma o diretor de Cultura. Esse novo formato, explica, vai seguir o da Praça Sesquicentenário, ou seja, as feiras serão realizadas semanalmente em cada bairro. "Assim, o público fica sabendo que vai ter feira toda semana e, como os produtores, pode se programar para ela."



Gastar pouco foi algo que Chicão teve de aprender a fazer, como se diz popularmente, na marra. O orçamento anual do órgão que dirige é irrisório, de apenas R$ 330 mil, o que dá R$ 27,5 mil mensais. Numa conta simples, considerando que Serra Negra tem cerca de 28 mil habitantes, o gasto com cultura com cada um deles, mensalmente, é de insignificantes R$ 0,98. "Não posso pensar em quanto tenho para investir, tenho de ser criativo, trabalhar com o orçamento disponível", afirma.

Como a Divisão de Cultura está vinculada à Secretaria de Educação, pelo menos a folha de pagamento dos seus seis servidores fica fora do orçamento anual de que dispõe. Mas meia dúzia de pessoas são suficientes para atender a demanda da cidade por atividades culturais? "Acho que agora nós estamos bem entrosados", diz Chicão. "De início tive algumas dificuldades, porque o pessoal que vinha para cá não havia trabalhado anteriormente com cultura, então foi preciso um pouco de tempo para aprender a lidar com o tema, mas agora todos estão adaptados, estão com o bichinho da cultura na veia", afirma.

E Chicão, que fez teatro durante anos, foi presidente de escola de samba e estudou turismo, o que tem aprendido nesse seu tempo à frente da Divisão de Cultura da cidade?

- Olha, eu acho que a arte, a cultura, elas transformam o ser humano.




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