//ARTE// E o público do cineclube vai se formando...

Cena de "Das Barrancas do Rio Cária", de Chico Carneiro, que será exibido dia 8 de agosto

Cíntia Marília

Chegamos ao fim de um primeiro ciclo, e assim como um bebê que começa a dar seus primeiros passos, seguimos um pouco trôpegos, mas perseverantes e curiosos pelo que está por vir. 

Timidamente, o público vem se formando, e a cada sessão conquistamos mais adeptos.
Os números, inicialmente, não parecem significativos, mas a presença e a troca com o público, ah, essa foi intensa e vivaz.

As lágrimas e sorrisos daqueles que se fizeram presentes, seus questionamentos e observações a respeito dos filmes exibidos, fizeram valer todo o trabalho e nos mostram que estamos no caminho certo.

Se apenas um espectador chegar a mim com uma reflexão ou mesmo críticas pertinentes ao filme, considerarei meu trabalho feito.

A função do cineclube é justamente a de se contrapor à cultura alienadora da massa. Oferecer ao público algo que ele não encontrará no Youtube, Netflix ou Google. E proporcionar não somente um momento de entretenimento, mas sim de cultura e conhecimento.

Claro que ter uma sala cheia é o sonho e objetivo de todo produtor, exibidor e realizador, seja ele independente ou não, mas muito mais que números, o Kanemo Cineclube busca liberdade de pensamento e qualidade de questionamento.

Um dos fatores determinantes para  o sucesso de um cineclube é a sua frequência, seu compromisso para com o público de que em determinado dia, hora e local, sua programação se manterá firme, mesmo que para apenas um espectador. Aos poucos, o público irá se formar e fortificar, a frequência se tornará um hábito, e o hábito uma necessidade.

Cumprindo nossa proposta, a cada mês traremos ao público uma mostra temática, com produções diversificadas, onde os títulos apresentados possuam relação entre si, não necessariamente uma ideia linear, mas que comunguem entre si.

Neste primeiro mês contamos com o apoio do Instituto Querô, que partilhou conosco um acervo bem variado de suas melhores produções, nos apresentando Santos pelas lentes de seus jovens realizadores.

Para este próximo mês já temos em mãos um acervo precioso, que, acredito eu, não chegaria facilmente às telas de cineclubes do Brasil.

Trata-se de uma seleção única de documentários do cineasta brasileiro Chico Carneiro, radicado em Moçambique desde os anos 80. Chico, como é chamado pelos amigos, contribuiu ativamente para a construção da história do cinema moçambicano, foi sócio fundador de uma das empresas pioneiras de produção cinematográfica do país, que não por acaso tem o mesmo nome de nosso cineclube, a Kanemo Produções e Comunicações. Atualmente, como diretor da Argus Filmes, empresa criada por ele, continua fazendo história, desenvolvendo filmes documentais com olhar e abordagens críticas às questões sociais e como elas se manifestam no cotidiano das pessoas, não somente em Moçambique mas no Brasil também.

Para quem gosta do gênero documental, essa seleção é imperdível!

Cíntia Marília é coordenadora do Projeto Kanemo

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