//SAÚDE// Projeto reduz mortalidade infantil

A enfermeira Roberta Gasparino (à direita) é a responsável pelo projeto

Salete Silva

A taxa de mortalidade infantil em Serra Negra que em 2017 chegou a zero, sendo considerada “fenômeno inexistente”, subiu para 2,94% no ano passado, com apenas um óbito registrado ao longo do ano. O porcentual, porém, está bem abaixo da média nacional de 12,8% a cada mil nascidos vivos, registrados em 2017 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  

O Projeto Amor Perfeito, criado pela prefeitura de Serra Negra para acolher gestantes, tem contribuído para evitar a mortalidade infantil no município. “Como a população é pequena, um único óbito puxa a taxa para cima”, explica a enfermeira responsável pelo projeto, Roberta Fernandes Gasparino. 

O trabalho de acompanhamento das grávidas começa nas primeiras semanas de gestação e se encerra ao fim dos nove meses, quando as mães recebem um kit de enxoval para o bebê, com fraldas, roupas e toalha de banho, entre outros produtos. O vínculo com os serviços de saúde se mantém depois do parto, permitindo que o atendimento se estenda durante o primeiro ano de vida da criança.

“Acompanhamos o aleitamento, a puericultura mensal do bebê, as vacinas e os exames necessários no primeiro ano de vida”, relata Roberta. As mães que frequentam o projeto tendem a procurar com regularidade as unidades de saúde para tirar dúvidas sobre o desenvolvimento do bebê.

Esse atendimento após o nascimento contribui para elevar a qualidade de saúde não só da criança como também da mãe em especial no puerpério, período que se inicia no parto e se estende pelo tempo em que os órgãos genitais e o estado geral da mulher levam para voltar às condições anteriores à gestação.

“Os cuidados no puerpério são importantes para a saúde da mulher, que se preocupa com o bebê nessa fase e acaba se esquecendo dela”, salienta. O projeto oferece informações sobre os cuidados com o bebê, aleitamento, consultas de revisão de parto, anticoncepção e planejamento familiar. Também é realizado um trabalho preventivo para detectar e evitar a depressão pós-parto.

O acompanhamento depois do nascimento do bebê é mais eficiente se iniciado nas primeiras semanas de gestação, quando a mãe dá início ao pré-natal nas unidades de saúde da rede municipal e é convidada a participar das reuniões do Amor Perfeito.

As consultas mensais do pré-natal e as reuniões do projeto são marcadas no mesmo dia para facilitar a vida da mulher. Adolescentes e trabalhadoras enfrentam mais dificuldade para frequentar o projeto. 

É mais difícil trazer para as reuniões, relata Roberta, as adolescentes, as mulheres que fazem pré-natal fora da cidade, as que não têm apoio familiar e as trabalhadoras que só têm os dias de folga para fazer o pré-natal.

O acompanhamento do bebê no primeiro ano de vida é mais difícil ainda quando as mulheres voltam a trabalhar. As empresas, admite a enfermeira, nem sempre apoiam ou facilitam o acesso das mulheres aos serviços de saúde.

Há dificuldades de colaboração e apoio das empresas até no pré-natal. A enfermeira relata o caso de uma gestante que trabalhava em um laticínio e carregava diariamente latões de leite, além de não poder marcar as consultas do pré-natal em dias de trabalho. Ela tinha de usar o dia de folga para ir ao médico.

Essas e outras situações enfrentadas pelas trabalhadoras são relatadas pelas gestantes nas reuniões do projeto. “Não é todo o empregador que entende a necessidade da gestante”, afirma.

As recomendações às empresas para colaborar e apoiar as funcionárias gestantes são encaminhadas às empresas por carta pelo serviço de saúde. Mas nem sempre, a enfermeira explica, há tempo e disponibilidade para negociar essas necessidades com as companhias.

A situação só não se agravou porque o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu este ano dispositivo da reforma trabalhista que admitia em algumas situações o trabalho de grávidas e lactantes em atividades insalubres.

Com a decisão, está valendo a regra anterior, que determina que a gestante deverá ser afastada de atividades em locais insalubres, devendo ser realocada em outro tipo de serviço. Quando não for possível, a empregada tem de ser afastada com o direito a receber salário-maternidade.

A melhor forma de parto, normal ou cesárea, é tema também abordado nas reuniões do Amor Perfeito. O projeto, informa Roberta, dá ênfase ao parto normal. As condições da gestante, como posição fetal e dilatação do colo uterino, ela ressalva, são avaliadas na maternidade.  

“Estimulamos o parto normal e a principal condição para isso é a gestante querer”, salienta.  Em geral, elas querem, diz Roberta, mas nem sempre é possível, porque evolui para cesárea. Não há, no entanto, agendamento de cesáreas ao longo da gestação. Entre a 39ª e a 40ª semanas, o serviço de saúde encaminha uma carta à maternidade do Hospital Santa Rosa de Lima, onde as condições da gestante são avaliadas e é decidido o tipo de parto.

O projeto foi criado a partir de um trabalho de conclusão de curso da enfermeira Sheila Baratela. Em dois anos, foram distribuídos 180 kits. As grávidas são atendidas pelo projeto nas unidades de saúde mais próximas de suas residências por diversos tipos de especialistas, além do ginecologista, como dentista, nutricionista, psicólogo e fisioterapeuta, entre outros.

Participam mulheres de diferentes faixas de renda e regiões  de Serra Negra. O projeto atende todas as áreas da cidade. Embora as regiões com maior demanda exijam mais recursos e mão de obra especializada, como o Bairro das Palmeiras e o Centro, que são mais populosos, a preocupação maior da enfermeira nesse momento tem sido com o atendimento no Bairro Nova Serra Negra, que está sem enfermeira responsável. “A informação que tenho é que estão providenciando”, afirma.

A meta é expandir o projeto para poder acompanhar as crianças durante toda a primeira infância, que vai até os três anos. Para isso, é necessário parcerias com instituições, escolas, além de criar um atrativo para as mães manterem o vínculo até essa idade.


Priscila: dúvidas
Para a agricultora Priscila Sarotto Lopes, que acabou de dar à luz à Lorena, de 45 dias, seria muito importante estender o programa para oferecer atendimento até os três anos. Priscila participou assiduamente do Amor Perfeito e atribui às informações e ao apoio de especialistas o bom encaminhamento de seu parto, a redução da ansiedade e agora os cuidados com a bebê nos primeiros dias.

“Sou mãe de primeira viagem, tenho muitas dúvidas e gostaria de contar com um atendimento para ela até os três anos de idade”, conclui.  

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