//SAÚDE// Hospital terá UTI ainda este ano

Apartamentos particulares foram inteiramente reformados

Salete Silva

Fechar parcerias para novos investimentos e conseguir a maior quantidade possível de acordos com empresas privadas de planos de saúde. Essa é a estratégia do Hospital Santa Rosa de Lima para equilibrar as contas e garantir a oferta de serviços aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).

Equipamentos importantes, como o de tomografia, já foram adquiridos graças às parcerias que também devem tornar mais eficientes e rentáveis os serviços de laboratório e até o fim do ano colocar em funcionamento uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Renato: manter UTI compensa
Essas são as expectativas de Renato Cazotto de Santi, que inicia um novo período de gestão como presidente da diretoria executiva da instituição. “A UTI deverá estar pronta até o fim do ano”, diz de Santi. Essa nova unidade, ele explica, é fundamental para atender ao SUS e aos convênios médicos.

“Muitos pacientes, em especial, os mais idosos, querem fazer suas cirurgias na cidade, mas acabam procurando outras unidades hospitalares fora daqui porque há procedimentos que só podem ser realizados onde há UTI”, relata. Com isso, o hospital perde pacientes e oportunidades de acordos com novos convênios.

O custo-benefício da manutenção de uma UTI, segundo De Santi, compensa. O investimento traz retornos financeiros positivos. Para colocar em funcionamento uma UTI, o hospital firmou parceria com a Sociedade de Apoio Humanitário e Desenvolvimento dos Serviços de Saúde (SHDSS), empresa responsável também pela administração dos serviços do Pronto Socorro (PS) do Santa Rosa de Lima.

Novo laboratório clínico


A aquisição do equipamento de tomografia e a reestruturação do laboratório clínico também são resultados de parcerias comerciais, explica o procurador jurídico da instituição, Leandro Tomazi.

“No caso do laboratório, o parceiro comercial irá investir na reforma do prédio e poderá explorar o serviço com porta aberta, ou seja, atender outros pacientes além dos do hospital”, explica Tomazi.

A cidade em breve, portanto, deverá ganhar um novo laboratório clínico que vai poder atender ao público em geral e que trará recursos ao hospital, uma vez que a instituição terá uma porcentagem de participação nos atendimentos realizados.         

“Vamos incentivar os serranos a utilizar o nosso laboratório, que também será uma fonte de recursos para o hospital ”, diz Tomazi. O acordo com a empresa para fornecimento do serviço de tomografia é semelhante.

O contrato é de dez anos, com a possibilidade de renovação. A empresa fez toda a reforma predial para instalar o equipamento e fazer o atendimento. O hospital não terá custo nem com a energia elétrica. 

“A empresa instalou um quadro de energia elétrica independente”, explica. O hospital vai ter também participação financeira nos atendimentos realizados nos serviços de tomografia. “Estamos abertos a parcerias com empresas interessadas em usar nossa estrutura física para todos os tipos de serviços médicos”, informa Tomazi.

Maria Helena: em busca de mais convênios
A mesma estratégia serve para a ampliação dos convênios. O hospital atende hoje 18 empresas de saúde privada e pretende ampliar esse número, segundo a administradora da instituição, Maria Helena Messias Zadra. 

“Já temos contratos com grandes companhias, como Bradesco, Unimed, Samaritano, Vera Cruz, Serprev, entre outras, e estamos buscando outros convênios desse porte”, afirma.

O hospital conta ainda com a contribuição de Organizações Não Governamentais (ONGs), como a Amigos do Bem Viver e a Reviver, que reformou e equipou os apartamentos usados pelos pacientes de saúde complementar. Os pacientes do SUS ocupam as enfermarias, que também, segundo Maria Helena, passaram por reformas.

Embora instalações diferenciadas para SUS e convênios tenham sido alvo de críticas de serranos, Tomazi explica que para garantir o atendimento do serviço público de saúde é preciso garantir o ingresso de recursos por meio da iniciativa privada e os convênios são a forma mais rentável para isso. “Temos de ter esse diferencial para garantir o atendimento a todos”, salienta.

Nem o repasse mensal da prefeitura de R$ 420 mil nem os pagamentos dos serviços de alta complexidade pelo SUS, sem reajuste há anos e abaixo do preço da tabela de serviços médicos, são suficientes para cobrir as despesas mensais do hospital

“Se recebemos R$ 100 mil do SUS, gastamos R$ 200 mil”, calcula de Santi. As despesas cresceram nos últimos anos, com o aumento da parcela de pacientes atendidos pelo SUS, que subiu de 85% para 92% dos procedimentos e consultas realizados pela instituição.

O crescimento é consequência da crise econômica e do desemprego, que levaram muitos usuários a abandonar os planos de saúde privados e a utilizar os serviços de saúde pública.

Governo do Estado não ajuda


Cerca de 60% dos atendimentos hospitalares no país, lembra Tomazi, são realizados por instituições filantrópicas, ou seja, as santas casas. O Santa Rosa de Lima recebe recursos federais e em especial, municipais.

Não há nenhuma contribuição do governo do Estado de São Paulo. O Estado não tem obrigação legal de contribuir e os governos dos últimos anos no Estado de São Paulo, comandados por governadores do PSDB, alegaram falta de recursos para contribuir espontaneamente.

Leandro: queixas do PS diminuíram
Em todo o Circuito das Águas não há um só hospital do Estado. “São Paulo investe numa rede própria, o Ambulatório Médico de Especialidades, o AME, e deixa de fora as santas casas”, lamenta Tomazi.

De todas as esferas de governo, o Estado é o que menos contribui para a saúde municipal. Não há incentivo estadual nem para quitação de dívidas.

“Se não quer mandar dinheiro por falta de programa, ajude o hospital a regularizar a parte fiscal pelo menos', diz Tomazi. "Se ajudasse nisso, já andaria de outra forma”, desabafa.

O governo federal arca com procedimentos de alta complexidade, mas paga um terço do custo desse tipo de serviço. A área de urgência e emergência fica a cargo do município.

O problema do Pronto-Socorro


O gargalo do atendimento é justamente no pronto-socorro. Passam por essa área cerca de 150 pessoas por dia. Mas a maioria dos pacientes, segundo o presidente da instituição, seria casos de posto de saúde, não de pronto-socorro.

Mesmo assim, de Santi rebate críticas de pacientes, em especial em relação à demora do atendimento. “A espera em geral, ele calcula, é de dez minutos, com exceção de quando aparecem emergências.

“A questão pronto-socorro é cultural, sazonal e complicada”, admite Tomazi. Segundo ele, dos 150 atendimentos diários, apenas 10% seriam de natureza pronto-socorro. 

O maior fluxo de pessoas que passam pela emergência, Tomazi avalia, deveria estar na rede básica. Não está por inúmeros motivos, que vão desde a reclamação de falta de médicos até de limitação de consultas.

“As pessoas não querem esperar consultas, o que é esquisito, porque na rede particular é preciso agendar uma consulta também”, compara.

Um fator cultural constatado pela instituição é que o pronto-socorro fica sobrecarregado nas segundas e terças-feiras na parte da manhã e à tarde, horários posteriores ao fim de semana.

“Infelizmente há uma pressão muito grande para fornecimento de atestado médico, o que atualmente nós limitamos”, informa Tomazi.

Os médicos estão autorizados a fornecer atestado somente aos pacientes sem nenhuma possibilidade de retomar o trabalho. O hospital mantém dois médicos no período diurno entre 7 horas e 19 horas.

No período noturno há um plantonista. Apesar de casos de reclamações ganharem projeções nas redes sociais do município, as queixas de pacientes diminuíram nos últimos dois anos de forma significativa, garante Tomazi.

O atendimento no pronto-socorro é também tema com frequência de discussões dos vereadores na sessão semanal da Câmara Municipal. Recentemente, vereadores municipais encaminharam requerimento ao prefeito Sidney Ferraresso (DEM) solicitando informações sobre a empresa contratada para administrar o pronto-socorro.  

Tomazi informa que todos os contratos são públicos e passam por auditorias, incluindo do Tribunal de Contas do Estado, que esporadicamente faz diligências para auditoria.

Até o ano passado eram realizadas reuniões periódicas de abertura e apresentação das contas do hospital aos vereadores. A instituição, ele informa, suspendeu a iniciativa por falta de comparecimento dos legisladores municipais.

Entidade filantrópica, com 80% dos seus leitos destinados aos pacientes do SUS, o Santa Rosa de Lima é administrado por uma diretoria executiva, constituída por quatro diretores, que contam com apoio do conselho fiscal e assembleia geral e com uma administradora, que comanda 95 funcionários administrativos.

A instituição tem ainda duas diretorias: técnica, cujo titular é o médico ortopedista Kao Chien Hui, e a clínica, atualmente, sem titular. 

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